Figura de Estilo: o guarda-roupa de Casablanca

 

É um dos melhores pedaços de entretenimento que o cinema já viu, mas no que toca ao guarda-roupa, “Casablanca” cose-se de simplicidade. Simplicidade genial.

A culpa é do figurinista australiano Orry-Kelly, que viria depois a receber três Óscares da Academia (por “Um Americano em Paris”, “As Girls” e “Quanto Mais Quente Melhor”). Na única vez que desenhou para Ingrid Bergman – apesar de fazer parte, há largos anos, da família Warner Brothers -, Kelly obedeceu às rígidas regras do pós-guerra e regeu-se pela sobriedade da contenção, pela praticalidade do design, pelo básico essencial.

Só que estávamos no início da década de 40, em que o simples era bem feito e o minimal era perfeito. Assim, os fatos são produtos exímios de alfaiataria, os chapéus merecem aplausos, os vestidos de Bergman são o epíteto da elegância.

As gabardines que respiram conspiração, a austeridade dos ombros pouco femininos, a severidade das linhas, a reserva da pele. O guarda-roupa fala sem gritar – e é exatamente por isso que é extraordinário.

A autoridade dos moldes militares contrasta com a suavidade dos (poucos, mas impecáveis) vestidos de noite, os padrões escolhidos a dedo alternam com os neutros, em jogos de pares que construíram o início de uma bela amizade.