La Verité | © IFC Films

Festival de Veneza 2019 | ‘La Verité’: Paris, I Love You

O 76º Festival de Veneza, abre oficialmente daqui a pouco com ‘La Vérité’, do japonês Hirokazu Kore-eda, um irónico drama familiar, filmado em Paris com Deneuve e Binoche a fazerem de mãe e filha respectivamente.

O Festival de Cinema de Veneza 2019, que decorrerá como habitualmente no histórico Palazzo del Cinema, no Lido, abre hoje (28 de Agosto), com a sessão oficial a decorrer agora, com ‘La Vérité’ a mais recente obra do realizador japonês Hirokazu Kore-eda, que ganhou o ano passado a Palma de Ouro de Cannes com ‘Uma Família de Pequenos Ladrões’. Hirokazu Kore-eda, estreia-se na produção europeia com um filme falado em francês e inglês, depois de uma extensa filmografia japonesa, entre documentários e longas-metragens de ficção, que inclui, citando apenas as obras mais recentes: ‘Tal Pai Tal Filho’, (2013), ‘A Nossa Irmã Mais Nova’ (2014), ‘Ninguém Sabe’ (2014), ‘Depois da Tempestade’ (2016) e ‘O Terceiro Assassinato’ (2017).

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La Vérité
La Verité | © IFC Films

‘La Vérité’, é um drama, que mais parece uma peça de teatro, sobretudo porque insiste nuns bons diálogos e raramente sai para os exteriores. Fá-lo apenas para elogiar a cidade de Paris, e a luz da cidade no inverno. Trata-se de um filme de actores com um elenco extraordinário, mas mais não passa de uma pequena fábula familiar, que bem poderia ser mais um segmento do franchising ‘Paris, Je T’aime’. A abertura de Veneza ficou efectivamente um pouco além das expectativas. Kore-eda tem desculpa, até porque não deve ter sido fácil enfrentar um desafio de filmar no exterior, numa língua que não é a sua e com um elenco totalmente internacional.

Fabienne (Catherine Deneuve), uma veterana estrela do cinema que, apesar da idade, ainda reina sem oposição na sua corte de admiradores masculinos e velhos amores. Quando decide publicar um livro de memórias, — algumas de certo modo inconvenientes para os que a rodeiam ou antes rodearam — a sua filha Lumir (Juliette Binoche) e o seu genro americano (Ethan Hawke) viajam de Nova Iorque até Paris, com a neta Charlotte, para a reverem, numa reunião familiar que não tarda a descambar num confronto familiar, comum na verdade a muitas outras famílias: são ditas verdades inconvenientes, ajustadas contas, confessados amores nunca antes revelados, ressentimentos e frustrações do passado. Contudo, na verdade nada demais que ponha a família em ruptura ou que crie grande tensão nos espectadores a não ser algumas gargalhadas sumidas. Tudo fica num ambiente bastante morno, como se as personagens vivessem num mundo fechado só deles – com as suas mentiras, orgulhos, remorsos, tristezas, alegrias e finalmente a reconciliação — e sem um olhar para o futuro, no mundo exterior.

Curioso é que em ‘La Vérité’ (A Verdade), Catherine Deneuve interpreta um papel que não lhe é estranho: dá vida a Fabienne uma grande estrela do cinema francês, com todos os tiques e fragilidades dela própria e até da sua vida pessoal. O filme funciona como uma reflexão poética sobre a relação de uma mãe talentosa e de uma filha, que por mais que se esforce não se consegue livrar da sombra da progenitora e uma crónica sobre a complexa e contraditória  — ao nível das emoções e sentimentos — profissão de actriz. Aliás ‘La Vérité’, é uma produção francesa que pode igualmente funcionar como uma homenagem da indústria de cinema a um dos últimos papéis de Catherine Deneuve, que se sente aos poucos a perder as suas faculdades e beleza. ‘La Vérité’, é por isso – e assistimos a isso no filme – uma espécie de passagem de testemunho a uma geração de actrizes mais novas.

JVM em Veneza

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