"Ex Machina"/"Mad Max: Estrada da Fúria"/"Carol" | © FilmNation Entertainment/Warner Bros./The Weinstein Company

Óscares 2016 | Os prémios da MHD vão para…

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Se os escritores da MHD votassem, será que os resultados dos Óscares de 2016 teriam sido os mesmos, com grandes vitórias para “O Caso Spotlight”, “The Revenant” e “A Queda de Wall Street”?

A tradição dos Óscares votados pela equipa MHD continua. Em edições anteriores, “A Favorita”, “A Forma da Água” e “Moonlight” sagraram-se campeões, mas agora é altura de examinar o ano de 2016, quando “O Caso Spotlight” ganhou apenas dois Óscares, incluindo Melhor Filme, e “Mad Max: Estrada da Fúria” dominou as categorias mais “técnicas”, com seis vitórias. Uma coisa é certa, a equipa nunca esteve tão dividida como nesta votação.

Em várias categorias, a diferença entre o vencedor e os derrotados não foi mais que um voto e muitos foram os casos em que os cinco nomeados receberam votos da equipa. Tratou-se de uma votação muito dispersa, portanto, uma prova de grande heterogeneidade de opiniões e perspetivas sobre o que constitui, ou não, bom cinema.

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Como sempre, tentámos seguir os métodos que a própria Academia de Hollywood emprega, como o voto secreto e o uso de sistemas preferenciais em categorias específicas. Não é perfeitamente igual, pois a MHD não tem mais de 6000 membros como a Academia dos Óscares, mas sempre dá uma ideia da opinião coletiva da equipa.

Segue as setas para ires explorando as 24 categorias, sendo que começamos com os prémios para as curtas-metragens e terminamos com o prémio máximo, o Óscar para Melhor Filme. Todos os textos a acompanhar as categorias foram escritos por Cláudio Alves, a não ser nos dois casos específicos em que outro autor é assinalado, Melhor Canção Original e Melhor Ator Principal. Em todo o caso, esperamos que, mesmo que discordem das nossas escolhas, entendam algum do raciocínio que levou a elas.

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Sem mais demoras, aqui ficam os resultados dos Óscares MHD de 2016…

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MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL

girl in the river oscares 2016 mhd
© HBO

O Óscar MHD vai para… A GIRL IN THE RIVER: O PREÇO DO PERDÃO, Sharmeen Obaid-Chinoy!

Apesar de estes terem sido uns Óscares MHD com votos muito dispersos e opiniões heterogéneas, começamos com uma categoria em que a nossa equipa concordou com a decisão da Academia. Considerando a importância do filme em questão, talvez não nos devêssemos admirar tanto com este resultado. Afinal, muitos artistas querem mudar o mundo, mas raro é aquele cujo trabalho realmente tem impactos diretos e consegue efetivamente mudar algo.

Assim foi o caso de “Girl in the River: O Preço do Perdão” realizado por Sharmeen Obaid-Chinoy, a realizadora mais nova de sempre a conquistar múltiplos Óscares. Esta cineasta paquistanesa tem dedicado a vida e carreira a apontar o dedo às injustiças da sua nação e cultura. A arma que ela usa são os seus filmes, um modo de ativismo cinematográfico que tem tido resultados visíveis. “Girl in the River”, por exemplo, levou o governo paquistanês a reconsiderar e alterar a sua legislação sobre crimes de honra.

A cineasta fez isso ao dar uma cara humana ao problema e forçar os espectadores a lidar com o horror da perspetiva da vítima. Neste caso, a figura central do filme é uma jovem de 19 anos que, depois de se casar sem o consentimento da família, foi alvejada pelo pai e pelo tio. Subsequentemente, eles puseram o corpo inconsciente da mulher num saco e atiraram-no ao rio. Miraculosamente ela sobreviveu, mas teve de suportar as pressões sociais e judiciais para perdoar os seus atacantes. Segundo as leis vigentes no Paquistão, esse perdão seria o suficiente para exonerar a família dela de qualquer culpa. Trata-se de um caso horrendo e de uma história contada com respeito e fúria jornalística neste brilhante documentário que absolutamente mereceu ganhar o Óscar.




MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

oscares mhd 2016 world of tomorrow
© Bitter Films

O Óscar MHD vai para… WORLD OF TOMORROW, Don Hertzfeldt!

Don Hertzfeldt é um dos mais vanguardistas realizadores de cinema de animação da atualidade. O seu estilo é ilusoriamente simples, mas os seus temas e narrativas mostram claramente quão ambicioso o seu cinema é. Na verdade, é estranhíssimo ver o seu nome entre os nomeados para os Óscares, sendo que a Academia costuma ter um gosto muito conservador e evita o tipo de cinema obscuro a que Hertzfeldt se dedica. Como seria de esperar, ele não ganhou o prémio da Academia dos Óscares, mas parece que teve mais sorte com os votos da equipa MHD.

“World of Tomorrow” foi uma das curtas-metragens mais faladas dos últimos anos e muitos categorizam o filme como uma das grandes obras-primas do século XXI, independentemente da sua breve duração. A sua história é tão simples como insanamente complicada. Num futuro próximo, uma menina de quatro anos chamada Emily recebe uma chamada-vídeo do futuro. A pessoa que lhe liga é um clone de terceira geração dela própria, 227 anos à frente do tempo da menina. Graças a tecnologias novas, a Emily-3 consegue mostrar à menina o futuro e explicar-lhe o estado do mundo e da Humanidade. Praticamente não há enredo, mas o filme nunca aborrece e nunca dá descanso ao cérebro do espectador.

Nesta sua primeira aventura pelo cinema digital, Gertzfeldt manteve-se fiel à sua estética rudimentar, com figuras infantilizadas e feitas com poucos riscos. No entanto, deixou que a técnica computorizada lhe desfragmentasse os fundos pictóricos e a história em si, concebendo um retrato digital de um mundo digital. Trata-se de um filme sobre uma Humanidade que se vai reduzindo a espectros tecnológicos, sobre um futuro em que o que é irreal e o que é real são conceitos impossíveis de separar. Para alguns, será uma experiência deprimente, mas os devaneios filosóficos de Hertzfeldt deixam espaço para alguns raios de esperança, uma fé na capacidade humana para encontrar lugar e felicidade até nas mais desesperantes condições.




MELHOR CURTA-METRAGEM LIVE-ACTION

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© Bare Golly Films

O Óscar MHD vai para… STUTTERER, Benjamin Cleary e Serena Armitage!

Com uns parcos 11 minutos, “Stutterer” é o filme mais curto desta categoria. A sua brevidade, contudo, não é indicativo de uma falta de ambição ou valor artístico. Aliás, entre os cinco nomeados, este romance cinematográfico é talvez o trabalho mais formalmente sofisticado. É também o mais esteticamente seguro, não havendo aqui grandes gestos arriscados ou nada do género. Em suma, de todos os nomeados “Stutterer” é o trabalho mais clássico. É também o mais convencional, mas isso em nada indica uma falta de qualidade.

Como já aludimos, esta é uma história de amor. Também é um estudo de personagem, focando-se nas angústias românticas, e não só, de um tipógrafo que sofre de um caso paralisante de gaguez. Até os afazeres mais corriqueiros do dia-a-dia revelam desafios periclitantes para este homem solitário e acerca da sua vida pessoal nem se fala. Ele é um prisioneiro dentro da sua própria cabeça, incapaz de comunicar com aqueles que o rodeiam do modo que quer.

O realizador Benjamin Cleary usa vários mecanismos para traduzir esta mesma angústia, mas o trunfo na sua manga é o trabalho do ator principal. Matthew Needham é estupendo como o protagonista gago e nos seus olhos vemos todos os desejos e rancores de uma figura involuntariamente confinada a uma vida aparte dos ecossistemas de socialização “normais”. Não admira que a Academia dos Óscares tenha dado o seu prémio a esta obra. A MHD claramente concordou com a decisão e também dá o seu prémio a “Stutterer”.




MELHOR DOCUMENTÁRIO

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© Anonymous

O Óscar MHD vai para… O OLHAR DO SILÊNCIO, Joshua Oppenheimer e Signe Byrge Sørensen!

Em “O Acto de Matar”, o cineasta Joshua Oppenheimer concebeu um dos mais assustadores documentos sobre o que leva o ser humano a acabar com a vida de outro ser humano e como é que os assassinos racionalizam tais ações. Foi também um dos mais importantes filmes já feitos sobre os massacres que assolaram a Indonésia nos anos 60. Massacres esses que foram sancionados pelos mesmos poderios que agora dominam o país e pelos próprios EUA que, na sua loucura anticomunista, pareciam não ver qualquer problema com extermínios em massa.

Se esse filme olhou para os monstros que cometeram tais atrocidades e suas psiques retorcidas, “O Olhar do Silêncio” tenta dar voz àqueles que esses homens para sempre silenciaram. “O Ato de Matar” foi sobre os assassinos, este é sobre as vítimas, ou melhor sobre aqueles que sobrevivem e, hoje em dia, carregam o fardo da perda e do medo produzido por tais horrores. Não é um filme fácil de ver. É tenso, assustador e mostra-nos lados da Humanidade que gostaríamos de ignorar e expõe-nos a tipos de dor que esperamos nunca sentir.

“O Olhar do Silêncio” faz tudo isto, ao mesmo tempo que mostra incrível empatia para com os seus sujeitos e filma tudo com um rigor formalista que tanto espanta como intensifica o horror do que se fala. Há algumas cenas neste documentário que nos fazem querer afastar os olhos e tapar os ouvidos, não porque se vê ou ouve algo excessivamente violento, mas porque os horrores sugeridos por olhares cansados e desculpas insinceras, silêncios amedrontados e gestos abortados são insuportáveis. Um grande filme e um grande vencedor que, nos Óscares, foi derrotado pelo filme que acabou por acabar em segundo lugar na votação MHD, “Amy”.




MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

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© Pixar Animation Pictures

O Óscar MHD vai para… DIVERTIDA-MENTE, Pete Docter e Jonas Rivera!

O Óscar para Melhor Filme de Animação é a categoria mais jovem dos Óscares. Só em 2002 é que este prémio foi dado pela primeira vez e “Shrek” foi o primeiro vencedor. Essa vitória marcou uma das poucas vezes em que a Pixar foi derrotada, sendo que o estúdio de animação afiliado à Disney se tem vindo a afirmar como o indisputável campeão deste Óscar. Desde 2002, a Pixar já acumulou doze nomeações e nove vitórias.

“Divertida-Mente” marca o oitavo triunfo da Pixar e é, sem sombra de dúvida, uma das mais brilhantes joias na sua filmografia. Na história da companhia, o filme marca um regresso a um standard de qualidade que se havia perdido depois da febre de sequelas que se seguiu à estreia de “Up”. Além do mais, este é um dos trabalhos mais ambiciosos da Pixar, existindo completamente como uma metáfora visualizada de psicologia infantil em crise, assim como uma crítica do tipo de mentalidade que vê a felicidade perpétua como algo necessário e a tristeza como algo a evitar a qualquer custo.

Tudo isso e o filme é uma extraordinária comédia e estudo de personagem, um feito técnico do mais gabarito e um melodrama para fazer chorar as pedras da calçada. Quem é que não se emociona com as lágrimas de Riley? Quem é que não sente um aperto no peito face ao fim de um amigo imaginário muito amado? Quem é que não se ri quando o filme nos mostra a mente de um gato? Por isso e muito mais, a MHD seguiu o mesmo caminho que a Academia dos Óscares e decidiu dar o seu prémio a “Divertida-Mente”.




MELHOR FILME NUMA LÍNGUA ESTRANGEIRA

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© Laokoon Filmgroup

O Óscar MHD vai para… O FILHO DE SAUL, Hungria!

Quando ganhou o Globo de Ouro para Melhor Filme Estrangeiro, o realizador húngaro Lászlé Nemes disse que nunca devíamos deixar que o Holocausto se tornasse em algo abstrato. Para quem não pensa criticamente sobre a cultura que consome, tal apelo pode parecer estranho, mas basta examinarmos um pouco a história do cinema sobre o Holocausto para entender o valor das palavras do realizador. Filmes sobre este tema são quase um subgénero, tornando o sofrimento de milhões numa comodidade e privilegiando sentimentalismo acima de qualquer noção de realismo ou responsabilidade histórica.

“O Filho de Saul” é uma radical refutação desse mesmo tipo de filme. Curiosamente, é uma obra que faz tal proeza através de uma clara fuga de objetividade histórica em prol de uma representação da experiência pessoal de um só homem preso num pesadelo acordado. Neste caso, esse homem é um dos seletos prisioneiros dos campos de extermínio Nazis que tinha o trabalho de auxiliar os seus opressores no homicídio em massa de judeus, homossexuais, pessoas com deficiências mentais e outros indesejados do mundo ideal ariano. No meio desse lavoro, ele julga encontrar o corpo do filho e parte numa odisseia para assegurar ritos fúnebres à criança ao invés da incineração anónima.

Tal descrição sugere uma história horrenda e quase punitiva para o espectador, mas, verdade seja dita, essa nem é a parte mais insuportável da experiência. Nemes filmou este horror com grandes planos apertados, profundidade focal escassa e uma sonoplastia bombástica de modo a colocar a audiência na cabeça do protagonista. O resultado é uma câmara de tortura em forma de cinema, cujos espetáculos de gritos ensurdecedores quase fazem vibrar os órgãos do espectador sentado no cinema. É algo visceral, dolorosamente humano e a antítese de uma abstração histórica distante da nossa realidade.




MELHORES EFEITOS SONOROS

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© Warner Bros.

O Óscar MHD vai para… Mark A. Mangini e David White por MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA!

Como sempre, convém elucidarmos o leitor acerca da diferença entre as duas categorias de som, Best Sound Mixing e Best Sound Editing ou Melhor Sonoplastia e Melhores Efeitos Sonoros respetivamente. A primeira delas (sound mixing/sonoplastia) refere-se à mistura de todos os elementos sonoros, incluindo efeitos sonoros, diálogo e música, assim como à gravação de som feita diretamente no plateau. A segunda (sound editing/sonoplastia) refere-se aos efeitos individuais, aos ruídos criados por uma equipa separada.

Uma boa comparação seria Cenografia e Fotografia. Os cenários que o cenógrafo concebe são um componente da construção visual do filme e, por isso mesmo, são uma parte do que o diretor de fotografia tem de filmar e conjugar no seu trabalho. Apesar disso, são duas áreas distintas dentro da conceção visual de um filme. Por isso mesmo, todas estas categorias são separadas e, no caso do som, um filme pode ter grandes efeitos sonoros e nem sequer ser nomeado para melhor sonoplastia, por exemplo.

Esperemos que tal explicação tenha ajudado. Em todo o caso, o vencedor de Melhores Efeitos Sonoros da MHD é o mesmo que o da Academia dos Óscares. Falamos, pois claro, de “Mad Max: Estrada da Fúria” com toda a sua coleção de ruídos metálicos, explosões bombásticas, o dilacerar de carne e o tilintar de correntes ferrugentas, o rugir de motores e o som de uma guitarra que lança chamas. O voto aqui foi bem decisivo, mesmo que “Sicário” e “Star Wars” tenham conquistado alguns bons votos. Trata-se do primeiro de muitos prémios que a equipa MHD deu ao filme de George Miller.




MELHOR SONOPLASTIA

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© Disney

O Óscar MHD vai para… Andy Nelson, Christopher Scarabosio e Stuart Wilson por STAR WARS: EPISÓDIO VII – O DESPERTAR DA FORÇA!

Apesar da popularidade de “Mad Max: Estrada da Fúria” e da sua hegemonia sobre as categorias técnicas dos Óscares da Academia, a equipa MHD escolheu outro filme para ganhar o prémio de Melhor Sonoplastia. O vencedor, que não ficou muito à frente do épico australiano verdade seja dita, foi o sétimo episódio da saga “Star Wars”, onde a equipa de técnicos de som teve de reinterpretar, reinventar e prestar adequada homenagem a todo um legado sónico que vem com os outros filmes do franchise.

Afinal, o som é uma das partes mais memoráveis desta ópera espacial edificada por George Lucas. Pensem nos ruídos dos sabres de luz, os disparos das armas dos Stormtroopers, a voz mecanizada de Darth Vader, a música de John Williams e os grunhidos de Chewbacca e logo entenderão quanto o som é integral para o misticismo nostálgico que resguarda os filmes “Star Wars”. Nesta nova iteração, existem novos sons para conjugar, é certo, mas o grande desafio foi estabelecer uma continuidade com os ícones do passado. Pelo que nos compete, consideramos este um enorme sucesso de sonoplastia.

Em termos mais específicos, algumas das cenas do filme usam material sonoro dos episódios passados e a equipa da obra mais recente teve de pegar nesses elementos e fazê-los coerir com esta nova versão, mais tecnologicamente avançada, do franchise. Em certa cena, eles usaram mesmo as vozes de Ewan McGregor e Alec Guinness, conjugando-as de forma anteriormente impossível por limites técnicos. Noutra parte da aventura, deram nova vida aos sons clássicos das armas preferidas dos Jedi e conferiram-lhe uma qualidade mais realista para uma dolorosa batalha na neve sem, no entanto, perder a magia do original. Por tudo isso, esta equipa mais que merece o Óscar MHD.




MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

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© Columbia Pictures

O Óscar MHD vai para… “Writings on the Wall” de 007: SPECTRE, Sam Smith e James Napier!

Das cinco canções nomeadas a “Melhor Canção Original”, a equipa da MHD apenas não deu votos numa: “Earned It”, de “50 Sombras de Grey”. Os votos destes Óscares distribuíram-se entre os restantes títulos, mas, na corrida ao pódio, estiveram sempre “Writing’s On the Wall” e “Manta Ray” de “Racing Extinction”. O vencedor apenas foi encontrado nos últimos dias de votação e podemos dizer que “Writing’s On the Wall” ultrapassou o segundo lugar por mais do dobro.

Esta é uma categoria onde os filmes da saga 007 têm tido sucesso. Já sendo a 5ª música nomeada destes filmes, “Writing’s On the Wall” é, no entanto, só a segunda a ganhar, depois de “Skyfall” de Adele, na edição de 2013. E nós, na MHD, acreditamos que a sua melodia é também merecedora de reconhecimento. Contudo, tal como aconteceu na votação dos Óscares 2016, aceitamos que esta seja uma escolha controversa e talvez uma das mais contestadas do ano. Com um toque melancólico, que, no entanto, poderá não ter agradado a alguns, parece-nos que se encaixa na perfeição neste particular filme de James Bond. Em certo tom, até poderia ser a canção do adeus a Daniel Craig…

Claro que consequentemente, a polémica que envolveu o discurso de Sam Smith não ajudou. O cantor, assumidamente gay, fez questão de juntar ao discurso de vitória uma ligação à comunidade LGBTQ+, mas apenas ficou mal perante os olhares do público, incluindo a mesma comunidade que tentou honrar. Declarando-se como o primeiro homem abertamente gay a ganhar um Óscar – algo que não era a realidade, Smith fez com que “Writing’s On the Wall” deixasse de estar no foco das audiências, que se focaram mais nas suas palavras erróneas.

– Marta Kong Nunes




MELHOR BANDA-SONORA ORIGINAL

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© Visiona Romantica

O Óscar MHD vai para… Ennio Morricone por OS OITO ODIADOS!

Como é que é possível que Ennio Morricone nunca tenha ganho um Óscar até 2016? O compositor italiano é uma autêntica lenda viva do cinema, tendo sido o responsável por algumas das melodias mais memoráveis e impactantes da História da Sétima Arte. Referimo-nos a bandas-sonoras como aquelas que ele escreveu para os westerns de Sergio Leone, para o romantismo espiritual de Malick, para a nostalgia de “Cinema Paradiso” e para a opulência teatral dos filmes de Zeffirelli, para “Os Incorruptíveis Contra a Droga” e a “Missão”, para “Bugsy” e para tantos, tantos outros.

Foi preciso Quentin Tarantino para finalmente conquistar um Óscar a Morricone. O realizador há muito se dizia fã do compositor e até chegou a usar passagens que ele escreveu para outros filmes. Foi com “Django Libertado” que Tarantino convenceu o italiano a compor-lhe uma banda-sonora completamente original, sendo que foram os mesmos westerns a que Morricone deu o som que inspiraram o projeto. O mesmo se repetiu em “Os Oito Odiados” e, dessa vez, a Academia dos Óscares finalmente prestou atenção.

A Academia e a MHD, é claro. Se bem que devíamos sublinhar que esta honra não se deve somente ao legado que o nome de Morricone traz consigo. A banda-sonora de “Os Oito Odiados” é, de facto, formidável. Seu uso de orquestrações robustas recorda o cinema de outros tempos, dando um classicismo quase nostálgico à sanguinária história do filme. Só pelas passagens que servem de overture, Morricone merecia ser premiado. Viva maestro!




MELHORES EFEITOS VISUAIS

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© Universal Pictures

O Óscar MHD vai para… Mark Williams Ardington, Sara Bennett, Paul Norris e Andrew Whitehurst por EX MACHINA!

A vitória de “Ex Machina” na categoria de Melhores Efeitos Visuais foi a maior surpresa dos Óscares 2016. Esta é uma das categorias mais jovens destes prémios, sendo que apenas em 1992 se tornou numa honra anualmente dada, com nomeados e tudo. Ao longo dessa curta história, tem sido um prémio dominado por grandes blockbusters e campeões de bilheteiras. Quanto maior, mais bombástico e mais popular, mais um filme tem probabilidade de triunfar aqui.

“Ex Machina”, um projeto independente que aborda a ficção-científica de uma perspetiva cerebral e quase minimalista, não se insere, de todo, nesse modelo de filme vencedor. Além disso, é uma obra que não foi nomeada para Melhor Filme a concorrer contra outros filmes que foram, o que punha “Ex Machina” numa grande desvantagem. Apesar de tudo isso, este drama psicossexual sobre manipulação e inteligência artificial ganhou. A MHD seguiu a Academia e também lhe atribuiu o prémio.

Olhando em retrospetiva para o filme e o ano cinematográfico em que se inseriu, esta vitória é ainda mais gloriosa do que já na altura parecia. Ava, a personagem robótica de Alicia Vikander, é um dos grandes efeitos visuais da década, uma perfeita fusão entre a fisicalidade do ator e uma anatomia impossível, feita de circuitos e rede. Mesmo assim, é o design claramente sexualizado do corpo, ainda mais que a sua perfeita conceção digital, que fazem com que o efeito seja a chave para entender a personagem e seu papel nos jogos psicológicos que estão em jogo. Ava não é livre e não é dona do seu próprio corpo, uma constante lembrança da mão lasciva do seu criador.




MELHOR MAQUILHAGEM

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© Warner Bros.

O Óscar MHD vai para… Damian Martin, Lesley Vanderwalt e Elka Wardega por MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA!

É certo que estes foram os Óscares MHD que tiveram os votos extremamente dispersos e que muitas das corridas aos prémios foram apertadíssimas. No entanto, sempre houve uma ou duas categorias em que um vencedor triunfou bem à frente dos outros concorrentes. Assim foi o que aconteceu com Melhor Maquilhagem, onde o voto foi quase unânime. A MHD concorda com a Academia que o Óscar pertence à equipa de “Mad Max: Estrada da Fúria” pelo seu trabalho exímio.

Damian Martin, Lesley Vanderwalt e Elka Wardega conceberam visuais icónicos e distintos, sugerindo um mundo destruído, onde os próprios corpos humanos são palcos de degredo e exploração indevida. Quer sejam os War Boys com a sua pele exangue e lábios quebrados pelo ar seco do deserto ou as mulheres tatuadas que procuram uma utopia longe do alcance de tiranos, cada uma das figuras em cena foi cuidadosamente concebida e um só vislumbre conta-nos imenso sobre elas.

Apesar de tudo isso, talvez o mais impressionante trabalho de maquilhagem seja aquele feito aos principais intervenientes da trama, Max, Furiosa e Immortan Joe. O anti-herói interpretado por Tom Hardy é um homem que mostra as subtis marcas de uma vida dura no deserto. Furiosa é um instantâneo ícone de rebeldia contra forças opressoras com a sua cara coberta de óleo para motores e cabelo rapado. Joe, em contrapartida, é uma figura quase desumana, sua pele coberta de pústulas e pó branco, com o cabelo quebradiço e a aparência de um cadáver a agarrar-se à vida contra as leis da Natureza. Como é que os Óscares podiam ter ido para outro filme que não este?




MELHOR DESIGN DE FIGURINOS

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© The Weinstein Company

O Óscar MHD vai para… Sandy Powell por CAROL!

Sandy Powell é uma das rainhas desta categoria dos Óscares e, em 2016, celebrava duas muito merecidas nomeações. Ela já por três vezes alcançou essa rara proeza da dupla nomeação e, neste ano particular, fê-lo com “Cinderela” e “Carol”. Infelizmente para esta figurinista britânica, o Óscar acabou por ser conquistado por Jenny Beavan e “Mad Max: Estrada da Fúria”. Sem dúvida, esse foi um bom e invulgar vencedor, mas, para a MHD, Powell foi mesmo a campeã de 2016 e os seus filmes acabaram por ser aqueles que mais votos receberam. Entre os dois, “Carol” ganhou por um triz.

Apesar de não ser um vencedor tão estranho como o épico de ação australiano, este drama romântico de Todd Haynes não deixa de ser um recipiente atípico para esta honra. Dizemos isto pois, apesar do glamour dos anos 50 em evidência no guarda-roupa de Cate Blanchett, os figurinos de “Carol” tendem a preferir a subtileza e o realismo em detrimento do espetáculo. As pessoas do filme não se vestem como se tivessem saído da Vogue, a não ser quando isso é algo justificado pelo seu caráter ou lugar na hierarquia social, há uma procura por simplicidade no desenho e as roupas raramente são destacadas pela construção cénica. Tudo isto resulta em figurinos que funcionam em perfeita simbiose com a obra em que se inserem, é claro.

Powell constrói uma reprodução da América dos anos 50, onde o pós-guerra ainda se agarra às pessoas mais velhas ou menos abastadas. As cores são sumidas, a não ser quando a figurinista nos quer orientar o olhar para pormenores, ajudando assim o filme a emular fotografias da época. Também existe uma preocupação clara com texturas que serve para sugerir o toque e chamar atenção à sensualidade que vem com o luxo de um casaco de pele, por exemplo. Trata-se de um trabalho impecável, dissimuladamente simples, que é fulcral para que o arco narrativo das personagens funcione. Diríamos mesmo que, se prestares atenção, consegues saber mais sobre as duas mulheres no centro do enredo pelas suas roupas do que pelo diálogo.




MELHOR CENOGRAFIA

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© Warner Bros.

O Óscar MHD vai para… Colin Gibson e Lisa Thompson por MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA!

Normalmente, a Academia de Hollywood tende a valorizar cenografias elaboradas e convencionais na sua espetacularidade. Belíssimos trabalhos de época são o vencedor clássico da categoria de Melhor Cenografia, mas obras de fantasia com espaços encantadores e cheios de detalhe também aqui encontram sucesso. O que raramente triunfa são trabalhos que fogem à tradição e a noções de beleza normativa. É por isso que “Mad Max: Estrada da Fúria” se trata de um vencedor tão peculiar, quase único.

Este é um filme onde quase não existem espaços fechados, sendo o deserto o seu principal ambiente. A maioria dos cenários que Colin Gibson concebeu são assim enormes veículos, cada um deles um reflexo do seu condutor e do mundo sem esperança de onde provêm. Tratam-se de milagres de engenharia e cenografia em igual medida, especialmente o camião que Furiosa guia e o palco sobre rodas onde um guitarrista mascarado dá ritmo às tropas motorizadas de Immortan Joe. Isto é espetacularidade do mais alto gabarito.

O melhor de tudo é como Gibson e sua decoradora, a fabulosa Lisa Thompson, não se deixam ficar pelo espetáculo sem substância ou dimensão concetual. Cada detalhe neste bizantino filme de ação é pensado e feito com estudiosa dedicação. Afinal, neste mundo sem futuro e sem felicidade, cada peça feita por humanos demonstra uma procura quase desesperada por encontrar algo belo na vida. Quer seja a pintura de um braço esquelético na porta de um veículo ou a cúpula engaiolada nos aposentos das esposas de um tirano, estes cenários são todos impecáveis. Foram uns Óscares mais que merecidos!




MELHOR FOTOGRAFIA

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© Warner Bros.

O Óscar MHD vai para… John Seale por MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA!

Os cenários de Gibson e Thompson não seriam nada sem a fotografia de John Seale a filmá-los em toda a sua glória. É a câmara deste diretor de fotografia australiano que captura tão apaixonadamente todos os detalhes dos veículos e ambientes pós-apocalípticos. Até os grãos de areia parecem híper definidos, dando a toda a obra uma pátina de caos visual, saturada de informação e retorcidos pormenores como um grande feito de arte barroca.

Parte do engenho do diretor de fotografia também passou pelas composições cuidadas. George Miller, Seale e a extraordinária técnica de montagem Margaret Sixel decidiram que era necessária grande claridade visual nas imagens para que fosse possível explodir o filme em epítetos de montagem frenética. Parte da solução passou pelo uso de composições muito centradas e simétricas, especialmente em cenas de lutas. Quando isso não era possível, Seale usou luz e movimento para manter o olho do espectador sempre nas personagens perdidas na loucura fogosa das cenas de ação.

Dominar o caos sem lhe retirar o seu poder primordial é somente um dos trabalhos de Seale em “Mad Max: Estrada da Fúria”. Afinal, quando pensamos no filme e sua fotografia, muito provavelmente a primeira coisa que nos vem à cabeça são as cores. George Miller inicialmente terá imaginado o filme a preto-e-branco, mas, como isso era impossível de financiar, decidiu que iria usar a cor do modo mais expressivo possível. Isso passou pela intensificação quase grotesca da paleta do filme. O deserto é de um laranja tóxico, o céu é azul metálico e a noite ainda mais azulada é, como um grande espetáculo de Technicolor envernizado com gasolina e sangue. Emmanuel Lubezki pode ter tido a sua terceira vitória consecutiva dos Óscares por “The Revenant”, mas a MHD preferiu premiar este mestre da cor e do caos.




MELHOR MONTAGEM

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© Warner Bros.

O Óscar MHD vai para… Margaret Sixel por MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA!

Parece que, tal como nos Óscares a sério, “Mad Max: Estrada da Fúria” é mesmo o rei absoluto das categorias “técnicas” nestes prémios da MHD. Esta honra para Melhor Montagem é o quinto galardão que atribuiríamos ao épico de ação de George Miller e talvez nem seja já o último. Uma coisa é certa, em termos formais, este é um filme imbatível, insuperável mesmo.

Neste caso, o que se celebra é o trabalho de montagem de Margaret Sixel, esposa do realizador George Miller e sua colaboradora de longa data. Talvez mais do que todos os outros envolvidos no filme, Sixel seja aquela mais responsável pelo seu triunfo final, sendo que foi pela sua mão que o filme ganhou ritmo e a precisão afiada que tanto o define. O que poderia ter sido uma aventura incoerente e confusa nas mãos de outro técnico, tornou-se num milagre de primor cinematográfico e economia narrativa graças às habilidades de Sixel.

Em cenas de ação com diversas personagens em pontos diferentes do espaço, ela nunca deixa que a audiência perca as figuras importantes ou deixe de pensar no custo emocional da violência em cena. Reações silenciosas aqui e ali, entrecortam explosões, momentos de pausa oferecem variações importantes e tornam as partes mais rápidas ainda mais subjetivamente velozes para o espectador embasbacado. Num filme que é, basicamente, uma perseguição de duas horas em movimento quase constante, é Sixel que dá forma ao caos e esculpe uma obra-prima de ação com base na matéria-prima que o seu filmou. Que parelha e que triunfo!




MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO

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© FilmNation Entertainment

O Óscar MHD vai para… Emma Donoghue por QUARTO!

Ambas as categorias de argumento representaram grande discórdia para a equipa MHD nesta votação dos Óscares. Foram das categorias onde o voto foi mais disperso, sendo que somente um filme em cada categoria ficou sem votos. Eles foram “Brooklyn” e “Straight Outta Compton”. Em contraste com esses casos, todos os outros nomeados receberam mais que um voto e, a certa altura, Melhor Argumento Original estava com quatro filmes empatados.

Na categoria de Melhor Argumento Adaptado, a situação foi meio diferente, com dois filmes a dominarem, mesmo que os outros também recebessem alguns votos escassos. “Carol” e “Quarto” são os campeões desta categoria, mas, no final, o drama assinado por Emma Donoghue lá triunfou acima do romance lésbico adaptado por Phyllis Nagy. Trata-se de uma vitória particularmente curiosa quando consideramos que Donoghue estava a adaptar o seu próprio livro, uma raridade na indústria cinematográfica.

Talvez por já ter sido responsável pelo trabalho literário que deu origem ao filme, a argumentista demonstra uma grande habilidade com as personagens e a história, tornando o livro numa experiência cinematográfica que, com exceção da narração voz-off, mostra poucas marcas das suas origens livrescas. O melhor de tudo é a segunda metade do filme, onde Donoghue não deixa que a transferência para o grande ecrã lime as arestas vivas do livro, mantendo a complexidade psicológica das personagens e seus aspetos mais abrasivas. “A Queda de Wall Street” ganhou o Óscar da Academia, mas o prémio da MHD vai para “Quarto”.




MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL

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© Pixar Animation Studios

O Óscar MHD vai para… Ronnie Del Carmen, Josh Cooley, Pete Docter e Meg LeFauve por DIVERTIDA-MENTE!

Tal como já dissemos, a corrida ao Óscar MHD para Melhor Argumento Original foi um tanto ou quanto caótica. Ou melhor, os votos foram tão dispersos que, antes de a última pessoa da equipa entregar os seus votos, a categoria tinha três vencedores. No final, “Divertida-Mente” ganhou por um só voto, superando “O Caso Spotlight” e “Ex Machina”, também eles filmes muito amados nestas redondezas.

Como se sabe, a Academia de Hollywood escolheu “O Caso Spotlight”. Tratou-se de um vencedor tradicional, ainda por cima porque se trata de um filme, em parte, sobre o poder da escrita e de escritores, o poder de contar uma história e com ela revelar verdades escondidas. “Divertida-Mente”, pelo contrário, é uma experiência altamente metafórica, sem bases na realidade histórica e cuja mistura de tons tragicómicos o separam de praticamente todos os outros filmes nomeados. Além do mais, é um filme de animação e nunca nenhum filme de animação ganhou um Óscar pela sua escrita.

A MHD obviamente não tem os mesmos estranhos preconceitos que a Academia tem contra filmes de animação ou narrativas altamente metafóricas. Se bem que, numa análise mais cínica, é bem provável que o que tenha selado a vitória do filme seja o seu visceral impacto no coração dos espectadores. Com isso dito, sendo este um filme sobre emoções, tal causa para a sua vitória é altamente apropriada. Além do mais, o modo como “Divertida-Mente” aborda questões emocionais é incrivelmente complexo, chegando mesmo a fazer o que poucas obras de entretenimento fazem e reconhecer o valor de sentimentos negativos na mente e desenvolvimento de uma pessoa.




MELHOR ATOR SECUNDÁRIO

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© DreamWorks

O Óscar MHD vai para… Mark Rylance por A PONTE DOS ESPIÕES!

Mark Rylance é um dos grandes atores dos palcos contemporâneos, um génio quase sem comparação que merece toda a aclamação que tem recebido ao longo dos anos. Talvez mais ninguém seja tão exímio a dar vida aos textos de Shakespeare, por exemplo. Foi este talento e habilidade que Rylance trouxe ao seu primeiro projeto com Steven Spielberg, o drama político passado no auge da Guerra Fria “A Ponte dos Espiões”.

Como o ator raramente aparece em frente às câmaras, preferindo o teatro e filmes mais obscuros como os devaneios psicossexuais de “Anjos e Insetos” e “Intimidade”, terão havido muitos espectadores tomados de surpresa pelos talentos do britânico. A sua voz suave é doce e reconfortante, mas coloca também uma barreira entre o que vai na cabeça da personagem e o espectador. Também a sua linguagem corporal é afável e aberta, mas, ao mesmo tempo, diz-nos pouco sobre o modo como este homem reage ao mundo em seu redor.

Sendo ele um espião soviético, tais equilíbrios entre afabilidade e opacidade psicológica são fulcrais para o impacto e sucesso do trabalho do ator. Rylance mantém o mistério do espião, mas deixa trespassar a gentileza de um homem que, como todos os outros, merece justiça e merece que a sua vida tenha valor. Ele é a força motriz que propulsiona todo o enredo e todo o drama de “A Ponte dos Espiões”, sendo que a sua presença é sentida mesmo quando ele não está em cena. Por isso mesmo, Mark Rylance conquistou o prémio dos Óscares da Academia e, agora, conquista o Óscar da MHD também.




MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA

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© Visiona Romantica

O Óscar MHD vai para… Jennifer Jason Leigh em OS OITO ODIADOS!

Hoje em dia, Jennifer Jason Leigh pode não ser muito conhecida, mas, em tempos, ela seria uma cara muito conhecida de cinéfilos. Nos anos 80, ainda na sua juventude, Leigh mostrou ser capaz de trazer humanidade dolorosa até a comédias de adolescentes meio patetas e, chegada a década seguinte, ela afirmou-se como uma das atrizes mais extraordinárias da indústria americana.

Filmes como “Balada de Miami”, “Jovem Procura Companheira”, “Short Cuts”, “O Grande Salto”, “A Senhora Parker e o Círculo do Vício”, “Eclipse Total” e “Georgia” mostram os talentos desta destemida intérprete e todos eles poderiam ter-lhe valido nomeações justas para os Óscares. Contudo, Leigh teve de esperar até 2016 para alcançar tal honra. Quentin Tarantino, tal como tem feito com muitos atores caídos no esquecimento profissional, ofereceu-lhe uma oportunidade impossível de recusar e Jennifer Jason Leigh rendeu-se de corpo e alma aos devaneios do cineasta.

Em “Os Oito Odiados”, Jennifer Jason Leigh é quase que uma personificação de instinto assassino animal e loucura humana. Ela é Daisy Domergue e parece odiar todo o mundo, cada um dos seus movimentos e gestos um pequeno signo de infantilidade perversa e hostil. Talvez o mais admirável, contudo, seja o modo como Leigh nunca se deixa render pela longa duração do filme e é capaz de avivar até as mais compridas cenas de inação com a sua energia inata. A Academia dos Óscares deu o prémio a Alicia Vikander, mas a MHD selecionou Leigh e, considerando todas estas razões, não nos parece que seja uma escolha desacertada.




MELHOR ATOR PRINCIPAL

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© Working Title Films

O Óscar MHD vai para… Eddie Redmayne em A RAPARIGA DINAMARQUESA!

Esta foi uma categoria que deu que falar na MHD, uma vez que os votos ficaram bastante divididos. Apesar de originalmente Leonardo DiCaprio ter levado o prémio para casa, de acordo com a equipa da MHD, o galardão deveria estar nas mãos de Eddie Redmayne. Sem dúvida que a performance de Redmayne marcou a sua carreira pela forma como o ator seguiu os   esforços de Lili para conseguir libertar-se da   sua identidade masculina e abraçar completamente quem verdadeiramente era. Depois de ter vencido o Óscar por interpretar Stephen Hawking, Redmayne trouxe-nos uma personagem totalmente diferente, mas igualmente merecedora da estatueta.

Ao longo do filme, muitos são os momentos brilhantes de Eddie  Redmayne, entre  eles a grandiosa cena em que posa em frente a um espelho, tentando perceber como deveria ser o seu corpo e contemplando aquele que recebeu, enquanto sonha acordado com a pessoa que desejaria ser.  Redmayne faz assim uma espécie de dupla personagem, dando vida a Einar, a projeção masculina exigida pela sociedade, e a Lili. Ele expressa, na sua representação, a verdade interior da pessoa que interpreta. Através de Lili, podemos ver uma delicada e tímida personagem, com risos contidos e expressões suaves. Os seus movimentos são leves, as suas frases pensadas, mas a coragem jamais é contida.

Redmayne faz jus à história que conta e deixa rendidos aqueles que a sua história conhecem. “A Rapariga Dinamrquesa” inicia-se de forma animada e, apesar do seu assunto delicado, não se torna muito pesada ou melodramática e isso deve-se, em  grande parte,  à  forma  como  Redmayne construiu a sua performance. A subtileza com que a lenta transição de Lili para a feminilidade é mostrada neste filme é brilhantemente apresentada por Redmayne. Não é nenhum diálogo volátil que cimenta a legitimidade da vitória de Redmayne mas sim cada passo, cada olhar, cada movimento de mão e de cabeça que foram cuidadosamente calculados e desempenhados pelo ator e é precisamente isso que o torna totalmente merecedor deste galardão.

– Catarina Novais




MELHOR ATRIZ PRINCIPAL

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© FilmNation Entertainment

O Óscar MHD vai para… Brie Larson em QUARTO!

Em 2016, Brie Larson não era uma figura nem tão (injustamente) controversa nem tão famosa como é agora. Durante anos, a atriz andou a ganhar reputação como uma das grandes intérpretes da sua geração, conquistando os críticos e os cinéfilos com grandes prestações em projetos pequenos e papéis secundários em filmes mais mediáticos. Até na televisão ela provou os seus talentos com “As Taras de Tara”. No entanto, foi com “Temporário 12”, estreado em 2013, que ela realmente ganhou projeção e foi provavelmente graças a esse filme que conseguiu garantir o seu papel em “Quarto”.

Nesse drama que lhe viria a conquistar o Óscar, Larson dá vida a Joy, a vítima de um raptor e violador que a manteve fechada num casebre no seu quintal durante anos. Ela é uma rapariga indefesa cuja vida foi irrevogavelmente destruída pelas ações criminosas de um monstro, mas é também uma mãe dedicada e desesperada. É essa dinâmica, entre a jovem traumatizada e a mãe a tentar salvar o filho, que fazem do papel algo tão carnudo e também tão difícil. Larson, no que lhe compete, nunca dá qualquer impressão dessas dificuldades, manejando os contrastes e contradições da sua personagem com enorme habilidade.

Parte do génio do trabalho de Larson, é como a atriz faz do arco narrativo de Joy, a história de uma mestra a compartimentalizar o trauma que, quando alcança a tão desejada liberdade, é confrontada com esse mesmo trauma e é incapaz de lidar com ele. Sua dinâmica com o filho é a única constante e a atriz tem excelente química familiar com o pequeno Jacob Tremblay. No entanto, é nos momentos em que ela mais revela a sua dor, o esgar de uma adolescente carrancuda a responder mal à mãe ou a incompreensão angustiada durante uma entrevista, que Larson realmente conquista a nossa admiração total. O voto para esta categoria dos Óscares MHD foi, aliás, um dos mais decisivos, tendo Cate Blanchett ficado num distante segundo lugar pelo seu trabalho em “Carol”.




MELHOR REALIZAÇÃO

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© Warner Bros.

O Óscar MHD vai para… George Miller por MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA!

Alejandro González Iñárritu conquistou, em 2016, o seu segundo Óscar consecutivo para Melhor Realização. Não podemos ainda dizer se o vencedor de 2015, para a MHD, vá ser Iñárritu, mas, em 2016, o nosso voto coletivo recai sobre outra pessoa. Tratou-se mesmo de um voto decisivo, tendo George Miller conquistado mais de metade dos votos da equipa. Iñárritu, como seria de esperar, ficou em segundo lugar, mas foi um segundo lugar ainda distante.

Considerando quanto “Mad Max: Estrada da Fúria” dominou os nossos prémios mais “técnicos”, este resultado parece-nos óbvio. Ainda para mais, esta é uma honra que reconhece todo o esforço quase sobre-humano que o realizador australiano dedicou ao projeto. Durante anos, Miller esteve a tentar arranjar financiamento para este seu épico tresloucado sem ter de sacrificar em demasia a sua visão. No final, ele lá conseguiu essa proeza difícil e assinou, com este filme, um dos blockbusters mais estranhos de todos os tempos. Raramente se falam de blockbusters de ação enquanto cinema de autor, mas “Mad Max: Estrada da Fúria” é a exceção que prova a regra.

Este é um feito sem igual, desde o design bizantino à sonoridade opressiva que nos martela os ouvidos e aperta o coração. Com a ajuda de Margaret Sixel e toda uma equipa de artistas exemplares, ele materializou a sua visão de uma história progressista passada num futuro em que a Humanidade está a sofrer as consequências de todos os erros que agora comete sem pensamento. Ele devia ter ganho ovários Óscares neste ano, mas, enfim, terá de se contentar com o Óscar MHD.




MELHOR FILME

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© Warner Bros.

O Óscar MHD vai para… MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA, Doug Mitchell e George Miller!

Depois de seis vitórias, ninguém ficará surpreso ao saber que, na categoria de Melhor Filme, o voto da MHD recai sobre “Mad Max: Estrada da Fúria”. É claro que, nos Óscares da Academia, o filme de George Miller também conquistou seis estatuetas, mas ficou de mãos a abanar no que se refere ao maior prémio de todos. De facto, esta aventura pós-apocalíptica ia quase perdendo esta honra da MHD também. A última pessoa a entregar os seus votos para este artigo foi quem decidiu a vitória de “Mad Max: Estrada da Fúria” que, até aí, estava ligeiramente atrás de “O Caso Spotlight”. Foi mesmo renhido, o voto mais renhido dos Óscares MHD até agora.

Como justificação desta escolha, deixamos aqui algumas das palavras que Daniel Rodrigues escreveu quando o filme ficou em primeiro lugar no Top MHD de 2015:

Poucos foram os filmes que ousaram fazer sombra à memória daquela intrépida noite de maio em que caminhamos furiosamente rumo a Valhalla. Pensar que a concorrência ficou sem combustível, teve um furo no pneu, ou simplesmente se despistou ao admirar os andores embebidos em óleo do tirano Immortan Joe, seria desonestidade intelectual. A verdade é só esta: “Max Max: Estrada da Fúria” tinha um motor tremendamente mais potente. Tão potente que o colocará para sempre lá no cimo das igrejas dos cinéfilos, onde se fazem adorações a “O Padrinho”, juras de amor eterno a Kubrick e peregrinações por Ingrid Bergman. Agora, também Max e Furiosa terão o seu altar. Rezemos por mais milagres como este.

No final, “Mad Max: Estrada da Fúria” é o nosso glorioso vencedor e é talvez o melhor filme que premiámos até agora. É também o filme que mais Óscares MHD ganhou nesta edição. Em contraste, o drama sobre jornalistas de Boston ficou sem um único troféu. “The Revenant”, “A Queda de Wall Street”, “Brooklyn” e “Perdido em Marte”, outros filmes muito adorados pelos Óscares, também não tiveram sorte nenhuma. Além da obra de George Miller, só mesmo “Quarto”, “Os Oito Odiados” e “Divertida-Mente” é que conseguiram mais do que um troféu. “Carol” esteve lá perto, tendo ganho Melhores Figurinos e ficado em segundo lugar noutras três categorias. Em suma, além do amor generalizado por “Mad Max: Estrada da Fúria” parece que a equipa MHD não tem uma opinião particularmente homogénea em relação aos filmes desta edição dos Óscares. Diversidade de opinião não é nada de mal, é claro, especialmente quando o resultado é o glorioso triunfo de uma obra-prima como esta.

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