Cartaz festival de Almada

Festival de Teatro de Almada: Guia Completo

Está a decorrer um dos festivais de teatro mais importantes do país: o Festival de Almada. Traçámos um guia dos espectáculos que nos suscitaram maior interesse e que talvez te dêem também vontade de ir ao teatro.

Para celebrar a sua 35ª edição, o Festival de teatro de Almada coloca em cartaz 24 espectáculos diferentes, 9 dos quais são criações nacionais.

O festival toma lugar em várias salas do concelho de Almada e em diversas casas de espectáculo lisboetas. Em Lisboa, os espaços destacados são o do Teatro do Bairro, Teatro da Politécnica, Teatro São Luiz, Centro Cultural de Belém e o Teatro Nacional D. Maria II; enquanto que em Almada haverão performances a decorrer na Escola D. António da Costa, no Teatro municipal Joaquim Benite, no Fórum Romeu Correia e no Teatro estúdio António Assunção.

Depois dos severos cortes orçamentais aos apoios da Direção-Geral das Artes a existência da presente edição do Festival de Almada esteve em risco. No entanto, a actual presidente da câmara municipal de Almada, Inês de Medeiros, assegurou levar a cabo todos os esforços possíveis para dar continuidade a este evento único no panorama teatral português. Mesmo assim, o Festival de teatro de Almada viu-se obrigado a organizar a sua 35ª edição com menos 22% dos apoios estatais com que costumava contava entre 2013 e 2015.

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Apesar do preço dos bilhetes depender da sala onde tomará lugar a performance, é possível comprar assinaturas (75€ pela assinatura geral ou 60€ para o clube de amigos do TMJB) que concedem entrada a diversos espectáculos.

A decorrer desde dia 4 de julho e até dia 18, o Festival de Almada conta com um belíssimo cartaz, deixando-te nós aqui algumas sugestões:

FESTIVAL DE ALMADA | LILIOM OU A VIDA E A MORTE DE UM VAGABUNDO

Festival de Almada: Liliom ou a vida e a morte de um vagabundo
Liliom ou la vie et la mort d’un vaurien / Liliom ou a vida e a morte de um vagabundo

escritor húngaro Ferenc Molnár (1878-1952) é praticamente desconhecido nos palcos portugueses, mas há quem não hesite em considerá-lo um dos maiores dramaturgos de sempre. Liliom, uma “lenda suburbana”, é a sua peça mais levada à cena, porventura graças ao filme que Fritz Lang estreou em 1934. O espectáculo que agora chega a Almada estreou em 2013 e tem realizado uma longa digressão em França, que o levou inclusive ao Odéon – Théâtre de l’Europe. E a crítica francesa tem-se rendido à história deste Liliom, um vagabundo cheio de amor e de sonhos, aqui contada numa feira popular que, de alguma forma, prenuncia a candura e a catástrofe de Casimiro e Carolina, de Horváth: “Jean Bellorini é um dos encenadores mais talentosos da sua geração” (France Presse); “Liliom é um vagabundo magnífico” (Les Echos); “Uma encenação cheia de alegria” (Les Inrockuptibles).

Em cena no Teatro Municipal Joaquim Benite, dia às 21h e dia 10 às 19h, com o custo de 15€ por bilhete.




FESTIVAL DE ALMADA | FINAL DO AMOR

Festival de Almada: Final do amor
Zapiranje Ljubezni / Final do amor

Um actor e uma actriz, fechados numa sala de ensaios, colocam um fim à sua relação. Final do amor desenvolve-se como o movimento de uma onda, com dois monólogos sucessivos: o homem agride a mulher com as razões que o levaram a deixar de amá-la e, na ressaca, ela responde-lhe à letra, superando a prostração em que ficara. Este homem e esta mulher chamam-se Marko e Pia, os nomes dos dois intérpretes que na vida real são também um casal – Pascal Rambert fez questão de que, nesta montagem, assim fosse. Para Ivica Buljan, “esta é uma história pura sobre o amor, num tempo em que as histórias puras já não existem”. Final do amor constitui igualmente uma oportunidade para reencontrar o actor Marko Mandić – que o público do Festival de Almada conhece de outras encenações de Buljan (como Macbeth ou Pílades) – e descobrir o talento de Pia Zemljič, cuja interpretação nesta peça lhe valeu o Prémio Sever, sendo considerada “antológica”.

Encenado pelo ex-director artístico do Teatro Nacional da Croácia, Ivica Buljan, Final do amor” estará em cena no Teatro-Estúdio António Assunção até dia 10 às 18h (exceptuando domingo, dia 8, que subirá aos palcos às 15h). Os ingressos terão o custo de 10€.




FESTIVAL DE ALMADA | PHILIP SEYMOUR HOFFMAN, POR EXEMPLO

Festival de Almada: Philip Seymour Hoffman, por exemplo
Philip Seymour Hoffman, par exemple / Philip Seymour Hoffman, por exemplo

público do Festival de Almada já conhece Rafael Spregelburd de peças como A estupidez: no universo do dramaturgo argentino abundam as histórias paralelas, bem como personagens que, à partida, nunca se deveriam ter encontrado. Também neste texto, escrito de propósito para o colectivo Transquinquennal, os 45 papéis desempenhados pelos versatilíssimos cinco actores belgas alteram-se constantemente. E o que tem o célebre actor americano que ver com tudo isto? Directamente, nada. Mas numa das histórias do espectáculo especula-se, por exemplo, sobre como seria se os produtores do filme que Hoffman gravava quando se suicidou, em 2014, decidissem terminar a obra recorrendo a um avatar 3D do actor. Há quem chame a Philip Seymour Hoffman, por exemplo uma peça esquizofrénica, e quem encontre amargura no seu humor: a revista Théâtre et danse considerou-a “uma comédia feroz”.

A companhia belga Transquinquennal, é composta por Bernard Breuse, Stéphane Olivier, Miguel Decleire e Brigitte Neervoort. O coletivo funciona como uma hidra de quatro cabeças (nas suas próprias palavras) e baseia as suas criações na ausência da figura de ídolo encenador. Apresentarão o espectáculo dia 10, às 22h, na Escola D. António da Costa e o bilhete terá o custo 15€.




FESTIVAL DE ALMADA | FORA DE CAMPO

Festival de Almada: Fora de campo
Hors-Champ / Fora de campo

Um casal é convidado para jantar em casa de Lise, num bairro rico dos arredores. Mal se instalam no salão, o mordomo e o convidado reconhecem-se. O jantar não será servido. Instala-se um ar de mistério, de angústia, de violência. Imagens brutais lançam-nos no coração de um drama que não saberemos nunca se nasce de uma realidade vivida, da rodagem de um filme ou de um pesadelo. Hors-champ é um espetáculo dançado, teatral e cinematográfico. A coreografia funde-se com o drama e as personagens passam ininterruptamente do ecrã para o palco. Entre vítima e carrasco, no meio de uma atmosfera destruidora que remete para um qualquer regime totalitário, Hors-champ vai desenrolando os seus meandros.

Michèle Noiret está encarregue do guião, encenação e coreografia desta obra que estará em cena dia 13 de julho às 21h no grande auditório do CCB e cujos bilhetes custam 18€.




FESTIVAL DE ALMADA | A MEIO DA NOITE

Festival de Almada: A meio da noite
A meio da noite

No dia 14 de Julho passam cem anos sobre o nascimento de Ingmar Bergman (1918-2007) – e será justamente nessa noite que Olga Roriz apresentará no Palco Grande da Escola D. António da Costa o seu espectáculo de homenagem ao realizador sueco. A meio da noite aborda, nas suas palavras, “a temática existencialista de Bergman, sendo simultaneamente uma peça sobre o processo de criação, numa procura incessante de si próprio e dos outros”. A coreógrafa encontra um paralelismo entre o seu percurso e a obra do realizador: a abordagem da complexidade humana que Bergman levou a cabo nos seus filmes, Olga Roriz pratica-a através da dança. Na base desta criação encontra-se uma viagem à ilha de Fårö, onde o autor de A hora do lobo viveu nos últimos 20 anos da sua vida e onde foi sepultado. Nas palavras da coreógrafa, “filmado o céu, o mar, as pedras, era tempo de voltar, mas um último gesto faria toda a diferença: limpar as folhas secas que cobriam a campa do Mestre. O laço estava assim criado para sempre e com uma intensidade que sei não ser capaz de expressar em palco”.

Com uma única apresentação, dia 14 (sábado) às 22h, a criação de Olga Roriz sobe ao palco grande da Escola D. António da Costa, cujos ingressos terão o custo de 15€.




FESTIVAL DE ALMADA | ESTADO DE SÍTIO

Festival de Almada: Estado de sitio
L’état de siege / Estado de Sítio

Foi há já 15 anos que Emmanuel Demarcy-Mota se estreou no Festival de Almada, com Seis personagens à procura de autor, regressando nos anos seguintes com textos de Brecht, Horváth, Ionesco, Vitrac… Quando passam 70 anos sobre a estreia absoluta do texto de Albert Camus (“um autor da minha adolescência”, revela), Demarcy-Mota resolve montar Estado de sítio para “combater o medo”. A ideia para a peça surge-lhe após os atentados de Paris, em Novembro de 2015: “Quando fecharam os teatros, lutei pela sua reabertura o mais rápido possível”. A fábula política de Camus situa-nos numa cidade na qual um tirano proclama o estado de sítio para usurpar o poder. A Peste, acolitada pela Morte, fará então reinar o terror. Mas um casal de jovens, não por acaso apaixonados, há-de ser capaz de ultrapassar o medo e a inépcia, para dar o exemplo aos restantes cidadãos. E resistir.

Dia 14 (sábado), às 21h, e dia 15 (domingo), às 17h30, é apresentado no Teatro São Luiz “Estado de sítio”. O preço dos bilhetes varia entre 5€ e 12€, consoante os descontos aplicados.




FESTIVAL DE ALMADA | ACTRIZ

Festival de Almada: Actrice
Actrice / Actriz

Uma actriz-vedeta aguarda a morte num quarto de hospital pejado de flores, vítima de um tumor cerebral que nunca chega a ser nomeado. Vêm visitá-la os seus pais, os filhos, a irmã e o cunhado (seu ex-amante), o marido alcoólico, os ex-colegas de trabalho — e todos servem de pretexto para discretear sobre o teatro, a vida, a morte, a liberdade, a família… Pascal Rambert escreveu esta peça para o elenco do Teatro de Arte de Moscovo, em 2015, quando se deu conta do amor que o público russo nutria pelos actores: “Quando se vai ao teatro, na Rússia, vai-se ver os actores”, acrescentando que gosta de “escrever para as actrizes: dar-lhes trabalho”. No caso particular da protagonista de Actriz, Marina Hands, o seu desempenho valeu-lhe, já este ano, o Molière para Melhor Actriz. A crítica francesa considerou-a “deslumbrante” (Guide critique).

Em cena no Teatro Nacional D. Maria II, na Sala Garrett, dia 15 (às 16h) e 16 (às 19h), com bilhetes que oscilam entre os 5€ e os 17€.




FESTIVAL DE ALMADA | DR. NEST

Festival de Almada: Dr. Nest
Dr. Nest

Os Familie Flöz têm levado a todo o Mundo as suas marionetas humanas, e o sucesso do seu teatro mudo tem sido celebrado em várias línguas: “uma comédia esplêndida” (The Guardian); “as gargalhadas chovem de todo o lado” (Le Monde); “um espectáculo que ficará na memória” (El Mundo). Estreado em Março, Dr. Nest fala-nos de um psiquiatra que acaba de ser colocado num hospício muito especial, onde as fronteiras entre a sanidade e o delírio se diluem. Na Villa Blanca – assim se chama o sítio em questão -, tanto os doentes como o corpo médico parecem estar em contacto há demasiado tempo. Com a técnica do teatro físico que os tem consagrado internacionalmente, os cinco intérpretes desdobram-se em várias personagens para nos contarem uma história, a um tempo cómica e trágica, sobre a fragilidade humana.

Na Escola D. António da Costa apenas para uma apresentação, dia 16, às 22h com bilhetes a 15€.




FESTIVAL DE ALMADA | COLÓNIA PENAL

Festival de Almada: Colonia penal
Colónia penal

Para o teatrólogo francês Michel Corvin, Colónia penal constitui “um verdadeiro santuário do imaginário” de Jean Genet (1910-1986). Sendo uma peça inacabada, nela o autor de Os negros reconstitui, em estilo biográfico, a sua própria experiência da vivência prisional. Neste texto não existem actos, mas sim uma sucessão de cenas ligadas entre si pela presença constante de personagens marginais – que convivem, no meio do deserto, com os guardas e os administradores da prisão. A colónia penal, o degredo, consiste num espaço idealizado no qual a morte, ou a sua aproximação, se torna um tema iminente, a todos unindo e igualando. Para a criação deste universo, Genet utilizou várias formas de linguagem: desde a poesia à prosa, passando pelo guião cinematográfico. A contaminação entre as várias formas de escrita não exclui, portanto, o cinema: João Botelho realizou um Quadro das vítimas para o espectáculo.

No Teatro do Bairro, com bilhetes no valor de 12€, até dia 17 de julho. Segundas e terças-feiras às 18h (dias 9, 10, 16 e 17) e de quarta a sábado às 21h30.




FESTIVAL DE ALMADA | A ÚLTIMA ESTAÇÃO

Festival de Almada: A ultima estacao
A última estação

Na origem de A última estação encontra-se o assassino em série norte-americano Ted Bundy (1946-1989) – ou, mais exactamente, as semelhanças físicas entre este homem e Elmano Sancho. Da mesma forma que Bernard-Marie Koltès ficou obcecado pelo rosto de Roberto Succo, quando viu uma foto sua no metro de Paris, também o actor e autor português se lançou a investigar a vida de Ted Bundy, que matou mais de 35 mulheres. A dada altura, Elmano Sancho guardou o retrato do assassino junto às suas próprias fotografias, até que um dia alguém confundiu o seu rosto com o do criminoso. Foi esse o ponto de partida para uma reflexão sobre a violência e o desejo de transgressão na vida e na arte. A última estação interpela o conceito de dibukk, que na mitologia judaica representa o espírito ou o demónio que habita o corpo de cada um de nós, e apresenta a estrutura da Via Crúcis, as estações da Paixão de Cristo: a condenação à morte anunciada abre caminho a uma via dolorosa que culmina na inumação, mas que aspira à ressurreição, a XV e última estação.

De dia 16 a 18 de julho, às 19h, na sala experimental do Teatro Municipal Joaquim Benite, com bilhetes a 10€.




FESTIVAL DE ALMADA | NADA DE MIM

Festival de Almada: Nada de mim
Nada de mim

Um jogo de espelhos ou uma história de fantasmas. Assim se pode falar desta peça onde os tempos se sobrepõem, das presenças que por vezes não são mais do que memórias mas estão sempre por perto. Uma mulher madura e um homem mais novo que se mudam para um apartamento vazio. Parecem estar longe do mundo. Ali, o futuro já não existe e o passado está sempre a mudar, mas é radicalmente presente o confronto entre estes dois amantes, e de cada um consigo, e de ambos com o que veio antes – uma mãe, um filho, um marido, outras casas. E o perigo. O que liga duas pessoas? Um impulso recíproco, um sonho partilhado, velhas feridas? Mas não há qualquer naturalismo nesta abordagem da intimidade e da perda. Estamos a falar do risco de fechar os outros no nosso desejo, de os fecharmos naquilo que deles conseguimos dizer. Ali alguém se interroga, mas o reflexo é o nosso.

“Nada de mim” estará no Teatro da Politécnica pela mão dos Artistas Unidos com bilhetes a custar 10€ e 6€ (valor com desconto). Dia 10 (terça-feira) às 18h; 12 (quinta-feira)  às 18h00 e às 21h; dia 17 (terça-feira) e dia 18 (quarta-feira) às 19h; dia 11 (quarta-feira), 13 (sexta-feira), 14 (sábado), 19 (quinta-feira), 20 (sexta-feira) e 21 (sábado) às 21h.

Que tal? Alguma destas sugestões te fará ir ao Festival de Almada?

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