Operação Maré Negra © Amazon

Operação Maré Negra | Entrevistas com elenco e equipa da série

A MHD esteve à conversa com o elenco e equipa da série luso-espanhola “Operação Maré Negra” que estreia na Prime Video e brevemente na RTP.

As produções entre Portugal e Espanha não param de crescer. Depois de “3 Caminos” que juntou a RTP à Prime Video, confirma-se o potencial de uma indústria ibérica audiovisual com “Operação Maré Negra“.

Operação Maré Negra
© Amazon

Esta série, inspirada na história verídica do primeiro narcosubmarino interceptado na Europa, é um dos projetos mais ambiciosos de sempre do nosso país. Através de um género fora da caixa (o narcothriller), a co-produção luso-espanhola junta a Ukbar Filmes (de “A Espia”, “Crónica dos Bons Malandros” e “O Homem que Matou Dom Quixote”), Ficción Producciones (“3 Caminos”, “Vivir sin Permiso”) às televisões Mitjans Públics Valencians, Radiotelevisión del Principáu d’Asturies, Televiso de Catalunya, eitb, Televisión Canaria, Televisió de les Illes Balears, Televisión de Galicia e a nossa RTP.

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A Prime Video e a RTP abraçam a produção e serão os responsáveis pela distribuição deste projeto que foi realizado por Daniel Calparsoro, Oskar Santos e João Maia. No elenco temos nomes de peso do panorama da ficção portuguesa como Nuno Lopes, Lúcia Moniz, Luís Esparteiro, Tomás Alves, Adriano Carvalho. O restante elenco é de Espanha – Álex González (“3 Caminos”), Nerea Barros (“La Isla Mínima”), Luis Zahera (“El Reino”) – do Brasil Leandro Firmino (“Cidade de Deus”) e Bruno Galiasso (Marighella) e ainda da Colômbia do qual nos chega David Trejos (“Pablo”).

Operação Maré Negra
© Amazon Prime Video

Sentamo-nos à conversa com parte do elenco e equipa técnica de “Operação Maré Negra” foram eles os atores Lúcia Moniz, Leandro Firmino, Álex Gonzalez, David Trejos, João Maia (realizador que esteve responsável por “Variações”), José Fragoso (Diretor de Programas da RTP) e Pandora Cunha Telles (Ukbar Filmes). Rodada em Espanha e no Norte de Portugal – Ponte de Lima, Viana do Castelo, Ponte da Barca, Vila Nova de Gaia, Águeda, Gondomar e Porto – “Operação Maré Negra” vai deixar os espectadores muito agarrados ao pequeno ecrã.

A estreia exclusiva da série “Operação Maré Negra” acontece na Amazon Prime Video a 25 de fevereiro. Em breve chegará também à RTP, a fim de conquistar todos os portugueses que há tanto tempo sonhavam com uma série de ação bem produzida, com um elenco eclético e multicultural. Comecemos por aí com a nossa entrevista com Lúcia Moniz e Leandro Firmino.




Operação Maré Negra | Entrevista a Lúcia Moniz e Leandro Firmino

Operação Maré Negra
“Operação Maré Negra” (2022) ©Amazon

MHD: Lúcia a maioria das suas cenas são com o Xosé Barato. Curiosamente, a sua personagem fala português e o Xosé fala espanhol. Como é que se alinhavam durante a rodagem? Acha ser importante mostrar este entendimento entre o português e o espanhol naquela que é a primeira série luso-espanhola para a Amazon?

Lúcia Moniz: Havia já uma sugestão do guião de cada ator falar a sua língua. De certa maneira era uma forma de mostrar que uma portuguesa e um espanhol poderiam entender-se perfeitamente, sem necessidade de recorrer a um portunhol. Com o Xosé Barato o trabalho foi mesmo facilitado, porque ele foi um colega maravilhoso e nós rapidamente chegámos a este consenso. Queríamos provar de que nos poderemos entender sem aprender uma língua nova. Portanto, eu falo sempre português e o Xosé fala sempre espanhol.

MHD: Leandro, a sua personagem funciona como um intermediário entre de Nando (Álex Gonzalez) e Angelito (David Trejos)?

Operação Maré Negra
David Trejos, Álex Gonzalez e Leandro Firmino © Amazon

Leandro Firmino: Esta série “Operação Maré Negra” foi um presente para mim. Contracenar com atores portugueses, espanhóis, colombianos foi uma experiência nova. No quotidiano eu acabei por entender bastante o Álex e entendia bastante o David. Na hora de fazer as cenas eu não senti grandes dificuldades. Eu não falo espanhol, mas entendo um pouco. E acredito que o Álex e o David entendiam-me perfeitamente. São línguas irmãs e muito próximas e o quotidiano ajuda. Tenho a certeza que podes conviver com um russo, um americano e um chinês. Com o tempo vão-se entender todos. Eu acredito muito nisso, na convivência e na aproximação do dia a dia.

MHD: A série é bastante multicultural e essa diversidade não é forçada.

Leandro Firmino: Ninguém força nada, todos agimos de uma forma natural.

Lúcia Moniz: Acaba por ser a verdade. Os portugueses e os brasileiros falam português, portanto sendo verdadeiro não vai soar a forçado. Ao termos várias línguas faladas numa só cena, tudo flui naturalmente.

Operação Maré Negra Amazon
Operação Maré Negra © Prime Video

MHD: A personagem da Lúcia é real? Quão interessante foi dar vida a uma personagem feminina num mundo rodeado por homens.

Lúcia Moniz: Realmente existiu uma mulher nesta história. Sabia-se pouca coisa sobre esta mulher, logo eu tinha uma margem maior para criar esta profissional bastante focada no trabalho. A minha Carmo é uma mulher muito exigente, com os outros e também consigo própria. Uma mulher determinada, eficaz naquilo que lhe compete e busca tudo o que possa estar ao seu alcance para exercer bem a sua profissão.

MHD: O Leandro já foi tantas vezes um bandido na ficção. Todos lembram-se do Zé Pequeno de Cidade de Deus. Mas o Walder é um bandido com coração. Não é assim?

Leandro Firmino: Nem considero o Walder um bandido. Ele é um coitado. É um homem que precisa de sobreviver e faz parte daquele meio, mas que não é, de todo, uma pessoa perigosa. Um homem que precisa de precisa de sustentar a sua família. Pelo Rio de Janeiro encontramos inúmeras pessoas como o Walder. Pessoas que indiretamente trabalham para o tráfico de drogas, mas que não estão armados, nem matam outros. O Walder não tem nenhuma aptidão para ser bandido. Por pressão acaba por entrar nesta história.

Operación Marea Negra
“Operação Maré Negra” (2022) ©Amazon

MHD: Tem que se deixar levar pelo sistema…

Leandro Firmino: É como falamos no Brasil, tens que dançar conforme a música, senão sais da pista, infelizmente.

MHD: O que vos tocou mais emocionalmente nas vossas personagens?

Lúcia Moniz: O meu maior desafio foi conter a exposição de emoções, de qualquer tipo. Seja comédia, drama, amizade, raiva, revolta, tudo isso tocou-me. É uma personagem muito mais contida, com uma postura mais fria. Foi algo engraçado, porque as personagens que normalmente me são entregues são mulheres que deitam tudo cá para fora. Um grande contraste, por exemplo, com “Listen”.

Leandro Firmino: As nossas personagens estão sempre à procura da verdade. O meu maior desafio foi  filmar rodeado de água. Eu não sabia nadar e tive que aprender a fazê-lo. Arranjaram-me um professor de natação galego que me ajudou imenso. Tivemos que correr contra o tempo e passei por um longo processo de preparação, mesmo na piscina no hotel onde fiquei alojado. Tivemos que fazer cenas no alto mar e tive que encontrar um controlo emocional. Caso contrário não iria filmar. A água estava muito gelada, nem sei como aguentei.

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“Listen” | ©NOS Audiovisuais

Quando recebi o convite para “Operação Maré Negra” estava a filmar uma série no Uruguai e a primeira reação que tive foi “olha eu não sei nadar”. Disse à minha agente para falar com a equipa técnica a dizer que eu não sabia nadar. Agora já sei. (risos).

MHD: Que mensagem gostariam de deixar aos vossos fãs de Portugal, Espanha e Brasil?

Lúcia Moniz: Com esses requisitos fico sempre muito atrapalhada. Nem sei como transmitir estas mensagens de uma forma até sintetizada. Falo de “Operação Maré Negra” aos meus amigos e às pessoas que perguntam o que estou a fazer, como uma série que aborda um caso verídico. De um caso real, muito particular, porque não é mais do mesmo. É um caso de tráfico de drogas que nunca foi contado. Depois temos atores de vários países e várias identidades e isso é bom.

Leandro Firmino: Espero que o público goste desta série. “Operação Maré Negra” é uma história muito rica por ser baseado em factos reais. Não é uma simples travessia do Atlântico de um submarino com droga. Temos um submarino artesanal e acho que esta história trata cuidadosamente de dois homens muito corajosos. Tens que ser atrevido para fazer aquilo. Espero que as pessoas estejam abertas para ver esta história e para digeri-la.




Operação Maré Negra | Entrevista a João Maia, José Fragoso e Pandora Cunha Telles

Operação Maré Negra João Maia
Photo by João Pina – © Joao Pina / David & Golias

MHD: Quando um realizador tem em mãos um projeto televisivo ambicioso como “Operação Maré Negra” como é partilhar a cadeira de realizador com outros dois nomes, nomeadamente o Oskar Santos e o Daniel Calparsoro? Como é que encontram aqui uma linguagem em comum?

João Maia: Este projeto começa com pelas mãos do Daniel Calparsoro, com quem tive algumas reuniões mesmo antes do Oskar Santos entrar para o projeto. Ele tinha ideias muito fortes e interessantes, que acabaram por dominar a estética de “Operação Maré Negra“. Ele e o Tommie Ferreras, um dos  nossos diretores de fotografia, começaram por filmar dentro do submarino e, portanto, estava consolidada uma base forte daquilo que seria a estética da série. Eu só adaptei-a.

MHD: E como foi esse alinhamento em termos de produção, realização e depois distribuição de “Operação Maré Negra”?

João Maia: Eu comecei a trabalhar com a produção espanhola e logo no início ficou estabelecido aquilo que eu iria fazer. Que cenas é que iria realizar e como é que me passariam a cadeira de realização. Tínhamos alguns elementos da produção portuguesas na Galiza, e só quando viemos para o nosso país é que passou a ser 100% nossa. Eu adaptei-me à produção espanhola. Na verdade, quando fui para a Galiza, era apenas eu e o Luís Sérgio (assistente de realização). O que mais gostei desta série foi realmente o nível dos décors, quer espanhóis como portugueses. Isso é meio caminho andado.

Pandora Cunha Telles: Eu lembro-me perfeitamente do João estar a fazer repérage, aquele momento anterior à produção de recolha dos locais para filmagem, e ligar-me comigo para dizer “Isto é fantástico! Isto vai correr lindamente!”.

Operação Maré Negra
“Operação Maré Negra” (2022) ©Amazon

João Maia: Aquela zona da ria de Vigo é um sítio único do mundo. Toda essa a zona era espectacular e eu fiquei logo encantado com os décors espanhóis. Nós terminamos de fazer a série em Portugal e tivemos mais tempo para trabalharmos.

Pandora Cunha Telles: Há uma coisa importante para pensarmos, que é como “Operação Maré Negra” funcionou em termos de produção… Numa série como esta tivemos 30% de financiamento português, da Ukbar Filmes, 70% de financiamento espanhol, ou seja, da Ficción Producciones. O que isto significa? Touxemos 30% de financiamento para cima da mesa e tentámos, ao máximo, ter essa percentagem refletida em termos de equipa técnica e atores, que dessem essa visibilidade a Portugal. Quando começamos a desenvolver o projeto era importante perceber que “Operação Maré Negra” era também uma série portuguesa. Na série, que estreia agora na Amazon Prime Video, vemos a descrição de todos os lugares portugueses onde a série decorre. Temos Ponte de Lima, Viana do Castelo, Ponte da Barca, Vila Nova de Gaia, Águeda, Gondomar e Porto, temos uma quantidade de visibilidade emblemática portuguesa e facimente identificável pelo público que isso foi um dos elementos que organicamente era importante.

Trazer o João para o projeto foi relevante, porque ele é um realizador extraordinário e humanamente, porque viveu muitos anos nos EUA, tem enorme capacidade de trabalhar com pessoas de muitas nacionalidades. Não esqueçámos que temos atores brasileiros, colombianos, espanhóis, portugueses. Temos igualmente setores que são inteiramente nossos, como a caracterização, a iluminação, o som… É muito forte a presença portuguesa em “Operação Maré Negra”. Mesmo que proporcionalmente corresponda a 30%, visualmente e criativamente há uma participação muito forte.

MHD: Como foi esta combinação com a Ficción Producciones e o diálogo com uma produtora estrangeira?

Pandora Cunha Telles: A Ukbar Filmes faz co-produções há vários anos. A primeira co-produção que fiz aconteceu há 20 anos atrás e a própria televisão tem feito algumas co-produções com dezenas de televisões europeias. Aquilo que considero particular foi o impacto que os streamings tiveram – seja a Prime Video, a Netflix e outras plataformas – para que línguas como a portuguesa, a norueguesa, a sueca ou a dinamarquesa pudessem entrar diretamente a primeira liga do audiovisual. Os conteúdos passaram a ser tratados todos da mesma maneira, em termos de exibição. Pode dizer-se que isto é uma estrada, porque a entrada da Amazon permite dar um maior conforto financeiro, para podermos fazer projetos a uma outra escala.

Gaza Mon Amour
Gaza Mon Amour teve co-produção entre Portugal, Palestina, França, Alemanha, EUA (Califórnia) e Qatar © MUBI

Na verdade quando tenho um projeto estou sempre à procura dos melhores parceiros, a fim de tornar o projeto possível. Às vezes é através do distribuidor, outras através de co-produtores. Eu já fiz filmes com 5 co-produtores e na Ukbar Filmes temos estabelecido várias alianças internacionais. A RTP tem sido realmente um enorme parceiro da nossa empresa, por exemplo, com o filme “Gaza Mon Amour” (Arab Nasser e Tarzan Nasser, 2020), que foi uma produção entre 6 países. Fizémos ainda o “522” (Paco Baños, 2019) que é uma co-produção com Espanha.

Está muito no nosso ADN fazer produções internacionais. Eu sou um quarto dinamarquesa, a minha avó é dinamarquesa e a minha mãe é canadiana, o meu sócio é argentino e queremos contar histórias que nos façam viajar, que nos tirem da nossa realidade e do nosso quotidiano. Acho que precisamos sair do nosso meio e mostrar outros universos.

MHD: Porque razão foi tão importante para a RTP esta colaboração com a Ukbar Filmes e depois com a Amazon Prime Video?

José Fragoso: Com as operadoras de streaming a entrarem no mercado português começámos a ter várias vias. Começaram-nos a surgir projetos que tinham um pé no streaming e um pé na televisão. Este foi um projeto que nasceu de um anterior, refiro-me ao “3 Caminhos” e, como tal, nasceu de um encontro de produtores que houve em Ourense ainda antes da pandemia. Na sequência dessa série começamos a falar de outros projetos e “Operação Maré Negra” foi o projeto que elegemos. Tinha corrido muito bem a produção Portugal-Espanha nos “3 Caminhos” e como havia uma história natural que ligava esses países, “Operação Maré Negra” foi rapidamente posta em andamento.

3 Caminos
Andrea Bosca, Álex González, Anna Schimrigk e Verónica Echegui em “3 Caminos” © Prime Video

São apenas 4 episódios de ação e nós queríamos ter esse atrevimento de fazer algo difícil de concretizar em Portugal. “Operação Maré Negra” tinha os ingredientes com a componente de ação permanente e depois de trabalharmos com o elenco, o trabalho com as produtores da Ukbar e da Ficción decorreu sem problemas. O resultado é uma série que não estamos habituados a ver em Portugal…

MHD: Nada habituados. É algo completamente inovador e necessário.

José Fragoso: Acho que todos os espectadores reconhecerão isso. O envolvimento de equipas dos dois lados foi intenso.

Pandora Cunha Telles: Grande parte da série é falada em português.

José Fragoso: Esse envolvimento do espectador com a ação pura, com um som magnífico, músicas e ambientes fantásticos com perseguição de barcos, de carros, entre tiroteios e submarinos, dá à série um perfil habitualmente diferente. Nós estamos a trabalhar em mais de 20 projetos, alguns que estão a entrar na timeline, outros a meio e outros que já estão no fim de produção. Séries como esta, como “Causa Própria” ou “A Rainha e a Bastarda” – sobre um período histórico pouco trabalhado em Portugal – dão a riqueza de conteúdos que nós queremos. Criam-se um conjunto de narrativas portuguesas que podem depois circular pelo mundo inteiro como circulam séries da Coreia, da Noruega e do México.

Operação Maré Negra

MHD: “Operação Maré Negra” é uma série de ação e é também inspirada em factos verídicos. De que forma isso é uma mais valia para o streaming, para a televisão e para o cinema nacionais?

Pandora Cunha Telles: Acho que, enquanto Ukbar Filmes, estamos sempre a nos inspirar em factos verídicos. Temos que retirar alguma coisa de veracidade, porque aos inspirarmo-nos em 100% dos factos, as pessoas questionam mais e dizem “isto nunca aconteceu”. A verdade é sempre mais inverosímil do que nós achamos. Eu tenho uma tendência em fazer coisas inspiradas em factos verídicos. Nós em Portugal temos um universo tão rico e grande parte de “Operação Maré Negra” passa-se aqui. Temos a capacidade de condensar essa inspiração num tempo mais curto que é o tempo da ficção, de 40 a 45 minutos. As coisas não acontecem com a mesma velocidade da ficção, mas esse é um mecanismo importante para trazer a nossa realidade.

João Maia: Acho que este é o momento para falarmos da participação da Guarda Civil Espanhola na série. Quando os homens são capturados quem lá estão são realmente guardas e não são figurantes. Este episódio foi recente e os guardas sabiam exatamente como tinha sido feita a prisão dos traficantes e não precisámos de contratar ninguém para fazer esse papel.

Pandora Cunha Telles: Por exemplo, a própria MAOPC, centro de análises marítimas é o lugar onde trabalha a personagem da Lúcia Moniz, está mesmo situada em Portugal. Não é uma ilusão. Obviamente que está situada em Lisboa e não está situada na Universidade de Economia do Porto, onde filmámos. Mas parece realmente uma instituição governamental e internacional. Esta é realidade.

Variações
Variações | © NOS Audiovisuais

José Fragoso: O facto de um filme e de uma série se inspirarem em factos reais dá um boost no espectador, de marketing, que é anterior à existência do respetivo projeto de ficção. Partir de um caso que foi muito mediático, como o caso deste submarino que cruza o Atlântico e que foi falado nos jornais do Brasil, de Espanha e em Portugal cria um efeito de expectativa quando adaptado para um projeto de ficção. Há uma natural curiosidade por parte dos espectadores. Até teremos um complemento à série que é “Operação Maré Negra: Missão Suicida”, uma série documental sobre a verdade da ficção.

Pandora Cunha Telles: Se dissesse que se atravessa o Atlântico num submarino de 18 metros, feito artesanalmente… Ninguém acreditaria. Nós fizémos submarinos praticamente iguais àquele utilizado pelos traficantes. Se não tivéssemos a história todos diriam que estávamos a inventar.

MHD: De que forma poderá “Operação Maré Negra” pode dar um empurrão a outros argumentistas e criativos em Portugal?

Pandora Cunha Telles: Precisamos de mais financiamento para conseguir produzir conteúdos como este. “Operação Maré Negra” teve 3 a 4 vezes mais o financiamento de uma série nacional e, para isso foram precisos apoios do PIC – Fundo do Turismo e Audiovisual e de parceiros nacionais e internacionais. Só com essa colaboração poderemos ter projetos com montagens financeiras mais ambiciosas. Estamos, de alguma maneira, a ser os primeiros.

Operação Maré Negra
© Amazon

João Maia: Isto é para o nosso portfólio e obviamente é algo que nos ajuda a todos.

Pandora Cunha Telles: Algo que o João diz que é muito importante, nós conseguimos fazê-lo e esta é a prova. Quando se diz Portugal que não sabe fazer não é bem assim. Dêem-nos os meios, os realizadores, atores e equipa e nós faremos acontecer.

José Fragoso: Com as plataformas de streaming, projetos que são mais ambiciosos do ponto de vista do financiamento pudessem concretizar.




Operação Maré Negra | Entrevista a Álex Gonzalez e David Trejos

Operação Maré Negra
© Prime Video

MHD: Como é que se sentiram ao colaborar um com o outro? As suas personagens odeiam-se.

Álex Gonzalez: Eu admiro muito o David, seja como ator como pessoa. Foi uma delícia partilhar a maioria das minhas cenas com ele. Para mim, como ator, há que tentar trabalhar de uma maneira a que o ambiente entre os atores seja bom. Não sou tanto um ator de método, e acho que a partir daí conseguimos cultivar coisas boas. Foi um prazer trabalhar com o David, com o Leandro e com a restante equipa. Criamos este universo que nos permite odiar-nos e, de sequência em sequência, fomo-nos descobrindo um ao outro. Muitas vezes cruzávamos olhares e eu tive de fazer o exercício de que, o meu colega está a trabalhar.

David Trejos: Eu quando me dei conta que ia trabalhar com Álex, senti-me um sortudo. Já o tinha visto noutras séries e noutros filmes e já conhecia o seu trabalho. Foi uma oportunidade surpreendente saber que iria colaborar com ele. O Álex é um dos atores mais importantes do panorama audiovisual espanhol. Era uma forma de aprender. O Álex é uma pessoa extremamente generosa e a mim, muitas vezes custava-me um pouco entender o seu olhar, porque não conseguia sair da personagem. Chegámos a falar nos hotéis onde tive-lhe de lhe dizer que tinha que estar no papel de Angelito o máximo de tempo possível. É uma personagem complexa, que está sempre entediada. Muitos dos membros da equipa técnica começaram a pensar que essa era o meu caráter, que era melhor não falarem comigo (risos).

3 Caminos
Álex Gonzalez em “3 Caminos” © Prime Video

Álex Gonzalez: Eu lembro-me que fiquei medo. Um dia, quando estava na personagem, o David disse “podem fazer um pouco de silêncio para a equipa técnica” (risos). Ficámos completamente assustados.

David Trejos: Quando conseguia sair da personagem obviamente dizia uma piada ou outra e divertimo-nos muito. Mesmo com o Leandro que foi um ator 5 estrelas.

MHD: A tua personagem David é uma personagem muito curiosa, porque inicialmente parece ser a mais forte e termina como a mais atormentado. Como decorreu a tua preparação para “Operação Maré Negra”?

David Trejos: Antes de chegar a Espanha treinei muito porque o Álex coloca a faísca muito alta. Basta vê-lo como é fisicamente! (risos) Eu pensava “Caraças, que vou fazer?”. Eu vivo no México e ali o boxe é um desporto nacional e estive a preparar-me para o Angelito a partir de algumas referências da minha vida, da minha adolescência e de pessoas que conheci que fazem parte desse mundo.

Obviamente dei-me conta que o Angelito tinha uma máscara, ou seja, que a própria personagem passa muito tempo a atuar. Pode parecer um homem com perfil ameaçador, mas no interior é uma criança com muito medo. Esse medo é o que se destaca no final, porque quebra-se o lado ameaçador. Temos um homem que dá conta que está sozinho, que não tem ninguém a não ser o Nando e o Walder. Termina por perceber que o único que tem no mundo são dois homens que inicialmente eram os seus inimigos.

Operação Maré Negra
© Amazon

MHD: No teu caso Álex gostaria de saber como foi passar de Roberto, essa personagem mais espiritual em “3 Caminos” para Nando uma personagem de ação fisicamente exigente?

Álex Gonzalez: Obrigado por me relembrares da personagem de “3 Caminos“. São personagens completamente opostas. Com Nando, o que mais via dele era o facto de ser uma personagem ambiciosa, mas no sentido mais infantil. Estamos diante de um homem que sente a necessidade de reconhecimento.

Ao princípio a personagem era mais introvertido e, pouco a pouco, acabamos por descobrir um homem que é mais extrovertido. Havia uma pauta inicial do argumento, que referia o quanto era importante não existirem vítimas neste universo, mas sim personagens que tomassem consciência dos seus atos.

Não é simplesmente a história de um homem pobre que faz algo porque o obrigam, mas um homem que toma a decisão de entrar nesse mundo. Esse era o ponto de partida. O primeiro capítulo serve de luz e a inocência e com o passar dos episódios, a personagem vai estar mais em contacto que coisas que lhe eram desconhecidas: como a ameaça, a morte e a ambição. É curioso ver como é que as personagens de Nando e Angelito convergem nesse submundo e nessa escuridão. Acho que estão próximas, porque tinham os seus sonhos, mas acabam por tomar outra escolha. “Operação Maré Negra” não defende a droga, mas denuncia-a o que era importante.

Operação Maré Negra
© Amazon

MHD: As vossas personagens questionam-se a si mesmas, essa moralidade dos seus comportamentos.

David Trejos: O Angelito é um assassino a sangue frio. É um homem que ouve “Mata” e ele fá-lo. Se a ordem é essa e tivesse que conduzir o submarino eu tenho a certeza que o teria feito. Claro que depois carrega o peso de ser essa pessoa.

MHD: Acreditam que é necessária esta aproximação entre produções portuguesas, espanholas e da América Latina?

Álex Gonzalez: Acredito que atualmente graças às plataformas em que tudo está mais globalizado – no bom sentido da palavra – vivemos num mundo cultural único em que já não há fronteiras, já não existem barreiras. Uma série que façamos em Portugal, em Espanha, ou em Colômbia é do mundo inteiro. Neste caso, entrelaçar a cultura portuguesa, com a espanhola e a brasileira foi maravilhoso. Rodar em Portugal foi muito importante. Foi algo incrível e os portugueses são pessoas bastante agradáveis. Foi um presente.

Operação Maré Negra
Operação Maré Negra © Amazon

MHD: Que querem dizer ao público português e espanhol e vai descobrir agora a série na Prime Video?

David Trejos: Eu considero ser uma série com um trabalho árduo, com uma qualidade humana inegualável em que todos ofereceram o seu melhor. Quero que o público desfrute da série e quero que entendam. Os narcotraficantes não são louvados nesta história e tudo é contado de uma forma trágica.

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Álex Gonzalez: Eu diria ao público para apagar as luzes, colocar o som no máximo e que se agarrassem às cadeiras porque a nave levanta voo e uma vez que isso acontece é impressionante. “Operação Maré Negra” tem thriller, tem ação, tem aventura. Todos os capítulos são diferentes e que se desenrolam muito rapidamente. Um episódio tem diálogos intensos sobre personagens, outro tem ação e disparos. A sensação é a mesma que estar no parque de diversões. Tenho a certeza que o público vai desfrutar muito desta série.

MHD: Obrigado.

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