O Motelx está de regresso para a sua 14ª edição, entre 7 e 14 de setembro, no Cinema São Jorge. Continuamos a nossa viagem pelas longas em competição pelo Prémio “Méliès D’Argent”(Competição Internacional). Desta vez encontramos “Pelican Blood”, aguçado drama familiar oriundo da Alemanha.
O MOTELx – Festival de Terror de Lisboa está de volta com uma programação diversa e com uma competição europeia repleta de longas-metragens provenientes de múltiplos países do velho continente.
Nesta competição encontramos “Pelican Blood”, um drama familiar que resulta de uma co-produção entre a Alemanha e a Bulgária. O filme acompanha a história de Wiebke, uma treinadora de cavalos que vive numa idílica quinta Nicolina, a sua filha adotiva. Esta mãe e filha levam uma existência harmoniosa com poucos problemas e bastante coesão. Isto até ao dia em que Wiebke viaja até outro país para adotar, finalmente, uma segunda filha.
A criança escolhida é Raya, uma menina de cinco anos. Raya é tímida e dócil, mas após as primeiras semanas a discreta menina começa a tornar-se cada vez mais hostil e agressiva. Aparentemente demovida de emoções e acima de tudo de empatia, Wiebke tudo faz para tentar criar um laço profundo com a problemática e traumatizada Raya. Até ao momento em que os seus actos e decisões se começam a tornar mais extremas, motivadas por uma urgência no sentido de estabelecer uma muito necessária ligação emotiva.
“Pelican Blood” é, no seu âmago, um drama familiar e um ensaio sobre relação afetivas e sobre os efeitos nefastos dos traumas em idade tenra. A segunda longa-metragem realizada por Katrin Gebbe explora o subgénero da “criança demoníaca” retirando-lhe as suas características mais sobrenaturais e focando-se acima de tudo em emoções e comportamentos extremamente humanos.
Povoado por metáforas que espelham o comportamento da progenitora no reino animal, “Pelican Blood” é muito pouco um filme de terror e muitos mais um thriller dramático, ou quiçá até um “mero” drama. Pouco encaixa sequer na programação do MOTELx e certamente não é a obra indicada para quem esteja à procura de uma espécie de “A Orfã”.
A narrativa vai mudando de rumo ao longo das duas horas de duração do filme, oscilando cada vez mais para o misticismo à medida que nos aproximamos do fim. Sem dizer mais, há que identificar esta evolução como errónea. Podemos estar no MOTELx mas a verdade é que “Pelican Blood” é demasiado realista para alguma vez ser verdadeiramente confundível com um filme de terror. É uma bênção e no caso desta programação, uma maldição.
“Pelican Blood” destacou-se no circuito de Festivais de Cinema na Alemanha e passou pela Competição do Festival de Veneza em 2019. Exibe pela segunda vez na sala 3 do Cinema São Jorge, no dia 10 de setembro pelas 20h35.
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