Com Frankie Cosmos e Ian Sweet, juntou-se o doce ao cósmico na ZDB

IAN SWEET aqueceu a pequena sala, mostrando larga gratitude e admiração por Frankie Cosmos. Posteriormente, Cosmos tripulou a plateia ao som de Vessel.

Noite amena no Bairro Alto. Alguns minutos antes das 21h, hora de início do concerto, um número razoável de jovens adultos já se reunia à porta da Galeria Zé dos Bois, de cigarro na mão, indumentária descontraída e conversa de circunstância, na expectativa do que estava para vir.

Entrando, subindo as escadas, entrámos numa sala ainda pouco povoada, pelo que não foi difícil encontrar um bom lugar perto do palco. Ainda assim, já se tinha estabelecido uma barreira de fãs unidos ao palco. Aos poucos e sem quase se dar por isso, a sala foi-se enchendo de pessoas, em amena cavaqueira.

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Foi neste ambiente que alguém, discretamente, subiu ao palco. Solitária, começou a remexer nos equipamentos e cabos. A plateia, entretida consigo mesma, mal reparou naquela presença, à exceção dos espectadores mais rentes ao estrado. Passado um pouco, pega numa guitarra. Ouve-se um forte acorde. Imediato silêncio na sala. Era Ian Sweet, que assim dava início ao concerto.

Sem mais demoras, começou a cantar. No final do primeiro tema, Jilian Medford lançou um ‘Hey’ acanhado. “I’m Ian Sweet. I’ve never been here before… And I’m obsessed!” Com o quê, não ficou claro. E voltou de novo para os seus acordes, sempre sozinha. Fez-se acompanhar apenas da sua guitarra elétrica e um MacBook. Enquanto cantava, saltava aos olhos o quanto a artista sentia as suas canções. Sweet era veementemente embalada pela sua sonoridade, agitando-se ao sabor das suas composições. Para a frente e para trás, ora com a cabeça, ora com os joelhos, ora com o corpo todo. E quase sempre de olhos fechados.

Ian Sweet na ZDB
Ian Sweet (© Sara Tanqueiro)

Mais à frente, noutro intervalo, Medford mencionou o chapéu verde que trazia e comprara no próprio dia, nas ruas de Lisboa. “You guys have cool hats!” Elogiou também a comida, chegando a dizer que tinha jantado o melhor repasto de todos os tempos, feito por alguém muito especial da ZDB. De vez em quando, algumas risadas tímidas, só para se voltar a concentrar na atuação.

Por entre o alinhamento, Ian Sweet transparecia uma clara gratitude, em geral, e um específico encanto em relação a Greta Kline. “I’m so lucky”, repetiu vezes sem conta a respeito de vários temas. Aproveitou e partilhou um sentimento mais pessoal. “Today I’m feeling very well”, enumerando depois as recorrentes circunstâncias de self-hate que experimenta. Mas não. Naquela noite, depois daquele jantar, e com aquele chapéu, Ian Sweet sentia-se bem.

Apesar de ter tido o palco só para si durante a quase totalidade da performance, nos dois últimos temas teve ajuda do baixo (Alex Bailey) e da bateria (Luke Pyenson). Introduzindo a última canção, Jilian elogiou (só mais uma vez) Frankie Cosmos, contou-nos quão grata se sentia por estar em digressão com ela e prometeu-nos que “she’s gonna melt your face with some rock & roll things.” Sejamos sinceros, não soa lá muito agradável. No entanto, considerando a quem Sweet se referia (e o fraco funcionamento do ar condicionado na apinhada sala), entende-se.

Findo o repertório, pousou a guitarra e repetiu a cena. A própria Ian Sweet desligava cabos e enfiava-os dentro de uma mala preta. Pegando na cerveja que tivera a seus pés durante toda a atuação, saiu, agradecida, do palco.

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Um compasso de espera e entrou Frankie Cosmos, numa sweatshirt vermelha, que, devido ao calor que se sentia na sala, imediatamente tirou. Agora na sua banda, o baterista Luke Pyenson e o baixista Alex Bailey regressavam ao palco, desta vez com Lauren Martin, nas teclas e harmonias (e Greta, claro!, ao leme).

Frankie começou tossindo, já de guitarra nas mãos. Após isto, deu-nos rock até ao final, apesar de visivelmente doente e recear, como disse, estar a perder a voz. Arrancado o primeiro tema, a plateia só parou de se agitar depois dos (prolongados) aplausos finais. Não faltou também o canto ao longo de toda a performance de Frankie Cosmos. Uma animação de que Lauren Martin parecia ausente, qual símbolo da dedicação ao labor artístico que traz mais olheiras que numerário.

Frankie Cosmos e Ian Sweet na ZDB
Frankie Cosmos (© Sara Tanqueiro)

Esta mentalidade de entrega incondicional à música era visível em Greta e na sua guitarra. Frequentemente, a artista ajoelhava-se frente a um dos membros da banda, devotando-se totalmente à canção. A meio do alinhamento, houve uma pausa mais demorada entre temas. Momento que Luke Pyenson aproveitou para sair da dianteira do palco e dirigir-se diretamente ao público. E em português.

Com um ligeiro e compreensível sotaque, relembrava o Festival Vodafone Paredes de Coura. “Nós estivemos o ano passado no norte”, inquirindo, depois, de entre a plateia, quem tinha ido ao festival. Não eu, pensei. O diálogo continuou e Pyenson classificou Lisboa como uma das suas cidades preferidas, agradecendo muito à ZDB, que denominou também de predileta.

Depois desta folga mais prologada que as restantes, Greta Kline reassumiu a liderança e prosseguiu, interpretando temas retirados, acima de tudo, de Vessel, lançado o ano passado. Já no final, Frankie mostrou-se entusiasta dos azulejos de Lisboa e introduziu uma canção recente. “Tiles”, que originalmente é apenas Frankie acompanhada de piano, foi tocada com toda a banda. Após isto, os quatro abandonaram o palco.

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Aplausos e aplausos enchiam ainda mais a pequena sala da ZDB, palmas infindáveis a pedir mais. E resultou. Greta, Lauren, Alex e Luke voltaram ao palco para mais um tema. Mas não foi longo. Antes disso, Frankie falou-nos do seu atual caderno. “I have a notebook from Emílio… I forgot his name!” “Braga”, gritavam da plateia.  “Yeah, it’s nearly pretty”, elogiou a artista. E em tom introdutório do bis, declara “Shout out to Emílio… Emílio… Emílio…”

A performance deste último tema foi ainda mais entusiástica, por parte da plateia, do que o resto do concerto. Cantava-se (acertando até na letra), dançava-se, saltava-se, sorria-se. O público estava visivelmente grato e satisfeito. Acabado o concerto, os fãs foram dispersando. À saída, estava a própria Ian Sweet a vender merchandise e, claro!, a receber múltiplos elogios. Cá fora, a noite serena continuava a dar ares de verão ao Bairro Alto.

FRANKIE COSMOS, IAN SWEET | ZÉ DOS BOIS, 14 DE ABRIL 2019

Com Frankie Cosmos e Ian Sweet, juntou-se o doce ao cósmico na ZDB
  • Pedro Picoito - 80
80

Um resumo

O MELHOR: O à vontade de Ian Sweet no palco e no diálogo com o público, conjugado com a proximidade das quatro paredes da sala, trazia uma atmosfera familiar à atuação.

O PIOR: Como não se pode ter tudo, com a tal proximidade das quatro paredes, veio o calor.

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