©Playtime

Festa do Cinema Francês ’25 | O Último Suspiro – Análise

Quem melhor para pensar a morte, ou antes, o final da vida, do que Costa-Gavras, cineasta grego-francês de 92 anos? Em “Le Dernier Souffle”, um drama pujante e filosófico, em português traduzido para “O Último Suspiro”, é mesmo isso que faz, partindo de um ponto de vista particular mas ocupando-se de personagens caso a caso.

A obra teve direito à sua primeira exibição nacional na Festa do Cinema Francês, e conta já com distribuição para Portugal em data breve a anunciar.

Pub

Lê Também:
Festa do Cinema Francês '25 | Nouvelle Vague - Análise

Com uma rota de festivais já respeitável, “O Último Suspiro”, inicialmente exibido pela primeira vez em 2024 no Festival de San Sebastian, deverá chegar a Portugal (às salas comerciais) ainda em 2025.

O Último Suspiro: cinema de Costa-Gravas pensa a vida e a morte

“Le Dernier souffle” é uma obra inteligente, na qual um médico de cuidados paliativos e um filósofo que escreveu já sobre a vida da terceira idade são os nossos guias para compreender o que é viver e morrer com dignidade – uma questão cada vez mais importante tendo em conta a prolongada esperança média de vida: em França, na Europa, e em muitos pontos deste globo.

Pub

O que diferencia “O Último Suspiro” de tantos outros filmes que abordam doenças terminais e o fim da vida, é a sua perspectiva refrescante. Em vez de conhecermos um doente terminal, acompanharmos a sua jornada e família e acabarmos inevitavelmente a chorar desalmadamente a sua partida, eis que Costa-Gravas nos deixa uma proposta distinta.

Pub

As nossas âncoras são, como referido, o médico de cuidados paliativos Augustin Masset (Kad Merad) e o filósofo Fabrice Toussaint (Denis Podalydès), que se interessa cada vez mais pela temática dos cuidados em fim de vida, em parte devido a uma curiosidade académica e em grande parte devido ao confronto recente com uma possível doença grave na sua própria vida.

Há que dizer que a obra de Costa-Gravas é bastante honesta, repleta de tato e emotiva, mas nunca gratuita, lamechas ou excessivamente melodramática. O cineasta escolhe mostrar-nos sempre o mais belo ângulo para a vida próxima da morte, celebrando a importante da dignidade e das pequenas vitórias: morrer em casa, poder partir em paz, poder dizer adeus a companheiros de quatro patas, seja o que for essencial para o/a doente que vemos na cama de hospital.

Pub

“O Último Suspiro” termina numa nota muito positiva, esperançosa, combativa e, ao longo de toda a longa-metragem, há sempre muito espaço para a reflexão. Espaço para colocar perguntas e também para não recear as suas respostas. E o mais extraordinário é que a obra tenha sido realizada por alguém na casa d0s 90, alguém que brinca já com a ideia da morte e que parece a postos para a abraçar sem medo.

Morrer com dignidade na Festa do Cinema Francês

©Playtime

No decurso de “”Le Dernier Souffle”, o que não faltam são várias personagens que se sucedem no ecrã, vários momentos de confronto com o fim inevitável, alguns por parte de personagens na terceira idade, alguns cruelmente mais jovens e reticentes em relação a partir. Sendo emotivo, o filme nunca é gratuito e a sua graça vive mesmo neste equilíbrio.

Pub

Se tivéssemos de criticar alguma coisa, seria a natureza algo episódica que o filme vai adquirindo. Naturalmente, ao conhecermos caso após caso, entre muitos dos doentes do Dr. Augustin, há algo que se ganha com a diversidade de vozes e o olhar clínico e analítico que vai surgindo. Mas, por outro lado, acabamos por ter uma visão parcial e fragmentada sobre cada uma das vidas destas personagens. O nosso conhecimento acerca delas nunca é pleno, mas tal é apenas uma consequência direta do formato escolhido.

Lê Também:
26.ª Festa do Cinema Francês | Glamour, veneno e a Nouvelle Vague reinventada

Pub

“Le Dernier souffle” teve direito a uma sessão única na Festa do Cinema Francês, festival repleto de momentos interessantes e primeiras exibições nacionais, refletindo o melhor da filmografia de um país no último ano. A Festa continua em Lisboa até dia 12 de outubro, acontecendo simultaneamente no Porto.

Continuaremos a trazer impressões acerca da versão lisboeta. Mas atenção, a Festa do Cinema Francês é das programações cinematográficas mais abrangentes do nosso país e passará posteriormente por outros pontos de Portugal, tais como Cascais, Setúbal, Almada, Beja, Coimbra e Lagos.

Pub
O Último Suspiro

CONCLUSÃO

“Le Dernier souffle” ou “O Último Suspiro” é um filme profundamente humanista, que pensa a pesada questão: “qual é uma boa forma de morrer?” e “o que é morrer bem e com dignidade?”. Emotivo mas não excessivamente melodramático, este estudo oscila entre o clínico e o filosófico com notável sucesso.

Pub
Overall
75
Sending
User Review
0 (0 votes)

About The Author


Leave a Reply