O ator italiano Stefano Accorsi em "Capitães de Abril" (2000), de Maria de Medeiros © Alia Film

Filmes sobre o 25 de abril para celebrar a Revolução dos Cravos

[tps_header]

A Magazine.HD celebra a Revolução dos Cravos do 25 de abril de 1974 com um conjunto de filmes portugueses para ver durante a quarentena. 

25 de abril é o Dia da Liberdade…. Desde 1974 e até 2019, a Revolução dos Cravos foi celebrada na rua e, na Assembleia da República, sempre com aglomerados de cidadãos portugueses de diferentes cores políticas, a recordarem um dia marcante do fim da ditadura salazarista. Juntos, celebrávamos uma das jornadas mais importantes da história contemporânea portuguesa, que nos permitiu abrir mais aos outros e abrir-nos, indubitavelmente, ao mundo.  Porém, neste ano de 2020, em 46º aniversário do 25 de abril de 1974, celebraremos a Revolução de quarentena, em casa. Não é o queremos, mas é o que deveremos fazer. O que todos deveriam fazer….

Celebrar o 25 de abril não tem de ser feito presencialmente, pelo menos neste ano onde andar na rua implica afastar-se dos outros. Não podemos (ou não se recomenda) abraçar como antes, não podemos beijar como antes, não podemos tocar como antes. Verdade seja dita, o 25 de abril não tem de ser celebrado sempre da mesma maneira, porque se assim for, estaremos a torná-lo uma celebração idêntica a todas as outras: repetitiva, fatigante e habitualmente ignorada por milhões de portugueses nascidos nos anos pós-Revolução. O 25 de abril de 1974 pode ser celebrado igualmente através das imagens, com toda a força a elas subjacentes.

[/tps_header]

“Capitães de Abril”, um dos filmes sobre o 25 de abril

25 de abril
Stefano Accorsi e Joaquim de Almeida em “Capitães de Abril” (2000), de Maria de Medeiros | © Alia Film

Seja através de fotografias, de reportagens feitos pela RTP na época, de vídeos criativos originais carregados no Youtube, em histórias e publicações nas redes sociais, e obviamente pelas das imagens em movimento da sétima arte, poderemos festejar, justa e dignamente, o 25 de abril, cada um à sua maneira. Porque as imagens cinematográficas, de mãos dadas com as novas tecnologias, tornaram-nos conscientes, de forma heterogénea, desse dia e da sua importância. Não precisamos de sair à rua e fazermos parte da Revolução. Quantas vezes, sentado no teu sofá, refletes sobre a vida? Sobre os teus pensamentos mais pessoais? Sobre quem foram os teus antepassados e o que para eles significava sair à rua? Quantas vezes estás sozinho em casa, distante do mundo, e pensas nas liberdades que tens e naquelas que sonhas conquistar? Quantas vezes pensas nos teus direitos e deveres enquanto cidadão?

Estar em casa não é sinónimo de pesadelo alucinante. Estar em casa também nos permite pensar nas liberdades conquistadas – na liberdade de expressão, na liberdade comunicativa, na liberdade cultural, na liberdade intelectual, na liberdade política, na liberdade religiosa, na liberdade sexual, na liberdade tecnológica, etc. etc. E não apenas num domínio local, ou seja português, mas também do ponto de vista europeu e mundial. Quantas vezes pensamos nas liberdades que os outros seres humanos têm ou não direito? Afinal, o que é a liberdade para mim, pode não ser liberdade para ti…, pode não ser ainda a liberdade dos outros. Pensar nas liberdades também é uma forma de celebração, de fazer a revolução, porque ela começa dentro de nós. Mas retomando à importância das imagens e dos filmes…. Curiosamente, quando vemos um filme, também vemo-lo no sentido mais íntimo.. O cinema tem o poder de tocar a alma, a essência do nosso ser….

Enfim, todas estas questões, e tudo aquilo que elas representam, poderão ser ponderadas ao assistires um conjunto de filmes portugueses sobre o 25 de abril de 1974 e ainda outros relacionados com a data. Todos, de uma forma ou de outra, retratam aquela época de inerente fim do Estado Novo, e da tão ambicionada conquista da democracia. Considerámos não só filmes que abordam diretamente a Revolução dos Cravos, mas também filmes sobre o Colonialismo e a Guerra Colonial Portuguesa (1961 – 1974), que afinal teriam um ponto final – ou perto disso – com a Revolução.

O primeiro filme que destacamos da lista é precisamente de 1974, “O Mal Amado”, de Francisco Matos Silva, recentemente disponibilizado online pela Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema. Este foi o último filme alvo de censura em Portugal, totalmente proibido quando submetido aos órgãos de censura em fevereiro de 1974. Ironicamente, foi o primeiro filme português lançado depois do 25 de abril, em a 3 maio de 1974, tornando-se um sucesso comercial. O filme questiona esse tempo de uma geração anterior e o tempo da geração futura, democrática, sendo realizado por uma geração de artistas que queria antes de tudo proclamar a liberdade das imagens.

Estamos em casa sim, mas não esquecemos o dia 25 de abril... Nem nunca esqueceremos. E nos próximos anos voltaremos a celebrá-lo juntos, lá fora ou dentro de casa, porque a liberdade não é um espaço físico é um sentimento. Coloquem os cravos nas janelas e gritem Viva a Liberdade! Viva Portugal! E viva o cinema português, afinal é ele que, subtilmente, tem enaltecido a nossa história e fortalecido a nossa memória sobre a Revolução.

Antes de conheceres os filmes sobre o 25 de abril que temos para ti, entre eles o filme sobre o 25 de abril realizado por Maria de Medeiros, assiste, abaixo, ao documentário do Canal História, “25 Minutos de uma Revolução”:

Não sabes como celebrar o 25 de abril em 2020? Aproveita para conheceres uma série de filmes relacionados com o 25 de abril recomendamos pela MHD. Segue as setas. 




O Mal Amado (1974), de Francisco Matos Silva

filmes na tv
João Mota e Maria do Céu Guerra em “O Mal Amado” © CPC – Centro Português de Cinema

O Mal Amado segue a história do jovem João, de vinte e cinco anos, que abandona os estudos e começa a trabalhar num escritório. Cedo desperta atenção da sua chefe Inês que em João relembra o irmão morto em combate durante  guerra colonial. Enquanto diverte-se com a chefe, João também começa a namorar a colega Leonor. Segundo a Cinemateca Portuguesa, “O Mal Amado” ou a inquietação da juventude estudantil em vésperas do 25 de Abril. O desencanto da pequena burguesia e as suas oscilações ideológicas, na figura de um jovem que procura romper com a sua classe mas a ela volta sempre, tendo como cenário o bairro de Campo de Ourique. Proibido pela censura e só estreado depois do 25 de Abril, mais concretamente a 3 de maio.




Torre Bela (1975), de Thomas Harlan

25 de abril
Cartaz de “Torre Bela” (1975) © Films Albatros

Documento único e extraordinário sobre a ocupação da Herdade da Torre Bela no Ribatejo no pós-25 de Abril. A 23 de Abril de 1975, cinco semanas depois do 11 de Março e dois dias antes do aniversário da revolução dos cravos, ex-trabalhadores agrícolas, prisioneiros políticos libertados e rufias invadem a herdade, propriedade do duque de Lafões, numa acção rara por decorrer no Ribatejo (quando a maioria das ocupações se passavam no Alentejo e o Ribatejo permanecia refúgio da Direita) e por não estar, ao contrário das outras, ligada ao Partido Comunista. Realizado por Thomas Harlan e produzido por Paulo Branco, é um acutilante olhar político sobre uma época, uma utopia e as suas contradições.




Brandos Costumes (1975), de Alberto Seixas Santos

25 de abril
Cartaz de “Brandos Costumes” (1975) © Centro Português de Cinema

 “Brandos Costumes” marca a estreia de Alberto Seixas Santos na realização. O filme acabou de ser rodado em 1974, coincidindo com a data do derrube do regime que retrata e é quase uma premonição do que estava para acontecer. Trata-se de uma reflexão política e sociológica sobre o Portugal do Estado Novo. Intercala a história de ficção de uma típica família burguesa com excertos de filmes como “Chaimite” ou “A Revolução de Maio” e com actualidades cinematográficas da época, apresentando ainda quadros musicais em tom de “revista”, uma das formas de teatro mais populares durante os anos que antecederam o 25 de Abril de 1974.




As Armas do Povo (1975), de Alberto Seixas Santos

25 de abril
© Colectivo de Trabalhadores da Actividade Cinematográfica

Testemunho das emoções vividas entre o 25 de Abril e o 1 de Maio de 1974. Um documento captado por diversos cineastas, incluindo Glauber Rocha, que desembarcara há pouco em Portugal, para assistir aos primeiros dias da Revolução.




‘Non’, ou A Vã Glória de Mandar (1990), de Manoel de Oliveira

filmes manoel de oliveira
Luís Miguel Cintra em “Non, ou a Vã Glória de Mandar” (1990) © RTP

 Em África, nos finais da guerra colonial portuguesa, um grupo de soldados avança pelo mato. Falam da guerra e da missão histórica do homem em combate. Entre eles encontra-se o alferes Cabrita, licenciado em História, que vai percorrer outras memórias de guerra onde Portugal teve de enfrentar os ventos da derrota e da tragédia. De Viriato, e a resistência ao domínio romano até ao inevitável desastre africano, de que o alferes Cabrita será uma das últimas vítimas, Portugal enfrentou terríveis e devastadoras derrotas militares ao longo da sua História.




Outro País (1999), de Sérgio Tréfaut

filmes sobre o 25 de abril de 1974
Outro País (1999) © Filmes RTP

Após a Revolução dos Cravos, em Abril de 1974, alguns dos mais importantes fotógrafos e cineastas do mundo estiveram em Portugal para captar imagens de liberdade e de todo o processo revolucionário. Personalidades como Sebastião Salgado, Glauber Rocha, Robert Kramer, Dominique Issermann, Santiago Álvarez, Pea Holmquist ou Jean Gaumy, entre outras, muniram-se das suas máquinas e fotografaram ou filmaram as pessoas e os eventos desse período extraordinário. Em 1999, o realizador Sérgio Tréfaut (“A Cidade dos Mortos”, “Viagem a Portugal”, “Alentejo, Alentejo”) decide fazer uma pesquisa sobre os milhares de registos espalhados pelo mundo, num retrato de um dos momentos mais relevantes da História de Portugal. Esse trabalho resultou neste documentário, a que deu o nome “Outro País”.




Capitães de Abril (2000), de Maria de Medeiros

25 de abril
O ator italiano Stefano Accorsi em “Capitães de Abril” (2000), de Maria de Medeiros © Alia Film

“Capitães de Abril” não foi só o projeto mais arrojado da carreira da atriz Maria de Medeiros, na sua qualidade de realizadora, como foi igualmente uma das mais impressionantes produções do cinema português. Partindo das memórias do capitão Salgueiro Maia, Maria recria com sensibilidade e emotividade o dia que mudou um país. Um golpe de estado absolutamente “sui generis”, na sua conceção e execução que espantou o Mundo e que Maria aborda com contagiante entusiasmo. Entre a apoteose popular nas ruas de Lisboa, com os seus saborosos episódios de circunstância, e os momentos históricos mais marcantes do 25 de Abril, Maria filma com inegável sentido do espetáculo popular a Revolução de Abril. Um filme de reconstituição histórica, montado com sinceridade, romantismo e inteligência, que é no limite uma justa homenagem à memória de Salgueiro Maia e a um dia inesquecível que mudou Portugal.




A Noite do Golpe de Estado (2002), de Ginette Lavigne

filmes sobre a Revolução de Abril
“A Noite do Golpe de Estado” (2002) © RTP

A noite do 25 de Abril contada e explicada por um dos seus principais protagonistas – Otelo Saraiva de Carvalho. Aquilo que poderia ter sido apenas uma mudança de regime político, a passagem de uma ditadura para um sistema político mais flexível, criando as bases para uma transição democrática, foi afinal o início da “Revolução dos Cravos”, o último movimento revolucionário europeu.




Tabu (2012), de Miguel Gomes

european film challenge tabu
© O Som e a Fúria

Três mulheres a viver num prédio antigo na cidade de Lisboa: Aurora é uma idosa temperamental e excêntrica; Santa, a empregada cabo-verdiana; e Pilar, uma vizinha dedicada. Sentindo o fim a aproximar-se, Aurora faz-lhes um pedido invulgar: quer encontrar-se com Gianluca Ventura, alguém que até àquele momento ninguém sabia existir. Assim, dispostas a cumprir o desejo da velha senhora, Santa e Pilar acabam por descobrir que os dois viveram uma história de amor e crime no passado. Uma história que começou há 50 anos em Moçambique, algum tempo antes da Guerra Colonial, e reza assim: “Aurora tinha uma fazenda em África no sopé do monte Tabu…”




As Ondas de Abril (2013), de Lionel Baier

As Ondas de Abril
As Ondas da Abril (2013) © RTP

Em Abril de 1974, dois jornalistas da rádio suíça são enviados a Portugal para fazer uma reportagem “positiva” sobre a ajuda a um país “subdesenvolvido, mas simpático”. Vagueiam pela província portuguesa quando, subitamente, irrompe a Revolução dos Cravos. Decididos a acompanhar os eventos em primeira mão, rumam a Lisboa na sua carrinha Volkswagen. Deste modo, aproveitando o facto de estarem no momento certo e no lugar certo, fazem a reportagem das suas vidas sobre o espírito de liberdade do povo luso.




Cartas da Guerra (2016), de Ivo M. Ferreira

european film challenge cartas de guerra
© O Som e a Fúria

Ano de 1971. António (Miguel Nunes), de 28 anos, é incorporado no exército português para servir como médico numa das piores zonas da Guerra Colonial, no Leste de Angola. Longe de Maria José (Margarida Vila-Nova), a mulher amada que se viu obrigado a deixar, ele vai matando as saudades através de longas cartas que durante dois anos lhe escreve. Através delas, o espectador vai conhecendo o homem solitário por detrás do soldado, as suas angústias, desejos e esperanças. Com o passar do tempo, António apaixona-se por África e toma posições políticas… Um filme dramático escrito e realizado por Ivo M. Ferreira (“Águas Mil”, “Em Volta”), segundo um argumento seu e de Edgar Medina que se inspira em “D’Este Viver Aqui Neste Papel Descripto: Cartas da Guerra”, uma compilação de cartas que António Lobo Antunes (na altura um jovem alferes destacado para Angola) escreveu à mulher.

Quais são os filmes que destacas da Revolução dos Cravos de 1974? Partilha connosco os teus filmes favoritos. Poderás assistir a alguns destes filmes online, no Canal Português da FILMIN. Clica aqui! Outros filmes poderão ser ainda assistimos no micro-site criado pela Cinemateca. Clica aqui!

[tps_footer]

[/tps_footer]

Artigo publicado originalmente a 24 de abril de 2020

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *