Lume, primeiras impressões | O mistério de um incêndio
“Lume”, a nova série da RTP1 estreou esta sexta-feira 20 de junho à noite na televisão portuguesa. No dia anterior, estreou igualmente (na íntegra) na plataforma de streaming Max, em Portugal.
A história de “Lume” é, pois, protagonizada por Cristina Castaño (Lucía) e Albano Jerónimo (Júlio) e tem um incêndio transfronteiriço como o centro da narrativa.
Lume já estreou na RTP e Max
“Lume” é a nova série portuguesa para as noites de sexta-feira na RTP1. Trata-se de uma coprodução luso-espanhola entre a Coral Europa e a SeteMedia para a RTP e TV Galicia.
Nesta obra, Lucía Pereira (Cristina Castaño) é uma jornalista que volta à sua terra natal depois de vários anos de ausência para cobrir um grande incêndio. Contudo, essa não é a única razão do seu regresso… Lucía vai tentar forçosamente investigar as razões pelas quais o incêndio deflagrou, embora os agentes florestais que o combatem não deem pistas suficientes sobre o caso.
A importância de um bom começo
A série “Lume” começa logo com um incêndio a decorrer. Nesta sequência de abertura vemos um homem a correr. A sensação com que ficamos é de que ele é o culpado daquele grande incêndio. Sobretudo, porque em cenas seguintes, o vemos bastante nervoso. Mas será que ele é mesmo o incendiário?
Após o genérico, é-nos introduzida a personagem principal: Lucía. Com uma câmara fotográfica na mão, vemos que lhe interessa reportar aquele incêndio e que o mesmo incêndio lhe está a afetar. Perceberemos mais tarde que tem uma má memória de outro grande incêndio 30 anos antes… O trabalho de som e a montagem na pequena cena em que Lucía vê pessoas a saírem das suas casas está realmente bem conseguido e faz com que sintamos estar ali com ela.
Depois, Lucía segue caminho e fala com o seu chefe do jornal, Mário (Ricardo Pereira), enquanto Maca (Lúcia Moniz) recolhe a sua vaca que impedia a circulação na estrada.
Segredos do passado
Entretanto, Lucía chega até à Casa Maruxa para se instalar. É aí que descobrem a sua ligação a outro incêndio ocorrido 30 anos antes, quando o seu pai foi acusado de atear um incêndio e de, com isso, matar o seu próprio filho.
Mais tarde, com o Agente Salgueiro (Xúlio Abonjo) a chegar igualmente à Casa Maruxa, Lucía tenta falar com ele para saber novidades sobre o incêndio. É aqui que, após Salgueiro não lhe querer dizer nada de especial, entra o Cabo Júlio (Albano Jerónimo) – com quem Lucía já se tinha cruzado à chegada a Seara – que, ainda que não lhe diga nada, percebe-se o seu interesse em ajudar Lucía.
Júlio e Lucía conversam pela rua. Nesta conversa, sente-se alguma falta de tratamento no diálogo, onde os atores se sentem pouco à vontade. É pena que a qualidade de “Lume” se perca neste diálogo…
Enquanto isso, o homem que fugia do incêndio, Martim (João Estima), chega a casa de Maca e pede-lhe ajuda. Mais tarde, saberemos que é seu filho.
Todos reconhecem Lucía
É um novo dia e Lucía vê o seu carro vandalizado. Já não há qualquer dúvida de que lhe reconheceram e, quiçá, ainda vão achar que ela estará ligada a este novo incêndio…? Maca passa por ela e leva-a de boleia até uma oficina.
Nesta longa cena de carro em “Lume”, sentimos que a realização foi pensada um pouco à força (talvez devido à duração da conversa). Começamos com um plano de conjunto com as duas personagens – que está bem pensado -, mas, depois, a montagem é entre dois planos aproximados de cada uma das personagens. Aí, nem a composição nem a iluminação ajudam a fazer uma boa leitura da cena, onde os limites do carro têm uma presença demasiado grande nos planos. Teria sido melhor usar apenas o plano de conjunto ou, em alternativa, planos mais fechados ou mesmo no interior do carro.
Sem pneus para o carro de Lucía, Maca empresta-lhe, então, uma bicicleta. Entretanto, Martim tenta sair de casa, mas Maca impede-o. Por alguma razão, não ouvimos o que Martim diz quando tenta entrar no carro e é Maca que reproduz aquilo que ele diz. Não percebemos o porquê…
Pouco depois, Maca esconde a Lucía o facto de ele ser seu filho. Será que ele começou mesmo o incêndio e, por isso, ela esconde a sua identidade? O olhar que Maca faz, pouco depois, a Martim é notório de que ela sabe algo… “Se descobrires alguma coisa, por favor, avisas-nos? Preciso de saber com o que posso contar.”, diz Maca a Lucía.
Entretanto, Lucía chega até casa do seu tio. Quer remendar os erros do passado. Mas ele não quer falar com ela. Será que ainda há segredos entre eles? Esta é uma curta cena mas feita com bastante intensidade e profundidade pelos não-ditos de “Lume”.
Como começou o incêndio de Lume?
Pouco depois, Lucía quer saber pelos seus próprios meios mais informações sobre o incêndio e entra dentro das áreas vedadas. É expulsa pelos agentes florestais e, numa boa ligação de montagem, também é expulsa da Casa Maruxa.
Lucía acaba por passar a noite com Júlio a quem ela lhe revela de manhã que é a sua senhoria. Na cozinha, têm mais um diálogo onde se sente, mais uma vez, uma falta de trabalho no mesmo. Com falas forçadas, os atores não estão nada naturais e vê-se que não estão à vontade. Parece um mau arrufo de casal. No final da discussão, Lucía explica a razão de querer descobrir o culpado deste incêndio, quando não conseguiu provar a inocência do seu pai. Com isto metido tão a pontapé no meio do diálogo, sentimos que é uma informação que o espectador podia descobrir de outra forma…
Mais tarde, Martim acaba por voltar ao local de incêndio e recolhe uma máquina fotográfica dentro de uma mochila. Ouve barulho e corre. Vemos que Martim estará implicado no incêndio mas que pode não ter sido o responsável total…
Entretanto, deixam papéis sobre a origem do incêndio no para-brisas de Lucía e, assim, ela descobre que este incêndio foi provocado da mesma forma que o de 1993. Lucía quer tirar tudo a limpo.
Por fim, voltamos, ainda, a Martim que, ao regressar ao seu carro, vê que não tem travões. O final do episódio de “Lume” deixa-nos em suspense e queremos saber mais…
Lume Ep. 1
Conclusão
- “Lume” é a nova série luso-espanhola que estreou esta semana na RTP1 e Max. Com o foco da narrativa no incêndio florestal transfronteiriço, esta é uma série que traz um significado diferente para o Verão, numa época em que os incêndios florestais são uma constante.
- Ao longo de 6 episódios, vamos assistir à investigação deste grande incêndio pelo olhar da jornalista Lucía (Cristina Castaño). Para lá do significado deste incêndio, a personagem central traz-nos bastante profundidade porque sofreu com outro incêndio 30 anos antes. A série começou forte, ao não ser uma mera ficção à volta do incêndio e da sua investigação policial. No entanto, face à história do passado da personagem, se a narrativa não for bem trabalhada no decorrer da série, pode-se cair no risco de passarmos a ver uma telenovela. Esperemos que tal não aconteça…
- Em geral, este primeiro episódio está bem construído. No entanto, sentimos que os diálogos entre Cristina Castaño e Albano Jerónimo retiram qualidade à obra porque não estão minimamente bem pensados. Há, contudo, uma narrativa empolgante e que nos mantém com interesse.