The Lighthouse | © 2019 A24 Films

O Farol, em análise | Made in USA

Made in USA: título da obra de Jean-Luc Godard de 1966 e também o nome da rubrica que hoje estreamos. Diretamente dos EUA, trazemos as primeiras impressões dos filmes que estão a agitar a temporada de prémios e que poderão ser vistos em Portugal nos próximos meses. O filme em destaque hoje é “O Farol“, de Robert Eggers. 

Nos resquícios do século XIX, Thomas Wake (Willem Dafoe), responsável pelo farol de uma ilha isolada na Nova Inglaterra, recruta o jovem Ephraim Winslow (Robert Pattinson) para substituir o seu anterior ajudante e colaborar nas mundanas tarefas de um local místico e claustrofóbico, cercado por gaivotas e permanentemente assaltado pela contundente ondulação marítima. Fica desta forma estabelecido o ponto de partida deste conto delirante de Robert Eggers (“The Witch”), que de seguida evolui para um retrato naturalístico e poético, mas não menos perturbador, de uma relação antagonizada entre dois seres humanos que são obrigados a conviver meses a fio um com o outro.

Eggers filma “O Farol” em 1.19:1 capturando a imagética daquela ilha num deslumbrante e vívido preto e branco, a lembrar os grandes clássicos do expressionismo alemão. O formato visual escolhido por Eggers não é uma afirmação do estilo acima da substância, mas é antes uma elevação da substância por intermédio do estilo. Aqui, o ambiente claustrofóbico e, a dado instante, profundamente insano, é formatado pela cinematografia de Jarin Blaschke, que se assume como a personagem principal de uma narrativa habitada por mais dois humanos e uns quantos seres vivos sobre os quais não revelaremos mais detalhes de forma a não arruinar a experiência cinematográfica de quem nos lê.

O Farol
O Farol © A24

Nos papéis centrais estão Willem Dafoe e Robert Pattinson que protagonizam uma descida ao delírio perpetrada em parte pelo álcool, mas fundamentalmente pela luz incandescente e mítica daquele farol. Dafoe, apoiado em linguagem folclórica  (de difícil digestão sem legendas) e com menções a mitologia grega, é extraordinário na interpretação de um velho guarda de farol que ostenta um papel intimidatório face ao personagem de Pattinson. Este por sua vez assume, até dado momento, uma postura reativa face às importunações constantes orquestradas pela personagem de Dafoe. No entanto, a interpretação de Robert Pattinson, ao contrário da de Dafoe, transmuta-se ao longo da narrativa e é consumida pela loucura que o filme emana. São duas interpretações para juntar ao livro de memórias de 2019.

Lê Também:   The Lighthouse | Robert Pattinson e Willem Dafoe insanos no novo trailer

Contudo, o mais fascinante de “O Farol” é o seu final, capaz de gerar reações extáticas, e a sua intrínseca ambiguidade. Eggers criou uma densa alegoria, um filme de culto instantâneo, que nos vai fazer falar dele muito para além do momento em que os créditos finais começarem a rolar.

Nota: A escrita deste artigo resulta do visionamento do filme nos EUA, onde estreou a 18 de Outubro. A sua primeira exibição em Portugal acontecerá no LEFFEST 19.

O Farol
O Farol

Movie title: The Lighthouse

Date published: 6 de November de 2019

Director(s): Robert Eggers

Actor(s): Robert Pattinson, Willem Dafoe

Genre: Drama, Thriller psicológico

  • Daniel Rodrigues - 83
83

CONCLUSÃO

O Melhor: A cinematografia, a banda sonora, o design de produção (quem diria que aquele farol tinha sido construído de raiz para o filme). E a melhor dupla do ano: Robert Pattinson e Willem Dafoe.

O Pior: A sensação de que, em certos momentos, Eggers poderia ter explorado mais o estado emocional dos seus personagens e ter tornado “O Farol” numa obra menos fria e cinzenta.

Sending
User Review
0 (0 votes)
Comments Rating 0 (0 reviews)

Leave a Reply

Sending