O Fantástico Mundo de Juan Orol, em análise

El_fantástico_mundo_de_Juan_Orol
  • Título Original: El fantástico mundo de Juan Orol
  • Realizador: Sebastian del Amo
  • Elenco: Roberto Sosa, Karin Burnett
  • Género: Comédia/Drama
  • 2012 | 94 min

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Sebastian del Amo pega na essência de Juan Orol e dá-lhe o reconhecimento que este nunca teve em vida.

 

Juan Orol (Roberto Sosa) foi um dos grandes realizadores da era de ouro do cinema mexicano. Mas a sua grandeza não foi obtida pela qualidade dos seus trabalhos mas sim pela falta desta. O seu legado ficou marcado pelos seus fracos dotes de realização e de todos os seus filmes terem inúmeros erros de continuidade, o que se pode verificar em mais de 50 trabalhos por ele assinados. Mesmo sem a melhor das reputações, Orol defendeu sempre as artes e o seu trabalho que tanto amava. Ele foi um grande admirador e defensor do “Cine Negro Mexicano”, popularmente conhecido por “Cine de Gangsters”, assim como dos filmes Rumberas, que era um sub-género da era de ouro do cinema mexicano, nos quais o palco principal da ação eram cabarets. Apesar de terem sido os seus filmes a definirem este sub-género, que marcou a história do cinema mexicano, Juan Orol é por muitos classificado como o Ed Wood mexicano.

 

Sebastian del Amo fez um trabalho magnífico ao trazer esta figura para o grande ecrã. Como é que se poderia contar a história de um homem que por muito que tentasse, por mais filmes que fizesse, nunca ia conseguir o reconhecimento de que tanto ansiava? Uma história como esta, com uma personagem tão caricata como Orol, só podia dar uma comédia, que Sebastian del Amo não tem problema nenhum em tornar absurda. Com a falta de informação em relação a este homem, foi preciso inventar mais um pouco para tornar o filme mais recheado, mas nunca demais. Apesar de no filme ele se ter casado com cerca de cinco mulheres, apenas se sabe que ele casou de facto com duas delas, Rosa Carmina e María Antonieta Pons.

 

Juan_Orol

 

Outros aspetos que se afastam de qualquer realidade conhecida sobre este senhor, e que estão abordados no filme, é a sua passagem pela luta contra a máfia e o seu outro eu, Johnny Carmenta. Visto não haver qualquer registo disso, o tempo que em Juan Orol esteve a trabalhar para os serviços secretos mexicanos pode apenas ter sido algo que del Amo decidiu adicionar ao filme para justificar a obcecação que Orol tinha pelos filmes de gangsters, sendo que tinha feito parte deles e que tinha gostado desses tempos. A sua dupla personalidade pode ter tido dois efeitos pretendidos. Criar mais momentos cómicos ou ser um reflexo do homem que Orol podia e tinha tudo para ter sido. Johnny Carmenta foi a personagem principal, e por ele representada, no seu filme mais marcante. Muitas vezes quando este aparece é porque Juan está perdido e não sabe o que fazer, sendo então altura de Carmenta entrar em ação e tentar orientá-lo na direção do sucesso, como fez em “Gángsters contra charros”. Duas grandes escolhas que tornaram o filme e a personagem ainda mais ricos.

 

Este filme ganhou três prémios Ariel, o equivalente aos Óscares mexicanos, entre os quais o de melhor guarda-roupa, departamento da responsabilidade da neta de María Antonieta de Pons, que concedeu os vestidos que a sua avó usava na altura, melhor fotografia e melhor ator para Roberto Sosa. Todos eles foram merecidos, mas aquele que sem dúvida não podia ter escapado foi o de Sosa que faz um papel fantástico como Juan Orol. Apesar de ser uma “comédia absurda”, Sosa respeita a personagem e nunca o faz passar por ridículo, mas sim como um homem sonhador e lutador que por muito más que as coisas estejam, nunca cruza os braços.

 

Orol viveu todas as grandes transformações do cinema mexicano, desde os filmes mudos a preto e branco até aos filmes com som e a cores. Del Amo mostra essa evolução através da sua realização. Os tempos da infância de Orol são-nos apresentados a preto e branco e sem som, onde o que nos faz perceber a história são os separadores com as falas escritas. Mas pouco tempo depois, já os filmes tinham som e por isso já conseguimos ouvir os disparates de Orol pela sua voz. Só mais tarde, já quase no final da sua vida, é que apareceram os filmes a cores que pouco fizeram por ele.

 

Juan Orol é uma figura inesquecível que será para sempre marcado pelos filmes de baixa qualidade, mas, se serviram de inspiração para um filme tão fantástico como este, não foram em vão. Sebastian del Amo dá a Orol a grandeza deste que poucos tinham visto até agora.