Monstros Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, em análise
Uma equipa peculiar para uma missão impossível, parceiros tornados rivais e o destino do mundo mágico na vénia de uma criatura fantástica. “Monstros Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” tinha o peso da saga aos ombros e consegue manter tanto o interesse como a magia vivas.
“The world as we know it is coming undone. Things that seem unimaginable today will seem inevitable tomorrow.”
O feiticeiro mais poderoso e mais misterioso do Wizarding World está no foco da terceira entrada na saga “Monstros Fantásticos” e, depois de um segundo filme bastante divisivo, tantas as expectativas como a necessidade de respostas era elevada. “Monstros Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” estreou no passado dia 7 de Abril de 2022 em Portugal e apesar de poder ser alvo de algumas falhas o filme consegue reparar problemas anteriores e mantém o momentum e a magia da saga.
Se em 2016 “Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los” reabriu a porta do mundo mágico, “Os Crimes de Grindelwald” criou uma completa entropia, abrindo demasiadas “portas” e “janelas”, o que deixou tanto a comunidade mágica como o público em grande turbulência. Um dos grandes sucessos de “Os Segredos de Dumbledore” é o de conseguir focar a história numa direção, fechando uma primeira parte da saga e deixando um capítulo em branco para o restante da narrativa.
David Yates regressa na realização, assim como David Heyman, J. K. Rowling, Steve Kloves e Lionel Wigram na produção. O argumento é de Rowling e Kloves. Warner Bros. Pictures é a produtora e continuamos com James Newton Howard na composição musical.
O elenco de muggles e feiticeiros inclui Eddie Redmayne, Jude Law, Ezra Miller, Dan Fogler, Alison Sudol, Callum Turner, Jessica Williams, Katherine Waterston, William Nadylam, Victoria Yeates e claro, a tão esperada estreia de Mads Mikkelsen no papel de Gellert Grindelwald.
Apesar de haver um consenso de que o novo filme consegue superar o seu predecessor, a realidade é que mesmo assim a nova estreia tem recebido críticas mistas. Com uma aprovação de 62% no Rotten Tomatoes, “Os Segredos de Dumbledore” apenas conseguiu uma avaliação de 49/100 no Metacritic. Com a performance de Mads Mikkelsen a ser apontada como um dos pontos de destaque, a maior desilusão parece centrar-se na perda do fator de atração do Wizarding World. Haverá ainda magia suficiente?
“Os Crimes de Grindelwald” foi recebido como um golpe duro de forma generalizada, criando um desencanto pelo universo mágico mais adorado do mundo. Enredos confusos, excesso de perguntas por responder, escolhas na história sem o aprofundamento suficiente, personagens subdesenvolvidas… houve um relaxar na solidez do argumento que pôs de certa forma em causa o futuro da saga. E assim, “Os Segredos de Dumbledore” por um lado tinha uma grande pressão por não poder falhar, enquanto por outro lado era difícil ser inferior à segunda longa-metragem da série. No final fica a meio caminho, consegue ser melhor que o predecessor, mas não supera o filme original de “Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los”. A faísca da magia está viva, mas não é tão fantástica como no passado.
Vários anos após os eventos do seu antecessor, o novo filme mostra Albus Dumbledore a montar uma destemida, se bem que peculiar, equipa liderada por Newt Scamander com a missão, aparentemente impossível, de impedir que o feiticeiro negro Gellert Grindelwald e o seu exército tomem conta do mundo mágico.
Um dos fatores que parece ter ajudado a corrigir as pontas soltas deixadas anteriormente na narrativa foi o regresso, após dez anos, do argumentista original de Harry Potter, Steve Kloves, que foi contratado para ajudar J.K. Rowling.
Dois dos problemas pesados que os argumentistas tiveram de equilibrar bem na balança foram a resolução da linhagem de Credence como um Dumbledore e a distinção de Grindelwald como um vilão mais político que Voldemort, e não apenas uma encarnação do mal. Ambos conseguiram ser resolvidos num aceitável grau de sucesso.
O chocante twist de Credence ser um Dumbledore, que parecia quebrar tudo aquilo que anteriormente sabíamos, consegue ser integrado na escala maior do universo de Harry Potter. De fato, “Os Segredos de Dumbledore” assemelha-se em muitos aspetos a “Harry Potter e os Talismãs da Morte”, aprofundando alguns aspetos da família Dumbledore que foram abordados no livro, mas onde não houve tempo para serem explorados no filme. E esta nova produção ganha não apenas ao dar-nos a conhecer mais de Albus, mas também daqueles que o rodeiam, principalmente do seu muito desconhecido irmão Aberforth. Importa destacar outro ponto alto do filme, que foi o confronto entre Albus e Credence. Nesta curta, mas intensa luta, fica mais que claro o porquê de Albus ser o feiticeiro mais poderoso do Wizarding World.
Relativamente às ambições do feiticeiro negro, juntando a já habitual expansão do mundo mágico que “Monstros Fantásticos” nos habituou, coordena-se a introdução da Confederação Internacional de Feiticeiros com a jogada de poder de Grindelwald. É arrepiante a ligação que pode ser feita com o atual crescimento da extrema-direita com o enorme apoio dado ao vilão pela comunidade mágica. Apesar de tudo a equipa produtora não quis complicar em demasia as questões politicas, o que poderia ter dado mais estrutura ao filme e uma abordagem mais madura.
Independentemente de considerarmos Johnny Depp como um bom ou mau Grindelwald, é inegável que Mikkelsen interpreta um excelente vilão. A relação do ator com Jude Law fornece um carisma genuíno à dinâmica entre Dumbledore e Grindelwald, que alimenta esta relação de amor e desgosto entre os dois. Uma grande vitória a celebrar no filme é também a mais que atrasada confirmação da relação de homossexualidade entre as duas personagens. É um aspeto enriquecedor na pluralidade e integração de minorias tanto no Wizarding World como em grandes sagas do cinema. Dumbledore é gay e com orgulho!
Terminando a análise dos pros do filme: no que toca a monstros fantásticos, o Qilin destaca-se pela sua forte mitologia e importância no mundo mágico, sem falar que a cena inicial foi bastante impactante. Há que aplaudir a equipa de Scamander que funcionou muito bem, impressionando desde a sua apresentação no trailer. Desde a dupla de irmãos até à introvertida Bunty conseguimos estabelecer um mínimo de interesse por todos os elementos. Digno de destaque é ainda a introdução da personagem de Jessica Williams, Eulalie Hicks, uma professora de Ilvermorny. A uma personagem extremamente cativante e bem conseguida acrescenta-se uma maior integração e globalização do mundo dos feiticeiros, com os heróis a não virem apenas de Hogwarts.
Infelizmente, apesar de menos do que o filme anterior “Os Segredos de Dumbledore” deixa mesmo assim muitas perguntas sem resposta e explicações ficam por dar. Comecemos por analisar algumas: Onde está Nagini? (torcemos para o seu regresso imperativo) Porque não teve Tina um papel mais relevante (ou uma explicação mais credível para a sua ausência), quando a sua irmã Queenie necessitava de ser resgatada do lado negro? Faz sentido Yusuf Kama ter traído Grindelwald sem as suas memórias terem sido restauradas?
Vamos deixar a destruição do colar que unia Dumbledore e Grindelwald, impedindo-os de se enfrentarem, nas mãos do destino? Parece uma explicação demasiado preguiçosa. E pior é que a resolução da situação em si até faz sentido, pena é não ter sido enquadrada nos planos do Dumbledore. Planos esses que no final não parecerem mais do que uns rascunhos num guardanapo.
E talvez uma das perguntas mais relevantes, num conflito onde está em jogo a legitimidade dos feiticeiros deverem ou não dominar os muggles, não faria mais sentido um papel mais heróico para Jacob Kowalski? Não quero com isto dizer que Jacob não esteve nos holofotes e não tenha sido um dos MVP da história, aliás já tenho na minha lista de compras uma varinha de snakewood. No entanto, depois da farsa da tentativa de assassinato, levada a cabo por um muggle, a um dos candidatos a um dos mais altos cargos da comunidade mágica, para o restabelecimento da confiança entre os dois grupos não faria mais sentido o Qilin se ter ajoelhado também perante Kowalski? No plano de Dumbledore, qual a mensagem passada para os restantes feiticeiros sobre a importância dos muggles e das suas capacidades?
Outra falha quase imperdoável foi o reutilizar inapropriado de citações icónicas. Se querem utilizar a fala “Always” no universo de Harry Potter, depois do peso emocional que Snape empregou nela, não basta simplesmente largá-la sem construção afetiva, envolvimento ou impacto significativo. Palavras vazias, leva-as o vento.
Pensada inicialmente como uma trilogia, em 2016 foi confirmado por Rowling, que a saga de “Monstros Fantásticos” seria na verdade composta por cinco filmes. Nesta série de filmes seria abrangido todo o conflito com Grindelwald e a história ocorreria entre 1926 e 1945. No início de 2022, o produtor David Heyman revelou que o trabalho no argumento para a quarta entrada da franquia ainda não havia começado.
Perante tudo isto, e tendo em conta o final da longa-metragem estreada agora, uma importante questão que se coloca é se realmente ainda existe história relevante para mais dois filmes? Não estão as peças já dispostas para o confronto final entre Dumbledore e Grindelwald? Estamos perante pelo menos duas possibilidades: mais dois filmes com falta de exploração suficiente que possa explicar todos os enredos e atar todas as pontas da história; ou um final dividido em duas partes que consiga finalmente trazer uma história com o peso significativo, que todos os Potterheads estão à espera desde o começo da saga. Não queremos apenas um bom filme, queremos um filme épico, queremos um final memorável que deixe uma marca de culto no Wizarding World.
Em notícias relacionadas com o novo filme, depois de ter sido revelada a capa do terceiro capítulo de “Monstros Fantásticos” em formato de livro, a versão inglesa do argumento original de “Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore” está prevista ser lançada a 19 de Julho deste ano.
TRAILER | CONSEGUIRÁ A EQUIPA DE DUMBLEDORE IMPEDIR O DOMÍNIO DE GRINDELWALD?
Johnny Depp ou Mads Mikkelsen, qual o teu Gellert Grindelwald?
E qual o teu filme favorito da saga “Monstros Fantásticos”?
Monstros Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, em análise
Movie title: Monstros Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore
Movie description: O poderoso Feiticeiro Negro, Gellert Grindelwald prepara-se para controlar o mundo dos feiticeiros. Sozinho, o Professor Albus Dumbledore não o conseguirá impedir, mas talvez consiga com a ajuda do magizoologista Newt Scamander e de uma equipa destemida de feiticeiros, bruxas e um corajoso cozinheiro muggle. Estará o domínio dos feiticeiros sobre os muggles iminente?
Date published: 7 de April de 2022
Country: EUA, Reino Unido
Duration: 143 minutos
Director(s): David Yates
Actor(s): Eddie Redmayne , Jude Law, Ezra Miller, Dan Fogler, Alison Sudol, Callum Turner, Jessica Williams, Katherine Waterston, William Nadylam, Victoria Yeates, Mads Mikkelsen
Genre: Aventura, Fantasia
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Emanuel Candeias - 73
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Manuel São Bento - 70
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Maggie SIlva - 67
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Marta Kong Nunes - 75
CONCLUSÃO
“Os Segredos de Dumbledore” consegue reparar erros do passado e focar a história numa direção, fechando uma primeira parte da saga e deixando um capítulo em branco para o restante da narrativa. A performance de Mads Mikkelsen, a equipa liderada por Newt Scamander e a narrativa em torno da família Dumbledore são os grandes pontos vencedores do filme. Anseia-se agora que a conclusão da saga nos próximos dois filmes consiga evoluir com as bases construídas e conquiste um lugar de fascínio no Wizarding World.
Pros
- Mads Mikkelsen como Gellert Grindelwald;
- Correção do rumo de “Os Crimes de Grindelwald”;
- Newt Scamander e a sua equipa nesta “missão impossível”;
- Os segredos de Albus e do resto da família Dumbledore;
- Continuação da expansão do mundo mágico.
Cons
- Não consegue superar “Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los”;
- Tudo o que fica por explicar;
- Pouco ambicioso, tanto em termos mágicos como em termos de história.