Frankie Cosmos à MHD | “Nunca resolvo nada”

Uma conversa (por meio da magnífica tecnologia hodierna) com Frankie Cosmos resultou num brevíssimo mas profícuo apontamento sobre a criação artística.

É já este Domingo, dia 14 de Abril, o concerto da artista nova-iorquina Greta Kline (mais conhecida, no mundo da música, por Frankie Cosmos) na Galeria Zé dos Bois. Depois do seu concerto na edição de 2018 do Festival Vodafone Paredes de Coura (tivemos o gosto de falar com ela, aquando do evento), no qual apresentou o seu terceiro álbum de estúdio Vessel (2018), Frankie Cosmos retorna agora a Portugal, ainda dentro do ciclo de promoção do seu disco anterior, para um concerto em nome próprio onde esperamos ouvir também uma ou outra amostra do seu trabalho mais recente Haunted Items (2019).

Haunted Items é uma colecção exclusivamente digital de novas canções, compostas especificamente para o piano, divulgadas através da editora discográfica Sub Pop, desde o mês de Março até ao início de Abril. Na iminência do seu próximo evento entre nós e concluída a partilha de Haunted Items, trocámos e-mails com Frankie Cosmos e ficámos a saber um pouco mais sobre o artista e a arte que compõe.

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Greta, começaste a tua carreira musical como uma artista independente, divulgando álbuns lo-fi através da tua conta de Bandcamp. Sendo natural de Nova Iorque, como é que a cena anti-folk do início da década de 2000 e a ética DIY influenciaram a tua sonoridade e composição?

Essa música foi muito influente para mim porque me levou a perceber que a música não tem de ser gravada de modo perfeito. De certa forma, grande parte dessa música resumia-se à essência da canção. Isso foi inspirador para mim (e continua a sê-lo).

Escreves sobre a cidade onde vives, a sua população e os detalhes mundanos da vida. Ao mesmo tempo, complementas a observação dos arredores com a experiência de auto-descoberta. Quais são as razões que permitem a um indivíduo aprender tanto sobre si próprio só de estar A Step Away From Them

Na minha opinião, no ano de 2019, é preciso algum esforço para levantar o olhar do telemóvel e reparar nos tais “detalhes mundanos da vida”. Obviamente que esta falta de distracção conduz à auto-descoberta, permite-nos ter pensamentos. Sinto uma necessidade regular de me relembrar disso, de assumir uma postura introspectiva.

FRANKIE COSMOS | “JESSE”

O sexo e a morte são dois tópicos recorrentes em Vessel (2018). De que modo relacionas as tuas próprias dúvidas e crises existenciais com estes temas? O que descobriste sobre eles durante o processo de criação do álbum e o que ainda continuas à procura?

Eu não sei se o processo de criação do álbum me ajuda a perceber as coisas ou não. Eu penso que me aproxima da sua compreensão ou expressão, porém nunca resolvo nada. Por essa mesma razão, ainda me encontro à procura de… tudo?

Fala-nos do teu novo álbum, Haunted Items (2019), de que modo se relaciona com os teus trabalhos anteriores. Desta vez, é apenas a tua voz e o piano, sendo que compuseste as canções especificamente para este instrumento.

Na minha opinião, as canções têm uma energia muito específica associada a elas próprias, e sinto-as como sendo canções solitárias. Eu ainda as componho da mesma forma, porém senti-me compelida a tocá-las e gravá-las de modo diferente. Apesar de tudo, não penso que as canções tenham uma versão final ou autêntica de si mesmas… Acho que uma canção é maior do que uma gravação. Talvez um dia acabemos por trabalhar alguns destes “haunted items” (objectos assombrados) de forma diferente.

FRANKIE COSMOS | “DANCING”

Acho interessante a enfatização que dás à separação do “corpo” físico destas peças das memórias infelizes a que se encontram ligadas. Ao compartilhar a história destes “haunted items” (objectos assombrados), o que esperas alcançar? Vês este procedimento como uma espécie de  “exorcismo”?

Para mim, os objectos são as canções. Sinto que a sua gravação me ajuda a ultrapassar estes objectos e as recordações associadas. Tê-los a existir fora de mim acaba por ser uma óptima sensação.

Desde Vessel (2018) que me parece que o minimalismo há muito associado às tuas letras está a passar por um processo de poetização. Como vês a composição de Haunted Items (2019), em comparação com a de trabalhos prévios?

Eu acho que o meu estilo de composição é sempre o mesmo, e sempre diferente! Eu limito-me a escrever, não tento fazer algo diferente. No entanto, acaba por se transformar com o tempo. Eu envelheço, as canções mudam comigo! Nunca sei como comparar a minha música actual com os trabalhos do passado. Sinto-a de forma diferente, ela é diferente, mas, no final de contas, tudo isto sou eu!



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