Love & Mercy – A Força de Um Génio | Mini-Crítica
“Love & Mercy – A Força de Um Génio” acompanha Brian Wilson, co-fundador dos The Beach Boys, que ao longo da sua vida lutou contra os seus problemas mentais, drogas e isolamento da sociedade.
Abordando duas fases da vida do mítico Brian Wilson, líder dos The Beach Boys, a saber, o Brian do passado interpretado por um arrepiante Paul Dano – o melhor ator que ninguém conhece – e o Brian do futuro, encarnado pelo também fabuloso Jonh Cusack, “Love & Mercy” apoia-se na sua estrutura fragmentada para exaltar as perturbações psíquicas do seu protagonista. É aliás, nessa estrutura que deambula entre o passado e o futuro, que encontramos semelhanças com o biopic inusitado de Bob Dylan pelas mãos de Todd Haynes, “I’m Not There”. Já a alma e sofrimento aqui tão presentes a cada frame parecem ter como inspiração uma outra história, porventura mais trágica, retratada na obra de estreia de Anton Corbijn que levou ao grande ecrã a curta vida de Ian Curtis, dos Joy Division.
Desde a conceção do álbum “Pet Sounds”, alicerçado em flautas, sinos de bicicletas ou latidos de cães, até ao declínio mental para o qual muito contribuiu o seu tutor Eugene Landy (um monodimensional Paul Giamatti), “Love & Mercy” analisa fases da vida de um génio sem cair nos lugares comuns que habitam este género de cinebiografias. Para o realizador Bill Pohlad (produtor de “A Árvore da Vida” e “12 Anos Escravo”) não basta simular uma perturbação mental aguda ou um choro compulsivo de revolta enfeitados com tiques de vedeta e ao som de uma banda sonora de arrepiar. “Love & Mercy” vai direto à ferida, sem contemplações ou devaneios hollywoodescos, ainda que a imprecisão dos factos se torne evidente em determinados segmentos.
Apesar de tudo, é o contributo de Paul Dano e John Cusack que se que se revela decisivo. Embora apresentem aparências físicas distintas, a alma que ambos projetam consegue transformar a obra de Pohlad numa balança perfeita, sem que nenhum dos retratos das fases da vida de Brian Wilson se superiorize por demérito da outra.
A aura Lynchiana que se sente no último ato alimenta-nos os sentidos, mas é sobretudo a extraordinária cena final ao som de “Wouldn’t It Be Nice” que ficará nas nossas memórias como uma das imagens marcantes do ano cinematográfico.
O PIOR – O tempo passa demasiado depressa. Precisávamos de mais meia hora para assistirmos a um encaixe mais preciso entre as duas partes.
O MELHOR – Quase tudo. Com destaque para Paul Dano, John Cusack, uma surpresa chamada Elizabeth Banks e, claro, a banda sonora.
DR