Reese Witherspoon como Debbie Dunn, Zoe Chao como Minka |© Erin Simkin / Netflix

Na Tua Casa Ou Na Minha?, em análise

A Netflix regressa ao campo das comédias românticas com uma parelha clássica de protagonistas, Reese Witherspoon e Ashton Kutcher, e com realização e argumento de Aline Brosh McKenna (que assinou o argumento de “The Devil Wears Prada”). Será que “Na Tua Casa ou Na Minha?” enche as medidas? 

Dependendo da perspectiva, poderíamos argumentar que os géneros mais difíceis de executar na perfeição são a comédia romântica e o filme de terror. Porquê? Pois estes são os géneros fílmicos mais povoados por ‘tropes‘, ou lugares-comuns. Um drama pode ter mil origens ou estruturas narrativas, fins e começos sem limitações. Já uma comédia romântica terá de obedecer a um conjunto de regras, ou antes, tentar subvertê-las e variá-las, para construir uma história criativa e que ao mesmo tempo seja capaz de reconfortar quem vê.

A corrida final pelo aeroporto, os obstáculos e desentendimentos, o ‘meet-cute’, momento em que os protagonistas se encontram, como se de destino se tratasse. Uma boa comédia romântica deve também ser engraçada, colocando as personagens em situações caricatas, mas sem que estes pontos de partida comprometam o que mais “importa”: a química entre a parelha central.

As melhores e mais memoráveis comédias românticas equilibram na perfeição todos estes elementos: De “Notting Hill” ao “Feitiço do Tempo”, de “Que Belo Par de Patins” a “Palm Springs”, passando por “10 Coisas que Odeio em Ti” ou “As Meninas de Beverly Hills”, todos estes títulos têm em comum serem povoados por personagens memoráveis, ou, pelo menos, por personagens banais em situações extraordinárias.

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Para além da capacidade de criar comédia e romance em doses equilibradas, uma boa ‘rom-com’ deve também criar a química perfeita entre protagonistas. O seu amor deve ser palpável, credível e inevitável. É aqui que “Your Place or Mine” começa a falhar redondamente e nunca mais recupera.

witherspoon kutcher netflix

Uma produção da Netflix para o Dia de S. Valentim, “Na Tua Casa ou Na Minha?” é a história de Debbie (Reese Witherspoon) e Peter (Ashton Kutcher), dois melhores amigos que se conhecem há vinte anos, tiveram um caso de uma noite na sua casa dos 20, e que agora mantêm uma relação de amizade profunda, mas à distância. O filme começa com um split screen curioso, numa das decisões de realização mais felizes por parte de Aline Brosh McKenna, uma produtora e argumentista experiente, mas que aqui se estreia na cadeira da realização.

O split screen consegue simular a proximidade entre as duas personagens, embora durante 99% das quase duas horas de filme, a Debbie de Reese esteja em Nova Iorque e o Peter de Ashton esteja em L.A. À medida que os protagonistas vão cumprindo o seu objectivo – Pete cresce emocionalmente ao confraternizar com o filho de Debbie, e Debbie re-descobre a sua paixão por literatura e abandona as suas expectativas como “pessoa prática” – vão-se afastando cada vez mais um do outro.

Debbie até se envolve com um agente literário charmoso, o Theo de Jesse Williams, um par perfeito em todos os campos e, acima de tudo, emocionalmente disponível. No final do filme, hora de precipitar o final inevitável – Debbie e Peter deverão encontrar-se e ficar juntos. Mas este pequeno twist, o de manter o par romântico afastado durante todo o filme, acaba por se virar contra o argumento escrito pela também realizadora.

Na Tua Casa ou Na Minha? 2023
Wesley Kimmel como Jack, Ashton Kutcher como Peter|© Erin Simkin / Netflix

À medida que a obra termina, a verdade é que só imaginamos Debbie com o seu novo amor – o agente literário Theo. Qualquer outra opção não toma, pura e simplesmente, a sucessão de eventos em consideração. Outro pecado capital é que nem as nossas personagens são extraordinárias, nem o cenário o é. E claro, outro problema é nunca compreendermos as motivações de Debbie (a personagem tem tanto medo de quê?) ou de Peter (o medo de compromisso vem de onde?).

Como cereja no topo do bolo, “Your Place or Mine” não é de todo um filme engraçado. Nem tão pouco nos faz esboçar um sorriso. E embora “Na Tua Casa ou Na Minha?” esteja a ser um sucesso de visualizações na Netflix, a verdade é que a sua história não se faz sentir nada senão genérica. Co-produzida pela “Hello Sunshine”, a produtora de Reese Witherspoon, que tem vindo a desenvolver, com produções como “Big Little Lies” ou “Morning Show”, um excelente reportório de histórias no feminino, bem espremida esta história não tem muito sumo.

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É agradável ver que protagonistas como Ashton Kutcher ou Witherspoon, 20 anos depois do seu auge de rom-coms, ainda conseguem suportar, sem problemas, uma história deste género. Tal mostra sinais de mudança positivos na indústria, mas não é suficiente. O filme tenta também equilibrar os seus géneros ao introduzir a personagem “Zen”, um excêntrico que vive perto de Debbie e que passa o dia a arranjar-lhe o quintal…todos os dias. Zen é excêntrico, fiel a Debbie e …ilógico. Este personagem tenta assumir o papel do icónico sidekick da comédia romântica – tenta-se copiar a fórmula de um Rhys Ifans como Spike em “Notting Hill”, por exemplo – mas sem qualquer sucesso, originalidade ou humor.

Zen Na tua casa ou na minha
Steve Zahn como Zen. Crédito: Erin Simkin / Netflix © 2022

Existe também outra camada, pertinente para um nicho bem mais pequeno daqueles que verão este filme. É que apesar de ter escrito algumas narrativas de comédia romântica bastante básicas, como “27 Dresses”, Aline Brosh McKenna foi também responsável pelo icónico e inteligente argumento de “O Diabo Veste Prada”.

Além disso, a argumentista e produtora co-criou também “Crazy Ex-Girlfriend”, uma série que assumidamente brinca e subverte as expectativas das comédias românticas. Da protagonista e co-criadora Rachel Bloom à atriz de apoio Vella Lovell, são inúmeros os atores de “Crazy Ex-Girlfriend” que dão uma perninha neste filme. O seu carisma, contudo, nada é capaz de fazer face ao argumento pouco inspirado do filme. Quiçá apenas tenha sorrido quando Bloom imitou uma empregada a ser estrangulada, e por isso agradecemos estes pequenos cameos (que novamente, apenas hão-de importar para uma base de fãs restrita).

CEG Rachel Bloon Your Place or Mine
Nem a visita de intérpretes de “Crazy Ex-Girlfriend” anima o argumento mortiço | © Rachel Bloom como Scarlet. Cr. Erin Simkin / Netflix

Como alguém que já foi capaz de inverter os paradigmas da comédia romântica, Aline Brosh McKenna deixa a desejar em “Na Tua Casa ou Na Minha?”, criando uma narrativa que certamente não integrará os cânones.

TRAILER | NA TUA CASA OU NA MINHA? NA NETFLIX DESDE 10 DE FEVEREIRO




Na Tua Casa ou Na Minha?, em análise
Na Tua Casa ou na Minha

Movie title: Na Tua Casa ou Na Minha?

Movie description: Debbie (Reese Witherspoon) e Peter (Ashton Kutcher) são melhores amigos e extremos opostos. Ela não dispensa a sua rotina com o filho em Los Angeles, ele adora a mudança constante em Nova Iorque. Quando trocam de casas e vidas durante uma semana, descobrem que aquilo que pensam querer pode não corresponder ao que realmente precisam.

Date published: 26 de February de 2023

Country: EUA

Duration: 111'

Author: Aline Brosh McKenna

Director(s): Aline Brosh McKenna

Actor(s): Reese Witherspoon, Ashton Kutcher, Jesse Williams

Genre: Comédia, Romance

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  • Maggie Silva - 55
55

CONCLUSÃO

No primeiro filme realizado por Aline Brosh McKenna (argumentista de “O Diabo Veste Prada”) a inspiração é substituída por uma soma de clichés do género da comédia romântica. Quanto ao produto final, falta-lhe paixão e chama.

Pros

  • O elenco, das personagens mais secundárias ao facto de ser encabeçado por estrelas que são já “clássicos” da comédia romântica.
  • O uso do split screen para simular proximidade (embora seja usado em demasia).

Cons

  • A falta de proximidade e de chama entre os dois protagonistas.
  • O argumento, repleto de lugares-comuns.
  • A falta de coerência do final.
  • A figura de Zen, um sidekick mal construído que vive na sombra de personagens semelhantes.
  • A total falta de humor, essencial à rom-com.
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