Looper – Reflexo Assassino, em análise

 

Título Original: LooperRealizador: Rian Johnson

Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Paul Dano

Género: Ação, Ficção Científica, Thriller

ZON | 2012 | 118 min

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Existe a ideia falaciosa de que Looper é o Matrix desta década, porém este último é um caso tão singular na cultura cinematográfica contemporânea (o que não quer dizer que a trilogia, como um todo, seja um marco paradigmático do que devem ser os filmes de sci-fi), que nem se compreende a razão de uma analogia despropositada, semelhante àquela (por sua vez inteligível e quiçá inevitável), que todos já fizemos em conversa com outros, falando automaticamente do Shutter Island logo após termos mencionado o Inception e vice-versa.

Looper não tem qualquer pretensão académica, mas lima as suas arestas argumentativas com o universo Nietzcheano, ao suscitar a seguinte questão ao espetador: “se te fosse permitido voltar atrás no tempo, eras capaz de matar um Hitler, Estaline, Ahmadinejad, George W. Bush, Idi Amin, Mussolini, Salazar, Putin, Bashar al-Assad, Richard S. Fuld, Alan Greenspan, Larry Summers, etc., quando estes tinham 5 anos, evitando todo o mal que alastraram em seu redor?”

Sendo um filme que nunca assenta na lógica do “mundo a preto e branco”, o script e a realização de Looper canonizam nas suas linhas, conforme poderão reparar os que já  tiveram o deleite de ver o filme, uma das maiores máximas do «Beyond Good and Evil»: “Whoever fights monsters should see to it that in the process he does not become a monster. And when you look long into an abyss, the abyss also looks into you.”

TM

 

O enredo é complexo, e por prevenção de equívocos faltosos, cingir-nos-emos à sinopse original.

Ambientado a um futuro (relativamente) próximo, o thriller de ação Looper – Reflexo Assassino transporta-nos para um lugar onde a viagem no tempo será inventada, mas proibida e apenas disponível nos mercados negros. Quando a máfia deseja livrar-se de alguém, enviarão o alvo para o passado onde um “looper” – um assassino contratado, como Joe (Joseph Gordon-Levitt) – o esperará com o dedo no gatilho, pronto a disparar.

Joe está de bem na vida. Bem-sucedido no trabalho, com dinheiro, boas perspetivas de futuro… até o dia em que a máfia deseja “fechar o ciclo”, enviando a versão futura de Joe (Bruce Willis) para que este seja morto, o que vai desencadear uma caça ao homem desenfreada que mudará o Amanhã.

Rian Johnson andava a deixar-nos da dúvida. Depois de uma estreia imensamente promissora na cadeira de realização com a singularidade de ‘Brick’ (2005), fez-nos questionar se estaríamos perante um caso de “sorte de principiante” depois de um largamente desapontante ‘Os Irmãos Bloom’, apenas três anos depois.

Podemos limpar a gotícula de suor da testa: Johnson é dos bons.

A narrativa é intricada e a mais criativa provavelmente desde ‘A Origem’ em 2010, e é gerida com segurança pelo realizador que infunde subtilezas e pedaços de alma, sendo bem auxiliando por um trabalho de câmara gracioso e fluído. A Johnson (e, claro, à equipa por detrás do design de produção) se devem também as merecidas congratulações pelos pequenos toques Western de extremo gosto dos quais soube tirar partido – silêncios, quietudes, sequências de espaço aberto, entre outros, apenas aproveitados para o melhor fim.

‘Looper – Reflexo Assassino’ consegue um equilíbrio raro entre uma viagem excitante e a inteligência que demonstra e que espera em igual medida do espectador. A pequena gema com toques q.b. de neo-noir faísca de dilemas existenciais e fatalismo carrega a premissa das “viagens no tempo”, sempre potencialmente venenosa, e Johnson permite-se a umas quantas batotices, mas nada temam: com um sentido de humor negro e ação entusiasmante, Looper raramente sai do bom trilho.

Se a função da maquilhagem era fazer Joseph Gordon-Levitt parecido a Bruce Willis, falhou. Se, por outro lado, esta pretendia apenas endurecer o aspeto do jovem rapaz que um dia, de cabelos longos, protagonizou ‘O Terceiro Calhau a Contar do Sol’ (1996-2001), então tudo certo.

Mas se a maquilhagem se pode estranhar, e não necessariamente entranhar, mais difícil será dizê-lo da sólida dupla protagonista. Joseph Gordon-Levitt está especialmente notável, uma vez que se nota perfeitamente nos jeitos e trajeitos que foi ele quem teve de trabalhar para “ser” Bruce Willis, e não o contrário – como aliás já se esperava.

Claro que tudo isto se torna melhor quando o elenco secundário é tão ou mais interessante do que o principal: Jeff Daniels é memorável como o líder da máfia, Paul Dano é afetante como um looper tramado e Emily Blunt que se mantém como a peça emocional mais importante de todo o enredo.

Não é difícil reclamar sobre incoerências no argumento, passagens inconsequentes, ou “desenvolvimentos que poderiam ter sido” – talvez o mais gritante neste último grupo, seja o caso intrigante da sub-plot de Kid Blue.

Mas um dos segredos para disfrutar em pleno da poção mágica de um enredo intelectualmente instigante e entretenimento de qualidade que Looper tem para oferecer é não procurar a ciência exata na ficção, e vice-versa.

Não é o tipo de filme que pressagia uma mudança na indústria, mas é claramente o tipo de filme que não vemos surgir no Cinema com frequência suficiente.

CO


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