Figura de Estilo: O Lobo de Wall Street

 

O Lobo de Wall Street” não é só uma vénia ao “power suit”. É o primeiro filme de época sobre os anos 90.

Pela primeira vez, não olhamos para a última década do século XX como a contemporaneidade, e o sentimento de nostalgia já está distante o suficiente para encarar a era com objetividade.

O que nos leva ao reino do “power suit”. O facto de uma escolha de Moda poder influenciar a noção de poder foi uma novidade dos anos 80 que atingiu o seu auge em peças rígidas, grandes, de aspeto quase quadrado, conjugadas com calças com um número exagerado de pregas. E o rei dos fatos de poder foi Giorgio Armani. A simples menção da etiqueta indicava um tipo de estatuto que todos os recém-chegados a Wall Street almejavam atingir.

Como Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), que chega a corretor com um fato cinzento, de aspeto barato, camisa branca e gravata de padrão geométrico, num estilo que colide fortemente com as peças azul-marinhas às riscas, casaco elegantemente trespassado, lapelas grandes e gravata vermelha do carismático Matthew McConaughey.

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E é esta sofisticação, diretamente retirada dos arquivos Armani por Sandy Powell (a figurinista que ganhou Óscares por “A Paixão de Shakespeare” e “O Aviador”, tendo ainda no currículo mais sete nomeações – por películas como “Gangues de Nova Iorque” ou “A Invenção de Hugo”), que Belfort atinge. Sendo que a fita de Scorsese cobre mais de uma década de deboche, a evolução do guarda-roupa é um dos pontos mais interessantes da perspetiva estética. Começando com fatos de pouca qualidade e progredindo para exemplares da marca italiana, a personagem de DiCaprio atinge o auge quando os fatos são feitos à medida, por um alfaiate formado em Saville Row (reza a lenda que Belfort tinha o seu alfaiate privado, altamente qualificado). Os tempos de lazer poderiam ser retirados de um anúncio da Ralph Lauren de 1996: pólos, caquis com duas pregas, mocassins Gucci e wayfer Ray-Ban desfilam no espetáculo de marcas que espelhavam um estatuto ávido por não se esconder.

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O universo feminino, esplendidamente representado por Margot Robbie, viveu de Chanel e Armani, Prada e um look total Versace que, infelizmente, se vê apenas de relance quando Naomi entra inadvertidamente numa orgia gay: botas até à coxa com fechos dourados, calças justas de cintura subida e um casaco que parecia pertencer a um domador de leões completavam um uso exagerado de luxo que, apesar da ostentação óbvia, não caía na vulgaridade. De facto, Robbie levou muito a sério a caracterização de Naomi: para além das unhas acrílicas e o bronzeado artificial, Margot teve de se espremer (literalmente) para usar algumas das peças vintage que Powell encontrou em lojas e mercados. Não queremos revelar demais, mas há uma história que envolve botas Prada dois números abaixo, oléo, pó de talco, muito esforço e um ataque de choro porque, no fim, não entraram na cena.

Se tudo isto foi legal? Ao contrário da vida de Belfort, sim.