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O Telefone Negro, em análise

Existem muitos cineastas que têm oportunidades infindáveis independentemente do sucesso dos seus filmes. Também existem muitos cineastas que têm imensas dificuldades em “subir na carreira” independentemente do quão bem recebidos e financeiramente lucrativos sejam os seus projetos. Considero Scott Derrickson um exemplo deste último grupo, apesar de não ser assim tão consistente. Sendo assim, o seu regresso – cinco anos inativo – com “The Black Phone” foi altamente antecipado.

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Desde The Exorcism of Emily Rose a Sinister e terminando em “Doutor Estranho”, é algo estranho que um realizador tão talentoso e capaz de transformar orçamentos reduzidos em filmes visualmente imersivos não possua mais chances de brilhar. Não perdendo tempo e indo direto ao assunto: esperava mais. Afirmo, desde já, que não podia estar mais contente por ver The Black Phone obter uma receção fantástica, tanto por parte dos críticos como do público geral. Sem dúvidas, merece a visita ao cinema e, tendo em conta as reações iniciais, dificilmente alguém sairá insatisfeito. Infelizmente, desta vez, caio no lado da minoria. As expetativas não eram propriamente baixas e a premissa deixou-me particularmente entusiasmado, para além do casting de Ethan Hawke como The Grabber, o homem responsável pelo rapto e homicídio de várias crianças. Assim, fiquei surpreendido pela negativa com o caminho simples e genérico que o argumento de Derrickson e C. Robert Cargill acaba por seguir.

O primeiro ato é possivelmente o mais forte. Introduz os irmãos Finney (Mason Thames) e Gwen (Madeleine McGraw) belissimamente, focando-se na sua relação adoravelmente próxima para criar uma ligação igualmente sólida com os espetadores. Ao viverem os dois com um pai abusivo e alcóolico, a proteção mútua e o carinho tremendo que têm um pelo outro passam o exemplo de como todas as relações familiares deveriam ser. Nesta fase inicial, é também estabelecida uma atmosfera constantemente insegura e gradualmente mais tensa, sendo mesmo o aspeto técnico do qual The Black Phone beneficia mais, especialmente quando o horror passa a controlar por completo o grande ecrã, após o sequestro de Finney.

O Telefone Negro
Scott Derrickson em “O Telefone Negro” © Universal Studios

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Qualquer obra de horror que se importe mais com as suas personagens do que com jumpscares baratos merecerá sempre toda a minha atenção. A visão clara e o estilo distinto de Derrickson criam um filme visualmente cativante, mas acaba por ser a narrativa demasiado formulaica que não permite a The Black Phone atingir o seu verdadeiro potencial. A componente sobrenatural começa como um elemento interessante, mas à medida que a história se desenvolve e as revelações se esgotam, torna-se repetitivo e reduz significativamente os níveis de entretenimento e suspense. Pessoalmente, antecipava maior criatividade em vez de apenas mais uma variação de algo que já se testemunhou centenas de vezes.

O melhor que The Black Phone tem para oferecer a Hollywood são mesmo os jovens atores. Qualquer filme que possua crianças ou adolescentes como protagonistas coloca automaticamente o sucesso de toda a obra em risco. São muito poucos os atores mais novos e inexperientes que realmente conseguem entregar prestações convincentes, mas Thames e McGraw não só convencem como impressionam. De longe, duas das performances mais surpreendentes por parte deste tipo de atores que assisti na última década. Enquanto que a atriz consegue trazer imensa emoção e expressividade ao seu papel, Thames não sente problemas em liderar um filme deste calibre.

O Telefone Negro
Ethan Hawke em “O Telefone Negro” © 2021 Universal Studios

Por outro lado e indo parcialmente contra a maré gigante de apreço pela prestação de Ethan Hawke, o seu personagem é um dos elementos cujo potencial ficou à porta. The Black Phone não desenvolve absolutamente nenhum detalhe sobre o serial killer lunático, deixando The Grabber como um mero homem mascarado assustador. O problema não se encontra em possuir um antagonistas malvado simplesmente porque ser malvado – até defendo que Hollywood devia jogar esta cartada mais vezes – mas sim no seu tempo de ecrã desapontantemente curto. Hawke parece estar a dar tudo o que tem, mas como grande parte do tempo encontra-se de máscara, é difícil de me surpreender com a sua interpretação.

Fica uma última nota e recomendação de evitar a todo o custo quaisquer trailers. Se o primeiro mostra literalmente todo o filme, estragando todas as surpresas e desenvolvimentos narrativos, nem quero imaginar os seguintes. The Black Phone não possui muitos jumpscares, mas Derrickson consegue criar um build-up extraordinário para o primeiro que me fez virar algumas pipocas. Quanto menos se souber ao entrar no cinema, melhor será a experiência.

O TELEFONE NEGRO | DISPONÍVEL NOS CINEMAS A PARTIR DE 23 DE JUNHO

O Telefone Negro, em análise
O Telefone Negro

Movie title: O Telefone Negro

Movie description: Finney Shaw (Mason Thames)) um tímido, mas perspicaz, rapaz de 13 anos é raptado por um sádico assassino que o enclausura numa cave à prova de som, onde gritar não vai resolver nada. Quando um telefone desligado começa a tocar, Finney descobre que consegue ouvir as vozes das vítimas anteriores do assassino. E elas estão decididas a assegurar que o que lhes aconteceu não acontece a Finney…

Date published: 23 de June de 2022

Country: EUA

Duration: 102'

Director(s): Scott Derrickson

Actor(s): Mason Thames, Madeleine McGraw, Jeremy Davies, James Ransone, Ethan Hawke

Genre: Horror

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  • Manuel São Bento - 55
  • José Vieira Mendes - 60
58

CONCLUSÃO

“The Black Phone” possui uma premissa de horror com um toque sobrenatural repleta de imenso potencial, mas joga pelo seguro ao apostar numa narrativa demasiado simples, previsível e repetitiva. Scott Derrickson consegue elevar a obra com o seu estilo distinto e o facto de apostar mais no desenvolvimento dos protagonistas do que em jumpscares genéricos agrada-me. Mason Thames e Madeleine McGraw são, sem dúvidas, os elementos mais impressionantes de todo o filme, entregando duas das melhores prestações por parte de jovens atores da última década. Ethan Hawke é pouco utilizado, assim como a sua personagem inexplorada. Recomendo, mas pessoalmente, antecipava algo mais criativo.

Pros

  • Prestações dos atores jovens.
  • Estilo de Scott Derrickson gera uma atmosfera de horror imersiva.
  • Foco nos protagonistas em vez de em jumpscares.

Cons

  • Argumento fica aquém do potencial da sua premissa.
  • Ethan Hawke é subutilizado, tal como o seu personagem.
  • Peca por falta de criatividade narrativa.
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