George R. R. Martin no programa "Conan", em 2014 © Conaco

George R. R. Martin (Game of Thrones) deixa conselho aos novos escritores

George R. R. Martin, o autor da saga “A Song of Ice and Fire” que originou “Game of Thrones”, deixou um precioso conselho aos jovens e novos leitores.

O autor de “A Song of Ice and Fire”, ou em português “As Crónicas de Gelo e Fogo“, esteve na Universidade de Oxford para falar sobre a sua carreira e uma das perguntas centrou-se no conselho que daria aos jovens escritores. Com uma carreira que teve início no início dos anos 70, George R. R. Martin é responsável por um dos grandes êxitos da literatura contemporânea, para além de ter participado como guionista em sucessos da televisão como “The Twilight Zone“.

Para George R. R. Martin, o primeiro passo é descobrir o que te move

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George R. R. Martin © Henry Söderlund via Wikimedia Commons

O escritor começa a sua resposta, questionando a razão que leva o novo autor a iniciar a sua jornada, referindo que deves explorar as áreas que mais gostas mas também pensares no futuro que procuras:

“É uma pergunta que recebo muito e é complicado de responder. Depende muito da pessoa e da razão que os leva a escrever. Porque querem escrever ou ser um escritor? E também em que área querem estar, querem escrever livros? Querem escrever contos? Querem trabalhar em televisão ou cinema e ser guionista, talvez até guionista/realizador. E todos eles são tipos diferentes”.

Arte pela Arte? Ou Arte pela Carreira? Relembrando Howard Waldrop.

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Howard Waldrop na MoonBase ConFusion de 2007 © Jeff via Wikimedia Commons

A realidade, é que quando um jovem escritor opta por esta área, deve ter em consideração as consequências financeiras do seu projeto. É algo que irá fazer como carreira? Focando-se nas obras e nos temas mais populares, conquistando o público e os editores. Ou escreverá por paixão? Não se importando de desenvolver um livro como hobby ou trabalho secundário.

“Conheci jovens escritores que levam a arte a sério: ‘tenho algo a dizer ao mundo’, ‘tenho de partilhar algo’. E isso é muito diferente das pessoas que dizem: ‘eu quero pagar as minhas contas e talvez comprar uma casa’, e que estão mais preocupados em prazos e numa carreira, é algo diferente de criar arte”.

George R. R. Martin refere o seu amigo Howard Waldrop como exemplo da “arte pela arte”:

“Já conheci todos os tipos. No dia 14 de janeiro deste ano, um amigo meu chamado Howard faleceu, ele era dois anos mais velhos que eu. O Howard é o meu amigo mais antigo neste meio. (…) O Howard escrevia contos. (…) Ele escreveu os contos mais maravilhosos que alguma vez poderás ler. Nunca ninguém conseguiria escrever aquelas histórias”.

O autor lembra que apesar de Howard Waldrop ter recebido alguns prémios, destacando a sua habilidade, ele não trabalhava para o dinheiro ou a fama:

Ele era meio maluco, sabia tudo sobre cultura pop e cultura clássica. Criava estas ideias super estranhas e escrevia contos que vendiam e lhe rendiam prémios. Ele recebeu um Nebula Award, ganhou um World Fantasy Award e um Lifetime Achievement Award do World Fantasy, mas viveu a vida à beira da pobreza. Vivia nestes quartos minúsculos, em Austin – Texas, e durante meses só comia ramen noodles, mas a arte dele, as histórias dele, são o que importavam para ele”.

Waldrop chegou mesmo a rejeitar a proposta para escrever uma história “Star Trek” que, sem dúvida, lhe teriam permitido viver tranquilamente e até investir em novas obras. Mas o escritor tinha outros planos e não queria criar apenas por criar. Como refere George R. R. Martin:

Nos anos 70, ele recebeu a chance de escrever um livro no universo de ‘Star Trek’, o que equivaleria a três anos de contos, mas ele não estava interessado no ‘Star Trek’. Ele queria fazer as suas próprias e estranhas coisas. Deixou uma lista incrível de 100 contos – estou até a transformar alguns em pequenas curtas-metragens, lançadas em festivais de cinema”.

O sucesso de George R. R. Martin e a mistura da “arte pela arte” com uma carreira de peso

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George R. R. Martin © s_bukley via Shutterstock, ID 133190933

O escritor americano fala depois um pouco sobre a sua própria carreira, e o modo como concilia as duas coisas: arte pela arte, e arte como carreira. Lembra que o sucesso começou com alguns prémios que ganhou por contos, evoluindo depois para livros e até guiões – incluindo “The Twilight Zone” e, claro, “Game of Thrones” que podes ver na Max Portugal.

“O Howard é um tipo especial mas há outras pessoas que querem construir uma carreira e não há nada de errado nisso. Eu criei a minha carreira e tu não escreves contos se queres começar uma carreira, talvez no início para ganhar uns prémios e espalhares o teu nome, isso é bom, funcionou comigo. Costumava funcionar nos anos 70 e 80, não sei se ainda funciona hoje”.

George R. R. Martin continua: “Mas há diversas técnicas que podes usar, quando recebia essa pergunta, costumava falar sobre como a minha carreira se desenvolveu a partir da minha primeira história em 1971, mas esse conselho já não funciona, o mundo mudou demasiado, com a internet”.

John Scalzi e o gato com um bacon colado ao pêlo

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© John Scalzi via Wikimedia Commons

O autor de “Game of Thrones” termina a sua resposta com a insólita história do sucesso de John Scalzi, responsável por “Old’s Man World”. Jornalista de profissão, Scalzi tinha um blog onde publicava pedaços do seu livro, culminando nalguma notoriedade numa internet que ainda estava a se desenvolver.

Tudo mudou quando, um belo dia, o escritor partilhou uma foto do seu gato, com bacon colado ao corpo. A popularidade da imagem tornou-o viral e a sua obra bebeu desse sucesso.

“John Scalzi é um escritor de ficção científica bastante conhecido. (…) Era um jornalista (…) e começou a publicar uma história de sci-fi chamada ‘Old Man’s War’ no seu blog – um capítulo grátis todos os meses ou algo assim do género. Tornou-se muito popular. Um editor da Tor Books ouviu dizer que era popular, percebeu que era bom, contactou o John e comprou a história. (…) O sucesso do John veio disso”.

Mas eis o segredo! “Eu estava a falar com o John em Santa Fe e disse-lhe: ‘A maneira como te tornaste num sucesso ao partilhares o livro publicamente no blog, funcionou contigo mas há muitas pessoas que estão a tentar fazer o mesmo, partilhando fragmentos do livro nos blogs, e ninguém presta atenção, não têm editores a contactá-los e a comprar os livros, porque funcionou contigo?'”.

E a resposta foi o lendário gato com bacon. “O John respondeu: ‘Bem, antes de fazer aquilo com o meu livro, eu já tinha uma presença online através do blog, e uma vez colei bacon no meu gato e tornou-se viral, milhões de pessoas acharam que era muito divertido e partilharam com os amigos. Quando escrevi o livro e o coloquei no blog, tornou-se no “tipo de colou bacon no gato escreveu um livro!“, vamos ler’.”.

E tu? És escritor? Já conseguiste publicar alguma peça? Ou estás a pensar fazê-lo um dia?



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One thought on “George R. R. Martin (Game of Thrones) deixa conselho aos novos escritores

  • “Não seja desorganizados e indisciplinados como eu!”

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