A Herdade | © Leopardo Filmes

Festival de Veneza 2019 | De A Herdade, a sul do Tejo até ao Lido

‘A Herdade’, de Tiago Guedes, produzido por Paulo Branco, vai competir no 76º Festival de Veneza. A curta ‘Cães Que Ladram aos Pássaros’, de Leonor Teles compete na secção Orizzonti. Curiosamente ambos os filmes são apresentados a 5 de Setembro.

Há 14 anos que um filme português não estava na competição oficial, à conquista de um Leão de Ouro. Em 2005, estiveram na competição da Mostra de Veneza, e em simultâneo: ‘Espelho Mágico’, de Manoel de Oliveira e ‘O Fatalista’, de João Botelho. Um ano antes o festival tinha prestigiado com um Leão de Ouro de Carreira, o ‘mestre’ Manoel de Oliveira. Apesar das datas distanciadas pode-se dizer que a Mostra seja talvez o festival de primeira linha que mais tem prestigiado os cineastas portugueses: João César Monteiro ganhou um Leão de Prata de Melhor Realizador, em 1989 com ‘Recordações da Casa Amarela’, Pedro Costa o Prémio de Melhor Fotografia por ‘Ossos’, e por último João Pedro Rodrigues, apesar de não ter ganho nada tornou-se uma descoberta internacional com ‘O Fantasma’, em 2000.

Depois de muitas contrariedades e polémicas bastante noticiadas, a última a propósito de ‘O Homem Que Matou Don Quixote’ de Terry Gillian, esta Veneza 76 parece funcionar como um comeback em força e uma espécie de redenção internacional para Paulo Branco. Já que ‘A Herdade’, embora realizado por Tiago Guedes e com argumento do escritor Rui Cardoso Martins (em colaboração com Gilles Taurand), conta uma história portuguesa que têm um forte cunho pessoal do produtor português. Protagonizado por Albano Jerónimo (e ainda Sandra Faleiro, Miguel Borges, João Vicente, João Pedro Mamede, Ana Vilela da Costa, Rodrigo Tomás, Beatriz Brás), um grande proprietário — relata a sua hábil gestão fundiária, em tempos conturbados — o filme de Tiago Guedes segue a saga de uma família portuguesa proprietária de um dos maiores latifúndios da Europa, situado na margem sul do rio Tejo.

A Herdade
Albano Jerónimo é um proprietário de uma vasta herdade a sul do Tejo, em tempos conturbados. | © Leopardo Filmes

O filme convida-nos a mergulhar nos segredos desta família e das suas grandes terras, fazendo ao mesmo tempo um mosaico histórico, político, social e financeiro de Portugal, que vai dos anos 40, atravessa a Revolução do 25 de Abril e o PREC, até aos dias de hoje. Curiosamente Alberto Barbera referiu-se ao filme português como tendo algo de semelhante a ‘1900’, de Bernardo Bertolucci. Exagero ou não, o elogio tem criado aqui muito entusiasmo à volta da estreia de ‘A Herdade’, marcada para 5 de Setembro para a imprensa, seguindo-se de imediato a sua antestreia internacional na passadeira vermelha do Palácio dos Festivais. De qualquer modo, ‘A Herdade’ já tem estreia prevista nas salas portuguesas, em meados de Setembro, pouco depois do final da 76ª Mostra de Veneza e do Festival de Toronto, onde também está na Selecção Oficial, em apresentação especial.

Francisca
‘Francisca’, de Manoel de Oliveira, produzido por Paulo Branco, em cópia restaurada. | © V.O. Filmes

Na secção Venezia Classics será igualmente mostrada a cópia restaurada pela Cinemateca Portuguesa do fabuloso ‘Francisca’, de Manoel de Oliveira, produzido igualmente por Paulo Branco e que já que estamos a falar de comparações, um filme que remete  para ‘O Leopardo’, de Luchino Visconti.

No entanto, a representação portuguesa não se fica por aqui, já que na competição de curtas-metragens da secção Orizzonti, estará ‘Cães que Ladram aos Pássaros’, de Leonor Teles. O filme inteiramente rodado no Porto, acompanha os dias de verão de Vicente e da sua família, obrigados a sair da sua casa no centro do Porto, por força da especulação imobiliária. As aulas terminaram e sente-se uma azáfama no ar. Os turistas enchem as ruas e os cafés do Porto. O velho e decadente é agora vendido como ponto alto da gentrificação. Vicente, ele próprio, um puto do Porto, pedala pela cidade montado na sua Órbita azul e observa a transformação urbana a cada dia que passa. O Porto já não é o mesmo e ele também não. Entre família e amigos, Vicente vive com expectativa os primeiros dias de férias, que trazem a promessa de mudança e a incerteza de uma vida nova. Segundo as notas de produção distribuídas à imprensa: O filme toma uma cidade que não é a minha, um lugar que me é desconhecido e não me pertence. No entanto, não deixou de ser, por isso, menos pessoal que os filmes anteriores. A ligação que criei com a família que filmei mantém-se e parece ser essa a constante no meu trabalho: as pessoas e a minha relação com elas, afirma a realizadora.

Cães Que Ladram aos Pássaros.
© Uma Pedra no Sapato

Depois de ‘Balada de um Batráquio’ (Urso de Ouro de Melhor Curta-Metragem na Berlinale 2016), esta é a segunda curta de Leonor Teles, realizadora que estreou no início deste ano, no circuito comercial, a longa documental ‘Terra Franca’ (Prix International de la SCAM no Cinéma du Réel, Prix de La Ville d’Amiens at Festival d’Amiens e Mejor Opera Prima Internacional no Festival Mar del Plata). ‘Cães que Ladram aos Pássaros’ foi comissariado pela Câmara Municipal do Porto no âmbito do projecto Cultura em Expansão, produzido por Leonor Teles e Uma Pedra no Sapato e com promoção internacional da Agência da Curta- Metragem.

JVM em Veneza

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