Florence, Uma Diva Fora de Tom | Figura de Estilo

Meryl Streep nunca esteve tão maravilhosamente mal vestida como em Florence, Uma Diva Fora de Tom, um filme onde os figurinos são uma parte fulcral do seu sucesso cómico.

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Hugh Grant vestido com um elegante e clássico fraque está diante de uma cortina vermelha e apresenta o próximo ato de um espetáculo cuja audiência é a alta sociedade nova-iorquina. Eventualmente a cortina sobe e então, dos céus da boca de cena desce um anjo. O seu movimento não é fluído e a sua aparência está longe de ser a de um querubim delicado. Este Anjo da Inspiração é Florence Foster Jenkins interpretada por Meryl Streep e vestida com um figurino espampanante completo com umas desengonçadas asas brancas. É assim que Florence, Uma Diva Fora de Tom de Stephen Frears introduz a sua protagonista e essa mistura de extravagância teatral e excesso risível são uma parte essencial dos charmes do filme tal como eram uma componente essencial da popularidade da figura real em que o filme se baseia. Quando as pessoas iam ver as atuações desastrosas da senhora Jenkins, a sua voaz hedionda não era o único espetáculo, pois o seu estilo tresloucado era tão apelativo e motivo de chacota.

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Consolata Boyle foi a figurinista responsável por trazer aos ecrãs a loucura das roupas de palco de Florence. Anteriormente Boyle já foi nomeada ao Óscar por A Rainha e também vestiu Meryl Streep em A Dama de Ferro, sendo que nesta nova colaboração com a atriz é caracterizada por um estilo muito menos subtil que nesse outro filme e até chega a usar um fato acolchoado para parecer mais roliça. Aliás, subtileza não tem lugar nesta obra e isso é claro desde o início com esse Anjo da Inspiração. Para além do figurino alado, Boyle também criou uma máscara de senhorita espanhola, um figurino de valquíria, um fato de cigana e até um vestido estrelado para Florence cantar a ária da Rainha da Noite de A Flauta Mágica. Há que sublinhar que a verdadeira Florence vestiu versões de todas essas fatiotas, sempre carregadas de joias e plumas. Comparada com uma cantora lírica que aparece no início da narrativa, Florence é tão espampanante como um pavão humano.

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Lê Também: Top 2015 | Os 10 melhores guarda-roupas do ano

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Mas não era só nos palcos que Florence se exibia como uma perfeita inspiração a drag queens futuras, pois o seu estilo casual era tão peculiar como os seus preparos mais teatrais. Ela era uma pessoa extremamente excêntrica, acreditando que sabia cantar, viciada em salada de batata e com uma fobia de facas, e as suas roupas expressam isso mesmo. Rodeada de pessoas que nunca a querem contrariar, Florence aparece sempre vestida com coisas a mais, ela seria o pesadelo de Chanel se a estilista alguma vez se tivesse deparado com o seu mau gosto.

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Florence, Uma Diva Fora de Tom

No entanto, não é somente nas cascatas de bugigangas, bijuteria vistosa e chapéus feios que Boyle usou os figurinos para delinear a personagem principal do seu filme. Note-se, por exemplo, como as roupas de Florence são regidas por linhas e silhuetas populares na sua juventude. Esta história pode decorrer nos anos 40, mas as roupas que Streep enverga estão mais próximas dos estilos anteriores à 1ª Guerra Mundial, como se a sua personagem estivesse congelada no tempo. Considerando que Florence está a viver em tempo emprestado depois de ter sido infetada com sífilis pelo seu primeiro marido, esse lado antiquado no seu estilo é um comovente indicador da sua fragilidade e resiliência.

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Em contraste com o fausto risível de Streep, os figurinos de Rebecca Ferguson no papel da amante de St. Clair, o marido da protagonista, são exemplos perfeitos dos estilos em voga no período histórico do filme. Aliás, ela e os seus amigos são as personagens que mais se apresentam como seguidores da moda de então, sendo que mesmo o estilo clássico de St. Clair parece um pouco conservador e até démodé na sua presença. Um bom exemplo disso é uma festa no apartamento dos dois amantes, em que St. Clair se pavoneia num elegante fato formal, enquanto todos os outros celebrantes mostram marcas de uma nova era em cores quentes e cortes mais provocatórios e modernos.

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Streep, Grant, Ferguson e os figurantes elegantes não são as únicas presenças de Florence, Uma Diva Fora de Tom e é em algumas das mais coloridas personagens que Boyle mostra a sublime inteligência dos seus desenhos. Cosmé McMoon, o pianista de Florence, é um perfeito exemplo de um excêntrico cujo vestuário, apesar de não ser tão extravagante como o da sua mecenas, telegrafa bem a sua personalidade idiossincrática. Quando o vemos pela primeira vez numa peculiar cena de audições, ele destaca-se logo dos seus rivais e colegas, quer seja pela cor das suas roupas quer seja pelo seu estilo e estranhas proporções. Podemos ler isto como uma forma de Boyle destacar a homossexualidade e desconforto social da personagem, mas esses elementos estranhos também fazem com que Cosmé salte sempre à vista, o que é ótimo para quem é, na sua essência, o terceiro protagonista do filme.

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Florence, Uma Diva Fora de Tom

Outra figura com um guarda-roupa colorido e divertido é Agnes Stark, a esposa de um gangster que adora música tanto quanto Florence e por isso decide envolver-se no círculo da alta sociedade que funda tanta da vida musical de Nova Iorque. Como consequência, ele arrasta a sua desbocada mulher para os espetáculos de Florence Foster Jenkins e, ao contrário dele e as suas roupas de respeitabilidade nouveau riche, Agnes nunca se tenta integrar com as outras mulheres ricas e o seu estilo conservador. Nina Arianda, a atriz que interpreta Agnes, desfila pelos teatros com vestidos super decotados como uma showgirl numa estreia de Hollywood e é assim uma visão tão divertida como a protagonista.

Lê Ainda: Florence, Uma Diva Fora de Tom, em análise

No final, Consolata Boyle construiu em Florence, Uma Diva Fora de Tom uma fantástica reprodução de época pontuada com pinceladas de excentricidade e extravagância cómica. Mesmo assim, ela consegue traçar, por entre todo o fausto visual, precisos visuais que informam e são influenciados pelas personagens, ajudando assim a tornar este filme no sucesso tragicómico que pode trazer a Meryl Streep a sua vigésima nomeação ao Óscar e a Hugh Grant a sua primeira. É evidente que ainda é muito cedo para termos certezas em relação à Awards Season, mas podemos fazer algumas conjeturas e há que dizer que Consolata Boyle bem que merecia alguns troféus dourados pelo seu exímio trabalho tanto em neste filme, como em toda uma carreira cheia de elegantes triunfos.

Florence, Uma Diva Fora de Tom

 


 

ESBOÇOS DE CONSOLATA BOYLE PARA FLORENCE, UMA DIVA FORA DE TOM

 

 


Se és fã de cinema e dos figurinos que vestem as estrelas, não te esqueças de explorar a nossa rubrica Figura de Estilo, onde podes encontrar análises sobre os guarda-roupas de muitas outras produções.


 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *