Braga, primeiras impressões
“Braga” é a mais recente minissérie produzida pela RTP que promete combater o preconceito através do mistério e da reflexão.
Não é novidade para ninguém que a RTP tem vindo a apostar, cada vez mais, na produção de minisséries com menos de dez episódios, resultando em programas de entretenimento de grande sucesso. Cada uma destas séries abordam temas relevantes que têm a capacidade de capturar desde logo a atenção do espectador, não fosse este o canal público português. Algumas das produções mais recentes incluem títulos sonantes como “O Crime do Padre Amaro“, “Motel Valkirias” e “Cavalos de Corrida“.
Seguindo o padrão de programas produzidos até ao momento, a RTP lançou uma nova minissérie cheia de mistérios e que promete quebrar muitas barreiras culturais. “Braga” é o mais recente trabalho de Pedro Ribeiro, que está também disponível na RTP Play, tratando-se de um verdadeiro grito contra o preconceito e a xenofobia. Gravado na cidade que dá nome à série, este policial centra-se em dois grupos distintos – de um lado, um padre jovem que chega ao norte para assumir a paróquia, do outro lado, uma família cigana que procura ser aceite por uma sociedade tradicional e fechada em taboos.
Embora a minissérie “Braga” esteja dividida em seis capítulos, os traços gerais da narrativa são nos dados a conhecer logo no primeiro episódio. Em suma, António (interpretado por Helder Afonso) é um jovem padre que regressa a Braga depois de concluído o seminário em terras de sua Santidade para assumir o sacerdócio da paróquia. O seu caminho é rapidamente cruzado por Carlinhos (interpretado por Luís Henrique Matos), uma criança cigana que rouba para escapar às ameaças do irmão mais velho. No entanto, quando o miúdo é encontrado sem vida, o mistério começa a adensar-se e, em breve, os segredos acabarão por revelar as maiores obscuridades da alma humana.
Com a morte da criança logo nos primeiros minutos de série, o programa desenvolve-se em analepses, viajando frequentemente entre o passado e o presente. Note-se que estes saltos entre os dias estão bastante bem identificados, não permitindo que o espectador se perca na ordem cronológica. Curiosamente, as analepses seguem um código de cores que realça o período da ação. No passado, a fotografia parece recorrer notoriamente à cor amarela, e a tons mais quentes e vivos, representando a emoção e a euforia vertiginosa dos acontecimentos. Por outro lado, quando a história avança para o tempo presente, o ecrã é invadido pelo azul e tons mais frios, associados à morte da criança e à tristeza daí derivada.
Focando na escolha da cidade de Braga como cenário para esta minissérie, percebemos tratar-se de uma seleção inteligente, tendo em conta a relação estabelecida entre as características da cidade e os temas centrais da série. Assim sendo, desde sempre que este lugar está associado aos Arcebispos e aos homens da Igreja, tendo tido um papel fundamental no Cristianismo da Península Ibérica. Como tal, a figura de António contrasta com tradição eclesiástica portuguesa, deixando-nos perante um jovem padre moderno que se veste da maneira mais normal possível. Ao mesmo tempo, este homem mostra-nos o lado mais humano de um sacerdote, tendo dentro de si sentimentos que são fortemente constatados pela doutrina. Acima de tudo, este é um padre que procura ser fiel aos seus próprios ideais, lutando contra tudo aquilo que acredita ser injusto. O facto de António se aproximar de Carlinhos com o intuito de o ajudar, deixa um ambiente de alarme no ar tendo em conta os casos de pedofilia tornados público ao longo dos tempos, o que mostra a atualidade da série.
Posto isto, importa também mencionar um outro foco da série – a comunidade cigana. Para começar, Braga é também conhecida como a cidade onde todos são bem-vindos, mais que não seja pelas portas da antiga Bracara terem estado sempre abertas para bem receber quem desejasse entrar na cidade. Porém, a minissérie revela uma realidade diferente quando se tratam de pessoas de etnia cigana. Numa sociedade consumida pela xenofobia, “Braga” faz referência a muitos dos estereótipos associados aos ciganos, como a sobrevivência à conta do Estado e a falta de seriedade desta comunidade, tudo preconceitos que procuram ser combatidos através de um casal cigano honesto que luta pela integração na sociedade.
Para terminar, importa também realçar o facto de estarmos perante um elenco muito jovem, o que representa muito a população de Braga, considerada uma das cidades portuguesas com maior população juvenil, tendo, inclusive, sido Capital Europeia da Juventude em 2012. Uma vez mais, realça-se a escolha não aleatória da cidade para sediar esta nova minissérie da RTP.
Em suma, estamos perante uma poderosa produção que lida com temas sensíveis mas bastante atuais, sendo uma voz ativa contra os preconceitos da sociedade. Através do mistério, o espectador fixa-se rapidamente à história desta que promete ser mais uma grande série de sucesso da RTP.
TRAILER | BRAGA É A MAIS RECENTE MINISSÉRIE DA RTP
Tens acompanhado a série “Braga”? O que pensas da nova obra de Pedro Ribeiro?