Hacks Temporada 3, a Crítica: Jean Smart e Hannah Einbinder, melhores do que nunca
“Hacks” regressou em maio de 2024 para a sua terceira temporada. Jean Smart e Hannah Einbinder continuam a brindar-nos com verdadeiro ouro, noutro ano repleto das melhores dinâmicas de personagem.
Na marca da sua terceira temporada, que começou a emitir na Max em maio de 2024, a comédia “Hacks” continua a explorar a invulgar mas rica mentoria entre a gigante da comédia Deborah Vance (Jean Smart) e a sua jovem argumentista Ava ( interpretada pela comediante Hannah Einbinder).
Mais do que uma amizade profunda, mais do que uma relação laboral, mais do que uma rivalidade pautada por admiração mútua e muita química, a relação de Deborah e Ava explorada na série “Hacks” parece-nos quase de carne e osso, como se Ava e Deborah tivessem conseguido fugir das amarras do seu argumento e tornando-se mulheres reais que se distinguem pelas suas preocupações e dinâmicas bem ancoradas no momento presente. É na sua humanidade, e também no seu humor, que a série continua a conseguir distinguir-se e a não precisar de grandes peripécias para se manter relevante e fresca.
Mulheres e o mundo da Late Night TV
Para o bem e para o mal, e neste caso maioritariamente para o mal, “Hacks” vê na jornada atual da sua heroína uma com muitos paralelos face ao mundo “real”.
Há pouquíssimo tempo, no início de 2024, foi anunciada a primeira mulher em muitos anos a apresentar um late night show. Depois da saída de James Corden do “Late Late Show”, o seu lugar será ocupado por Taylor Tomlinson (ver especial de standup Taylor Tomlinson: Quarter-Life Crisis na Netflix)
A0s 30 anos, Tomlinson será a única mulher a apresentar um programa de comédia nas noites da televisão norte-americana e também de longe a mais jovem na cena, dominada por homens de meia idade. O seu formato tentará atrair um público mais jovem para os night shows, que se tentam reinventar na idade do streaming.
No mundo de “Hacks”, nunca uma mulher apresentou um late night show. E embora a realidade do mundo real seja ligeiramente mais animadora, este lugar cobiçado, apresentar um programa da noite, é um sonho difícil e um com o qual a nossa protagonista Deborah Vance muito se debateu depois de quase o conseguir nos anos 80.
Na realidade, a primeira mulher a apresentar um late show foi a hilariante Joan Rivers, que muitas saudades deixa no mundo do entretenimento. Rivers lançou-se nestas lides de 1986, mas não iniciou uma nova tradição nos EUA. Antes pelo contrário, a comédia não deixa de ser um jogo jogado no masculino e parte da tensão desta terceira temporada de “Hacks” vem, precisamente, de ver Deborah Vance a tentar entrar neste “boy’s club”.
Deverá destoar? Derrubar a porta, ou antes tentar não agitar às águas? Entre escândalos com declarações do passado e jogos de reputação e expectativas, os demónios interiores de Deborah Vance são bem explorados, com tempo e a cadência correta, ao longo de uma temporada que nunca se apressa (e bem).
O pequeno grande feito que ocupa todo este ano de “Hacks” não deve ser menosprezado: Vance está finalmente próxima do seu grande sonho, mas a que custo?
Hacks e a magia de representar relações humanas ao microscópio
Como enorme, gigantesco ponto a favor da terceira temporada de “Hacks” é o tempo para desenvolvimento das relações entre as personagens a que este conteúdo se permite. Uma série de comédia de sucesso, galardoada e aclamada, “Hacks” encontra-se precisamente na posição de enorme privilégio de poder dar tempo ao tempo e aprofundar realmente o carácter não só das suas maravilhosas protagonistas como do elenco secundário e de apoio.
Por um lado, Deborah e Ava levam a sua amizade (e a sua rivalidade) a novos patamares, com particular destaque para um final surpreendente e verdadeiramente eletricizante, excelente na sua capacidade de gerar expetativa relativamente à já confirmada quarta temporada.
A família Vance e festas mais que imperfeitas
Outras relações são exploradas com atenção detalhada, com ênfase no agridoce e melancólico episódio de Natal, no qual a família (im)perfeita de Deborah é estudada com mais detalhe. Se a sua complicada dinâmica com a filha DJ continua um trabalho coeso e coerente, o grande destaque vai mesmo para o regresso de Kathy, a irmã mais nova de Deborah, e a fonte de muita da sua angústia e arrependimentos.
Os seus problemas estão longe de resolvidos, e é dilacerante, no melhor sentido, observar a tentativa mais ou menos bem sucedida no sentido de lamberem as suas feridas e ultrapassarem a cisão do seu passado (e o adultério que o assombra).
Jim, Kayla e a beleza das relações platónicas
Se as relações familiares e profissionais de Deborah Vance ocupam a esmagadora maioria do tempo narrativa, Jim e Kayla têm também tempo para evoluir como parceiros profissionais. Um pedido de desculpas num avião, onde a natureza platónica da sua relação é realçada uma e outra vez, é o ponto alto de uma narrativa que parece tirada de uma comédia romântica mas que na realidade se trata de uma disputa profissional e baseada em confiança.
Os clichés próprios do género são subvertidos com inteligência e muito humor, à medida que Jimmy (Paul W. Downs) e Kayla (Megan Stalter) parecem finalmente aprender a confiar mutuamente. Se existirá aqui algo mais, não sabemos, mas a recompensa emocional foi surpreendentemente rica para uma relação que começou por ser superficial e até algo irritante. Bravo!
No quarto ano de “Hacks”, Deborah e Ava irão enfrentar desafios profissionais inéditos e uma cisão pessoal como nunca antes. Os dados estão lançados para que esta continue a ser uma das grandes comédias do século XXI!
Hacks T3, a Crítica
Name: Hacks T3
Description: "Hacks" explora uma mentoria sombria que se forma entre Deborah Vance, uma lendária comediante de Las Vegas, e um pária arrogante de 25 anos.
Author: Maggie Silva
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Maggie Silva - 82
Conclusão
27 capítulos e 3 temporadas depois, “Hacks” mantém a validade da sua premissa à medida que Deborah Vance e Ava Daniels crescem como pessoas e profissionais e chegam a novos patamares. No terceiro ano, Deborah está prestes a cumprir um sonho de longa data e, uma vez mais, fica com as suas prioridades algo difusas. Da tensão extraímos momentos de humor, mas também de humanidade.
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