Sofia Mirpuri em Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente © Uma produção de Sofia Mirpuri

Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente é a estreia deste fim de semana na RTP2

Estreia na RTP2 no próximo dia 15 de julho, “Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente” o novo filme com Sofia Mirpuri. 

O novo filme independente de Tiago Durão, conhecido pelo seu trabalho em “Eunice ou Carta a uma Jovem Atriz”, intitulado “Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente” chega finalmente ao pequeno ecrã este fim de semana. A nova longa-metragem foi predominantemente rodada na região da Beira Interior, numa iniciativa que coincidiu com  lançamento da Beira Interior Film Commission. A co-produção deste projeto contou com a participação da ST Arte, liderada por Afonso Fontão, uma figura reconhecida no Interior Norte de Portugal pelo seu contributo para a descentralização do Cinema Português.

Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente” resulta de uma colagem feita a partir de textos de Federico Garcia Lorca, Luís Vaz de Camões e George Buchner e que conta com influências marcantes de “Vale Abraão” de Manoel de Oliveira, da cinematografia de Andrei Tarkovsky, da pintura impressionista, da Nouvelle Vague Francesa e da estética Brechtiana. O filme aproxima-se ainda também da dramaturgia dos clássicos e pela lírica Camoniana. A sinopse oficial pode ser lida abaixo:

Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente traz-nos uma história que se passa num pequeno povoado, num Portugal rural e serrano, onde chegam gentes de toda a região trazidas pelo dobrar dos sinos de um velório. Maria é uma jovem natural daquele povoado, insatisfeita com o seu casamento com João, que nunca lhe dera um filho, seu desejo maior. Por honra do velório, chega Carlos do Rosário, e a sua chegada e o comportamento emancipado de Maria geram desconfiança nos demais. Maria, mulher séria, bela e virtuosa, objecto de adoração por todos os homens do povoado, odiada pelas mulheres do campo, desperta em João a fraqueza do ciúme, e em Carlos a fraqueza de um desejo antigo.

Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente” encerra em si o redesenhar de estéticas clássicas e técnicas conhecidas no sentido de abrir caminho a uma nova abordagem estética no cinema. O papel principal coube à atriz Sofia Mirpuri (protagonista de “Alice, Nova Iorque e outras Histórias”, com quem falámos no passado), com quem tivemos uma curta conversa sobre este lançamento que pode significar, uma potencial viragem na produção de novos filmes por cidades para além de Lisboa e Porto. A atriz é também a produtora do filme e rapidamente percebeu o potencial da história e daquilo que se queria contar.

MHD: Como surgiu a ideia para rodar “Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente” na Beira Interior, região que certamente poderá oferecer oportunidades para as novas vozes do cinema português?

Sofia Mirpuri: A história que queríamos contar passa-se no meio rural, logo aí íamos sair de um dos grande centros urbanos. Houve então uma conversa com o Afonso Fontão (da ST Arte e que estava nessa altura a iniciar a Beira Interior Film Comission) e pareceu-nos o momento ideal para unir forças. Decidimos rodar na aldeia de xisto de Monsanto – aquela que se considera ser a aldeia mais portuguesa de Portugal -, mas também em Vila Velha de Ródão, Sobral do Campo e Idanha-a-Nova. Havia também esta necessidade de descentralizar o cinema português e de levá-lo a outras partes do país. Ter outros cenários que não as cidades principais e ter outras pessoas a trabalhar em cinema.

Portanto, diria que foi uma mistura destas três motivações: a história, a necessidade que sentimos para descentralizar o cinema português e uma questão de oportunidade. Foi igualmente desafiante porque gravámos no verão com mangas compridas e um sol intenso. Mesmo assim, temos paisagens lindíssimas no nosso país e parte do nosso trabalho como profissionais do cinema é ajudarmos a mostrar o potencial que Portugal tem. Percebemos isso quando as grandes produções internacionais passam por cá.

MHD: Como descreverias a tua personagem e como foi conciliar uma vez mais a arte de representação com a produção?

Sofia Mirpuri: Para a construção da Maria inspirei-me muito em personagens shakespearianas e em personagens do Garcia Lorca, Yerma, entre outras. A Maria tem um só desejo: ter um filho. É algo que não consegue porque o marido dela não lhe quer dar filhos. É uma relação onde não há cumplicidade, não há amor.

A Maria é uma mulher que se tornou amargurada pelas circunstâncias da vida, e apresenta-se ao mundo com uma postura muito recta e dura, mas tudo isso é uma máscara que encobre a menina suave e alegre que outrora fora, e que se tornou frustrada por ter levado uma vida que não queria, ao lado de um homem que não a quer, preso num casamento sem amor e sem prol. É uma mulher forte e resiliente, mas muito dona do seu nariz, que tenta desafiar as normas e as regras. E é uma mulher que respeita muito os seus princípios e os seus valores

MHD: Como foi conciliar mais uma vez a arte da representação com a produção?

SM: Este foi um desafio que me colocou muito à prova. Por vezes tornava-se complicado, porque a personagem tem uma grande carga dramática e era preciso prepará-la bem e estar a 100% concentrada. Além disso para este filme o realizador pretendia um estilo de representação muito diferente daquele a que estava habituada: um estilo mais expressionista, antirrealista. Por isso, foi um desafio ainda maior que exigiu muito mais preparação e foco. Mas como também era produtora e tinha de estar em cima de toda a logística, foi preciso um grande jogo de cintura e confesso que não foi nada fácil nem a situação ideal, mas foi um desafio superado e sem dúvida uma aprendizagem.

MHD: Voltas a colaborar com o Tiago Durão. Como foi novamente trabalhar com o realizador desta vez em Portugal?

SM: Este filme foi gravado entre 2019 e 2020 e surgiu na sequência de gravação do “Alice, Nova Iorque e Outras Histórias“. Estreámos em abril e começamos a pensar neste filme em maio de 2019. Mal chegámos de Nova Iorque, rodámos os interiores em Lisboa e depois fomos para a Beira Interior. Este foi um processo totalmente diferente da experiência que tivemos no Alice, até porque este é um filme muito particular, que espelha a visão do realizador daquilo que ele crê que o cinema deve ser: não um meio de entretenimento mas uma forma de arte e expressão artística. Por isso este é um filme com uma personalidade muito própria, que interliga e recicla várias estéticas clássicas e pós modernistas e que incorpora uma multidisciplinaridade artística que da primazia à poética da composição e da mise en scene, fugindo totalmente ao cinema comercial a que hoje assistimos.

No elenco deste filme encontram ainda Sérgio André Coragem, Beatriz Brás, Teresa Côrte-Real, Joana Brito Silva, Patrícia Duarte, João Bandeira, Sofia Raposo e Victhor Borren Dias. A música original é composta por Nuno de Sá da Lisbon Film Orchestra. “Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente” estreia dia 15 de julho, às 23h35 na RTP2. Não percas!

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