James Cosmo dá vida a Farder Coram na mais recente aposta da HBO | © HBO Portugal

Mundos Paralelos | James Cosmo em entrevista exclusiva

James Cosmo poderá não ter sobrevivido ao desfecho de “Game of Thrones,” mas a próxima grande aposta da HBO, “Mundos Paralelos,” irá trazer-lhe alguma redenção. À conversa com o ator escocês de 72 anos descobrimos que aceitou o papel de Farder Coram por ter consigo emocionar o vencedor do Óscar da Academia e produtor executivo da série, Tom Hooper.

Quem é Farder Coram?

James Cosmo: É um Gyptian, mas não um dos comuns. Ele esteve fora, é viajado. Soa diferente e comporta-se de forma diferente de muitos dos outros Gyptians. É um tanto mais… espiritual. Casou-se com uma bruxa, de quem teve uma criança, mas como é que isto aconteceu e qual a história é algo que eu não sei e que penso que ninguém sabe.

Imagino que Farder Coram terá abandonado os Gyptians nos seus 20, tendo regressado talvez há 10 anos como uma pessoa diferente, que viajou, conheceu e compreendeu certas coisas. Nem tudo, mas ele está ciente de bastante.

Como é que ele conhece Lyra?

JC: Bom, ele conhece-a quando ela é trazida pelos outros Gyptians, durante a sua busca pelas suas crianças desaparecidas. Lyra apercebe-se rapidamente que Farder Coram é um homem muito cuidadoso e atencioso. Em pouco tempo, ambos estabelecem uma relação de confiança. De todos os personagens em “Mundos Paralelos,” é nele que Lyra provavelmente mais confia.

Então, Lyra encara-o como um pai?

JC: Sim, ou como um avô. Na história, ele e Serafina Pekkala, a bruxa, tiveram uma criança que morreu durante um surto. Serafina quis destruir o mundo, Farder não o conseguia suportar. Não conseguia suportar a dor e por isso decidiu isolar-se. Nunca mais se voltaram a cruzar.

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Farder Coram vê em Lyra uma segunda oportunidade de parentalidade | © HBO Portugal

Quando estava a conversar com Tom Hooper, fizemos algumas cenas via Skype, e houve uma em particular onde Farder Coram conhece Serafina. É um momento muito interessante, porque quando estiveste numa relação há talvez 10 anos atrás, lembras-te sempre da pessoa como ela era nessa altura. O pior que podes fazer é vê-la como ela é agora. Ficas, “wow. Esta não é a minha memória. Esta não é a mesma pessoa por que meu me apaixonei.” No caso de Farder Coram, Serafina tem 300 e tal anos, mas aparenta 25. Não se veem há 40 anos e ela está exatamente na mesma, igualmente bela, ao passo que ele envelheceu e tem consciência disso. É realmente trágico porque Serafina diz-lhe “Eu consigo ver quem tu eras. Consigo ver esse homem.” É penoso, terrível. Penso que é por isso que Farder Coram se torna chegado a Lyra. Ele teve um filho, mas vê nela uma criança quase que abandonada e quer ajudá-la.

Farder Coram tem uma maior perceção do que o rodeia no que toca aos elementos místicos deste mundo?

JC: É óbvio que ele não é tão sábio como a Serafina, que já viajou através da Aurora Boreal e já viu de tudo um pouco. Ele tem um conhecimento muito superior à maioria dos Gyptians e penso que tem uma visão muito pessimista face ao desenrolar das coisas. Acredito que ele pense que tudo irá acabar de uma forma muito, muito má, porque no fundo não há ninguém com um comportamento correto.

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Como se preparou para este papel?

JC: Normalmente não gosto de ler o material fonte, mas neste caso li o primeiro livro. Quando fiz “Game of Thrones,” não quis ler nenhum dos livros porque poderiam estar lá aspetos da minha personagem que não estariam no guião da série. Não quero entrar para um projeto com uma espécie de bagagem, por isso, sim, normalmente vou diretamente ao guião.

Numa fase inicial, apenas recebi partes da história, só quando tive a conversa por Skype com o Tom Hooper é que quis realmente trabalhar com ele. Foi muito interessante porque lemos aquela cena que falei à pouco, onde Serafina paira, como se fosse um anjo, por cima de um precipício, em frente a Farder Coram, e o tema da morte do seu filho vem à baila. Ambos estão despedaçados. Tom disse uma coisa muito interessante nesta altura que “esse tipo de dor é como se fosse um novo órgão a crescer no teu corpo que só liberta dor e aperto no coração, algo sem comparação.” Isto foi literalmente o que ele disse, o que o fez chorar na gravação, algo que os produtores comentaram que nunca virão acontecer ao Tom, por isso fiquei realmente satisfeito. Pensei, “bom se eu o consigo fazer chorar, acho que nos vamos dar bem.”

Quais são os pragmatismos de fazer uma série como esta, com magia e dæmons imaginários?

JC: É três vezes maior do que o normal! Tens a parte das marionetas e a parte das pessoas com as marionetas. Depois fazemos outra parte onde usamos bolas brilhantes e outros adereços, e depois é que fazemos a parte da representação. Tudo demora muito tempo, mas acabas por te habituar. A parte com as marionetas é importante. É-nos pedido que desempenhemos os nossos papéis com elas. Não temos de o fazer com bolas brilhantes e assim, até porque devo admitir que não acho fácil trabalhar com bolas de ping pong. Ainda que já tenha trabalhado com atores menos animados que essa bola! Mas não é a coisa mais fácil do mundo.

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Como descreveria a história de “Mundos Paralelos”?

JC: Sei que [Phillip] Pullman é um famoso ateísta, mas não penso que este seja um livro particularmente anti religião. É um pressuposto anti religioso e o que pode correr mal com dogmas, quer sejam religiosos ou comunistas, ou outra coisa qualquer. O que não quer dizer que uma pessoa Cristã ou Comuna ou outra coisa não tenha valor. Mas qualquer um destes conceitos pode sair do nosso controlo de uma forma terrível, sendo apoderado por forças que nada têm a ver com crenças ou fé. Já leste o “Gulag Archipelago” de Solzhenitsyn, então conta-me como o socialismo é uma ideia brilhante. 90 milhões mortos? Isso é que foi um avanço.

Farder Coram embarca numa grande viagem no primeiro livro. Como foi filmar no cenário do Trollesund?

JC: Espetacular. Construíram uma mina perto de Merthyr Tydfill. Parecia uma cidade piscatória com um toque de Wild West, com as barras e tudo mais. A atenção ao detalhe era incrível, existia uma loja de alimentos enlatados. Passava por ela quase todos os dias e, ainda que nunca aparecesse nas gravações, tinha todos os produtos: feijões, lenteinhas, com todos os rótulos escritos numa língua do Norte. Era simplesmente lindo, leva-me a pensar “wow, o nível a que eles se dedicaram para tornar isto real.” E realmente dava essa impressão.

Como foi trabalhar com Iorek, isto é com um urso polar?

JC: Joe [Tandberg] usava uma teia de fibra de vidro na cabeça, vários picos na sua cara e uma GoPro que permite recolher todas as suas expressões, passando-as depois para o urso, juntamente com a sua voz. Ele esteve também em reservas de ursos, a estudar os seus movimentos e posturas, o que o tornou mesmo muito bom. Existe um modelo do maior urso polar gravado algures no cenário. Se estiver de pé e ele em quatro patas, estou ao nível dos olhos dele, tendo mais de 3 metros de altura quando se endireita. É gigante, uma besta massiva, e claro o urso polar com que Iorek luta é ainda maior. Essa cena será algo monstruoso de se ver.

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Iorek Byrnison será um dos aliados de Lyra na sua jornada | © HBO Portugal

Quem é o dæmon de Farder Coram?

JC: É um gato. Por vezes, colocam uma marioneta ali e dizem “olha para o teu dæmon” mas na maior parte dos casos sabes que ele será acrescentado à posteriori.

Se pudesse escolher, qual seria o seu daemon na vida real?

JC: Eu já tenho um dæmon. Chama-se Duke e é um Staffordshire Bull Terrier preto com três anos. Tenho uma grande carrinha velha e quando viajamos nela, ele vai no banco de trás com as patas da frente apoiadas no meu assento e a cabeça encostada à minha, e é assim que conduzimos para todo o lado. Só nós os dois. Ele é o meu melhor amigo, por isso é o meu dæmon.

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