Manoel de Oliveira

Filmes a não perder na Cinemateca Portuguesa em janeiro (Parte I)

Eis a nossa recomendação, dos grandes filmes que serão exibidos na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, no primeiro mês de 2019. 

Durante todo o mês de janeiro, a Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema prepara um especial sobre a cinematografia de Manoel de Oliveira (1908-2015). O cineasta que morreu aos 106 anos de cinema deixou uma marca emblemática no panorama cinematográfico português que deixou e continua a deixar marcas na cultura do país.

Além disso, trabalharam com o cineasta várias personalidades do cinema nacional e internacional desde Leonor Silveira, Marcello Mastroianni, Catherine Deneuve, Irene Papas, John Malkovich, Michel Piccoli, Irene Papas, Lima Duarte ou Marisa Paredes.

O que é o arquivo
Cinemateca Portuguesa

Segundo a Cinemateca Portuguesa, as obras de Manoel de Oliveira são imprescindíveis para a compreensão do cinema em Portugal e até europeu.

São mais de três décadas em que desenvolve um cinema quase artesanal, conotado com o artificialismo e com a teatralidade, que derivam da sua relação muito particular com a realidade filmada. Não havia freio para a criatividade e originalidade sem limites do cineasta, pelo que já em 1972, a propósito da estreia de O PASSADO E O PRESENTE, João César Monteiro escrevia: “O país tem um cineasta maior que o próprio país. O que fazer? Ou se encurta o cineasta ou se alarga o país.” Alargou-se o cineasta, que foi o grande responsável pela expansão de uma determinada ideia de cinema de autor muito para lá das nossas fronteiras físicas.

Fica a conhecer os filmes destes grandes ciclos para o mês de janeiro e tudo o que de melhor a Cinemateca tem para oferecer em 2019.




“O Dia do Desespero”, F.R. 4-1-21h30

Cinemateca Portuguesa

Oliveira aproxima-se dos últimos anos de Camilo Castelo Branco a partir de cartas do escritor, refletindo os seus conflitos e dramas e a relação atormentada com Ana Plácido. Inteiramente filmado na casa de Camilo em S. Miguel de Seide, é um dos mais austeros filmes de Oliveira. O plano que acompanha as rodas da carruagem no início do filme, assim como o plano-sequência final, tornam O DIA DO DESESPERO um exemplo elucidativo da utilização que Oliveira deles faz. A apresentar numa cópia nova 35 mm.




“O Sapato de Cetim”, F.R. 5-1-21H30

Cinemateca Portuguesa
O Sapato de Cetim

Quase sete horas de duração; planos geralmente longuíssimos, no limite material da duração do “magasin”; câmara normalmente imóvel, impondo um único ponto de vista sobre personagens que, também normalmente, estão estáticas e se falam sem se olhar e sem olhar para a câmara, fixando um algures indefinido e não situado; uma extensíssima sucessão de “recitativos” ou “árias” em que uma só personagem (tantas vezes) se espraia em falas de intensa e tensa duração; um texto ideológica e esteticamente avesso a qualquer moda ou gosto dominante. São estas as aparências exteriores do opus magnum do cinema português, este LE SOULIER DE SATIN que, em 1985, valeu a Manoel de Oliveira o Leão de Ouro em Veneza. Adaptação integral da obra de Claudel sobre a história de D. Rodrigo de Manacor, LE SOULIER DE SATIN é um dos filmes mais ambiciosos alguma vez feitos e é, para alguns, a obra máxima de Oliveira e um dos grandes monumentos da história do cinema.




“Vale Abraão”, F.R. 7-1-21H30

Cinemateca Portuguesa
Leonor Silveira

A versão integral de um dos mais célebres filmes de Manoel de Oliveira, inspirado na Madame Bovary de Flaubert, tal como foi recriada por Agustina Bessa-Luís no romance homónimo. VALE ABRAÃO é um filme “sensualista”, dominado pelas cores, os perfumes, as atmosferas – e pela presença majestosa do rio Douro.




“O Espírito da Colmeia”, F.R. 8-1-15H30

Cinemateca Portuguesa
O Espírito da Colmeia

A primeira longa-metragem de Víctor Erice é um dos melhores filmes espanhóis de sempre, construído à volta do mito de Frankenstein, recriado no espírito de uma criança depois de ver o filme de James Whale numa projeção de cinema ambulante (FRANKENSTEIN, 1931). O ESPÍRITO DA COLMEIA desenvolve-se na atmosfera deprimente e opressiva da província espanhola nos anos que se seguiram ao fim da Guerra Civil e ao mesmo tempo num clima algo irreal.




“A Caixa”, F.R. 8-1-19h

Cinemateca Portuguesa
A Caixa

Adaptado de uma peça de Prista Monteiro, A CAIXA é um dos filmes mais negros e sarcásticos de Oliveira, em que as Escadinhas de São Cristóvão, na Mouraria, se transformam num microcosmos dos vícios e virtudes humanas, das fraquezas das pessoas e das crueldades a que recorrem para sobreviver. Prémio Especial do Júri no Festival de Veneza.




 “O Convento”, F.R. 8-1-21h30

Cinemateca Portuguesa
John Malkovich, Catherine Deneuve e João Bénard da Costa

Partindo mais uma vez de um texto de Agustina Bessa-Luís, Manoel de Oliveira volta em O CONVENTO a alguns dos seus temas de eleição. Aqui, a visita de um investigador americano a Portugal, a propósito de uma tese inovadora sobre a verdadeira nacionalidade de Shakespeare, é o pretexto para uma alegoria complexa sobre a luta entre o Bem e o Mal e as suas figuras no mundo dos homens e das mulheres. Em O CONVENTO, a “família” de atores de Oliveira adquiriu uma dimensão internacional com as presenças de duas estrelas: Catherine Deneuve e John Malkovich.




“O Amor é uma Coisa Estranha”, F.R. 9-1-19h

Cinemateca Portuguesa
John Lithgow e Alfred Molina

O cinema “adulto”, na indústria norte-americana, tem fugido a alta-velocidade para o meio da televisão e, especificamente, para a indústria das séries, onde a liberdade de criação e temática, seja sobre a vida contemporânea norte-americana ou por lugares de fantasia, encontram poucos limites em termos criativos e financeiros. LOVE IS STRANGE é, decididamente, uma exceção no atual panorama da indústria: um certo “cinema do meio”, feito de personagens reais e dramas verdadeiros, onde se conta, através do drama da precariedade, e numa cidade gentrificada, a história de amor de um casal homossexual à beira da terceira-idade. Um comovente filme de um autor — Ira Sachs — que reflete a vida urbana da classe-média de Nova Iorque, e arredores, no século XXI. Primeira exibição na Cinemateca.




“Party”, F.R. 9-1-21h30

Cinemateca Portuguesa
“Party”

Durante a festa do décimo aniversário de casamento, um casal encontra um outro casal mais velho, com o qual se entrega a um estranho jogo de sedução, que é mais pela posse das almas do que pela dos corpos. A grande comédia humana num confronto em que se escalpelizam as suas paixões e desejos. Diálogos de Agustina Bessa-Luís.




“Viagem ao Princípio do Mundo”, F.R. 10-1-19h

Cinemateca Portuguesa
Marcello Mastroianni

Marcello Mastroianni, naquele que foi o seu último trabalho, interpreta a personagem de um realizador, “duplo” do próprio Manoel de Oliveira, numa das mais explícitas incursões autobiográficas da obra do cineasta português. No entanto, nem tudo é autobiografia, nem tudo é explícito: VIAGEM AO PRINCÍPIO DO MUNDO é o filme do mistério do reencontro com as raízes (em duplo sentido literal e metafórico), para o que muito contribui a espantosa participação de Isabel de Castro, no papel de uma velha camponesa incapaz de entender a língua francesa falada pelo seu neto criado em França.




“A Morte do Sr. Lazarescu”, F.R. 10-1-21h30

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Lazarascu

A Roménia seria responsável por alguns dos melhores filmes do cinema europeu nos primeiros anos do século XXI, muito contribuindo, para isso, o crescimento de uma nova geração de realizadores onde se destacava, entre outros, Cristi Puiu. MOARTEA DOMNULUI LAZARESCU, vencedor do prémio Un Certain Regard no Festival de Cannes, ainda é hoje visto, retrospetivamente, como um dos melhores (senão o melhor) filme dessa nova vaga romena (tendo sido escolhido, pelo The New York Times, em 2017, como “o melhor filme do século XXI”): um retrato realista, impiedoso e tragicamente cómico sobre uma noite de um pré-cadáver nos hospitais de Bucareste por várias urgências e diferentes diagnósticos. Primeira exibição na Cinemateca.




“A Divina Comédia”, F.R. 11-1-15h30

Cinemateca Portuguesa
A Divina Comédia

Numa estranha casa de “alienados”, cruzam-se personagens singulares. De Adão e Eva a Raskolnikoff, de Jesus e Lázaro a Ivan Karamazoff, orientados por um estranho diretor que parece ser outro membro do grupo. O mais hermético dos filmes de Oliveira, inspirado numa plétora de textos literários de autores diversos, entre os quais José Régio.




Uzak – Longínquo, F.R. 11-1-21h30

Cinemateca Portuguesa
Uzak

Este filme, que ganhou o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes de 2003, foi escrito, realizado, produzido e fotografado por Nuri Bilge Ceylan. É, pois, um projeto muito pessoal do realizador. Trata da amizade entre dois primos, um cosmopolita e outro camponês, “forçados” pelas circunstâncias a viverem juntos em Istambul – no que é um tema, o do confronto entre uma Turquia urbana e moderna e uma Turquia rural e tradicionalista, que cruza toda a obra do cineasta. Feito sem grandes meios de produção, mas muito bem aproveitados, é um filme à medida do seu projeto. Com o impacto internacional deste filme, Ceylan tornou-se o “rosto” do moderno cinema turco.




“Broken Flowers”, F.R. 12-1-15h30

Cinemateca Portuguesa
Bill Murray

BROKEN FLOWERS é possivelmente o mais melancólico dos filmes de Jim Jarmusch. Um homem de meia-idade recebe uma misteriosa carta cor-de-rosa de uma antiga namorada, que não se identifica, anunciando-lhe que é pai de um rapaz de 19 anos. Ele, Don Johnston, nome da personagem algo Don Juan de Bill Murray, no seu primeiro trabalho de longo curso com Jarmusch (depois de uma aparição em COFFEE AND CIGARETTES), parte em viagem à procura das antigas namoradas e da autora das cartas. Dedicada a Jean Eustache, trata-se de uma visita desencantada a um passado sentimental que vai ao encontro de vários temas típicos do cineasta – a viagem, a memória de uma América ancestral e marginal. O filme é apresentado em Double Bill seguido de Mes Petites Amoureses




“A Morte de Luís XIV”, F.R. 14-1-18h30

Cinemateca Portuguesa
Jean-Pierre Léaud

O último filme de Albert Serra põe Jean-Pierre Léaud na pele do monarca Luís XIV, o Rei-Sol, durante os seus últimos dias passados na cama a agonizar com um caso de gangrena que veio a revelar-se fatal. É um filme rigorosamente composto, em planos longos e contemplativos, com um trabalho sobre a iluminação que prolonga o que Serra havia experimentado em HISTORIA DE LA MEVA MORT, e que colhe inspiração na pintura e no cinema (nomeadamente em LA PRISE DE POUVOIR PAR LOUIS XIV, de Roberto Rossellini). “Simultaneamente uma exegese do ‘voyeurismo’, um comentário irónico sobre o absurdo anacronismo dos rituais da realeza, e uma meditação comovente sobre a mortalidade” (Andréa Picard).




“Os Robinsons”, F.R. 19-1-15h

Cinemateca Portuguesa
Os Robinsons

Nesta divertida e explosiva viagem no tempo, uma animação da Walt Disney, somos conduzidos para o inventivo e inesperado mundo do futuro, onde os sonhos mais inacreditáveis podem tornar-se realidade. O protagonista, o pequeno Lewis, é um cientista brilhante e autor de um número surpreendente de inteligentes invenções. O seu último projeto é o “Scanner de Memória”, uma máquina que o vai ajudar a encontrar a sua mãe para que, juntos, possam ser uma verdadeira família.

Mais informações sobre a programação podem ser consultadas aqui. Os bilhetes podem ser adquiridos na bilheteira da Cinemateca Portuguesa ou em bol

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