Os melhores guarda-roupas de 2016 | 3. Mergulho Profundo

Um espetáculo de hedonismo e vivência epicúria, Mergulho Profundo é, sem sombra de dúvida, um dos filmes mais belos e bem-vestidos de 2016.

 


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mergulho profundo giulia piersanti raf simons a bigger splash

Já houve um tempo em que audiências iam em massa aos cinemas simplesmente para passarem uns bons bocados na companhia das luminosas presenças de estrelas de cinema a pavonearem-se em todo o seu glamour. Metade da filmografia de Norma Shearer nos anos 30, por exemplo, parece ter sido concebida com o singular pretexto de a exibir nas mais elegantes indumentárias que o figurinista Adrian conseguia conjurar. Hoje em dia, quando a presunção de realismo tomou conta de Hollywood e o escapismo desenvergonhado da era dourada dos estúdios há muito se converteu num sonho do passado, tais espetáculos de glamour e carisma são raros, mas não completamente inexistentes.

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O truque, estão a ver, é ir à procura desses projetos em filmes que não os de Hollywood. O exemplo específico que temos em mente é Mergulho Profundo, o remake de um thriller dos anos 60 que Luca Guadagnino apresentou no Festival de Veneza em 2015 e mais tarde veio a ser distribuído no circuito comercial em 2016. Focado nas férias italianas de uma estrela de rock que não pode falar por razões médicas, este drama hedonista é protagonizado por Tilda Swinton em modo David Bowie, Matthias Schoenaerts, Ralph Fiennes e Dakota Johnson, e, sem grandes exageros, podemos afirmar que este quarteto constitui o elenco mais sexy do ano cinematográfico.

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Parte dessa sensualidade vem do modo como os atores são filmados pela luxuriante câmara de Guadagnino, assim como dos comportamentos desinibidos que o texto exige, mas há que se dar grande crédito aos figurinos que escondem, ou revelam, os corpos das personagens. A grande responsável pela conceção deste guarda-roupa foi a figurinista Giulia Piersanti, que usou as suas ligações no mundo da moda para construir aqui uma visão absoluta de luxo contemporâneo que, como é comum na elegância das elites mais privilegiadas, não mostra um único sinal de esforço ou ostentação que quebre as regras do bom gosto.

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Não que luxo seja a palavra que nos vem à cabeça quando vemos a figura de Johnson, vestida em indumentárias meio juvenis e estudadamente reveladoras. Mas não se enganem pois os seus casacos cheios de caveiras e emojis, seus efémeros tops de renda e sutiãs vermelhos que deixam ver a sombra dos seus mamilos, e jean shorts tão curtos que mais parecem roupa interior de ganga são peças de designer. Afinal, dentro do filme ela interpreta a filha de um um produtor musical de grande sucesso e a sua descascada sensualidade não é nenhum acidente, mas sim a manifestação estilística de um jogo de provocação e choque que ultrapassa as barreiras usuais da moralidade e decência.

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Outra figura marcada pelo erotismo da sua indumentária é Paul (Schoenaerts). Só que, ao invés de rendas e transparências femininas, suas roupas apresentam uma sensualidade muito menos deliberada, expressa em calções práticos, mas reveladores das suas pernas musculosas, e t-shirts cheias de buracos, quais janelas de pele bronzeada, que lhe dão o ar de um artista boémio. Num panorama menos prático e mais atrevido do estilo masculino, Harry (Fiennes) veste camisas vistosas em padrões coloridos que raramente estão abotoadas, calções e calças de materiais ricos e estilos casuais, e a atitude bon vivant de um excêntrico aristocrata a passar o tempo em jogos de sedução e nostalgia erótica.

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A atriz escocesa, pela sua parte, é um desfile de uma só mulher vestida nas criações exclusivas do célebre Raf Simons que, enquanto ainda estava a liderar a Dior, colaborou com Piersanti na criação das roupas para a protagonista de Mergulho Profundo. Desde os conjuntos de espetáculo, meio glam, meio punk, que vemos em flashback, até às visões de elegância continental e sofisticação andrógina que ela enverga enquanto passeia pelas ruas de uma cidade costeira, todas as suas indumentárias são dignas de aparecer na capa da Vogue. Com tudo isto em conta, é um milagre que os figurinos do filme, e de Swinton, exemplifiquem cuidadas evoluções de personagem e dinâmicas visuais. Note-se, por exemplo, o contraste entre Swinton no princípio do filme, em fatos de banho claros e vestidos vaporosos e minimalistas, e a sua indumentária final, em preto-e-branco axadrezado. Da harmonia calma à confusão pesada e desgastante. Este filme é lindíssimo, mas, como qualquer história humana, por entre todo o seu prazer existe muito drama pronto a explodir.

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Abandonamos a simplicidade erótica da moda contemporânea em prol de um pesadelo de barroco fantasioso. Apesar disso, na próxima página, continuamos no panorama do cinema italiano falado em inglês.

One thought on “Os melhores guarda-roupas de 2016 | 3. Mergulho Profundo

  • Um Quarteto que nunca desilude e sempre nos surpreende da melhor forma: Giulia, Dakota, Luca e Tilda!

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