As piores vencedoras do Óscar de Melhor Atriz Secundária
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De Gale Sondergaard a Regina King, examinámos as 81 performances vencedoras do Óscar para Melhor Atriz Secundária em busca das piores galardoadas de sempre.
Seguindo os artigos que fizemos sobre os Óscares para Melhor Atriz e Melhor Ator, chegou agora o momento de explorarmos as vencedoras do galardão para Melhor Atriz Secundária. Este prémio, ao contrário das outras duas categorias, só foi instaurado no nono ano dos Óscares, pelo que tivemos menos filmes em consideração. Além disso, convém mencionar que esta é talvez a categoria de atuação com melhor coleção de vencedores. Pelo menos, foi muito mais difícil encontrar verdadeiros desastres aqui, do que foi para Melhor Ator, por exemplo.
Em termos de menções honrosas, ou desonrosas neste caso, temos que dar destaque a duas premiadas dos anos 50. Tanto Gloria Grahame em “Cativos do Mal” e Miyoshi Umeki em “Sayonara” ganharam pelo seu trabalho com papéis minúsculos que não ofereciam às atrizes nenhuma oportunidade para fazer algo que merecesse o Óscar. Ambas ganharam por razões que nada têm que ver com a qualidade do seu trabalho nestes filmes.
Grahame teve um ano espetacular em 1952 e o Óscar quase vale por todos os filmes da atriz nesse ano, sendo um prémio mais de carreira do que de um feito individual. Pelo que nos compete, teríamos gostado muito mais de ver a atriz ganhar o prémio por “Medo Súbito”, um film noir que estava elegível no mesmo ano. No caso de Umeki, tratou-se de um gesto com grande significado político por parte da maior indústria cultural dos EUA, uma mostra de reconciliação para com o Japão depois dos ressentimentos do pós-guerra se começarem a atenuar.
Sem muitas mais demoras, aqui seguem as nossas escolhas para as 10 piores vencedoras do Óscar para Melhor Atriz Secundária. Lembramos que esta não é uma lista de más atrizes, mas de performances que não mereciam este prémio, tanto pela qualidade da performance como pela sua competição mais merecedora. Segue as setas para explorar o artigo, sendo que a pior vencedora de sempre está no último slide.
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10. Helen Hayes em AEROPORTO
- Ano da cerimónia: 1971
- Papel: Ada Quonsett, uma idosa que tem por hábito viajar em voos para os quais não comprou bilhete e, no mesmo dia em que é apanhada, acaba por se ver envolvida nas tentativas de travar um bombista num avião para Los Angeles.
- Quem devia ter ganho: Lee Grant em O SENHORIO
Em 1970, quando “Aeroporto” estreou, Helen Hayes era considerada uma das grandes atrizes dos palcos, uma verdadeira veterana do show business. Além disso, ela era já uma atriz vencedora do Óscar, tendo conquistado o galardão nos anos 30 com “O Pecado de Madelon Claudet”. Basicamente, o nome desta atriz era sinónimo de prestígio e foi exatamente isso que os cineastas por detrás deste blockbuster histórico queriam quando a escolheram para o papel mais cómico da obra.
O prestígio que Hayes e outros atores de semelhante importância deram ao projeto fez com que “Aeroporto” se conseguisse catapultar para o palco dos Óscares. Este foi o filme que deu início a uma torrente de filmes sobre desastres vistosos com elencos de luxo, marcando toda a década de 70. Foi também um dos filmes mais lucrativos do seu ano de estreia e, como sempre, os Óscares têm por hábito ignorar a má qualidade de algumas produções quando o seu sucesso comercial é tão impossível de ignorar. Sucesso comercial, apelo popular, prestígio e um papel cómico que se destaca num filme tenso, estes foram os ingredientes que levaram à segunda vitória de Hayes.
Um elemento que parece não ter sido considerado por ninguém é a performance em si. Basicamente, Hayes está em modo de piloto automático ao longo do filme, passando pelas partes mais rebuscadas do enredo com um sorriso meio vago e uma boa dose de charme. É certo que no meio de todo o portentoso suspense de “Aeroporto”, esta idosa sorridente acaba por ser uma brisa de ar fresco, mas de modo algum isso lhe devia ter valido um Óscar. Trata-se de uma prestação fácil e medíocre, especialmente quando comparada às outras nomeadas, incluindo Maureen Stapleton que também foi indicada por este mesmo filme.
9. Alicia Vikander em A RAPARIGA DINAMARQUESA
- Ano da cerimónia: 2016
- Papel: Gerda Wegener, uma pintora dinamarquesa na primeira metade do século XX que esteve casada com Lili Elbe, uma pintora transgénero que foi somente a segunda pessoa na História a fazer uma cirurgia de confirmação de género.
- Quem devia ter ganho: Rachel Mcadams em O CASO SPOTLIGHT ou Kate Winslet em STEVE JOBS
Fraude de categorização é um dos “crimes” mais comuns na Awards Season. Todos os anos, algum ator insuspeito ou distribuidora astuta aproveita-se da falta de pensamento crítico das pessoas que votam nos Óscares e outros prémios e promovem uma prestação de protagonista como uma presença secundária. Assim, um ator com um papel enorme, com importância de um coprotagonista, faz campanha como secundário, é nomeado nessa categoria e, como tem muito mais tempo de ecrã e peso dramático que os outros nomeados, tem mais facilidade em ganhar. Quando um filme se centra num par romântico, a pessoa mais feminina acaba quase sempre por ser considerada como uma secundária.
A temporada dos prémios que englobou o fim de 2015 e o início de 2016 foi particularmente terrível neste aspeto. Basta olharmos para a categoria de Melhor Atriz Secundária. Alicia Vikander em “A Rapariga Dinamarquesa” e Rooney Mara em “Carol” são claramente coprotagonistas ao lado de Eddie Redmayne e Cate Blanchett, respetivamente. Tão flagrante foi esta fraude, que elas foram mesmo nomeadas como atrizes principais por uma série de associações, incluindo os Globos de Ouro. No entanto, quando chegaram os Óscares, ambas foram indicadas como atrizes secundárias e Vikander acabou por ganhar.
O pior de tudo, é que a vitória de Vikander não é só injusta devido à sua importância narrativa e vasto tempo em cena. Esta é genuinamente uma prestação que não merecia ganhar prémios, sendo o claro exemplo de alguém que está num filme que não compreende a nível tonal. Enquanto todos à sua volta estão a dar vida a um drama de época maniento e cheio de especificidades históricas ao nível de linguagem e comportamento, Alicia Vikander nunca deixa de ser uma figura a transbordar modernidade. Veja-se a sua fisicalidade, o gesto e a voz, o modo como ela está sempre em fricção com o filme. Considerando a abismal qualidade de “A Rapariga Dinamarquesa”, esta abordagem não é necessariamente prejudicial para a experiência do espetador, mas não deixa de ser incongruente. Além disso, esta é uma interpretação cheia de excessos melodramáticos e escolhas cliché. Oxalá Vikander tivesse sido galardoada pelo seu trabalho superior em “Ex Machina”.
8. Gale Sondergaard em ADVERSIDADE
- Ano da cerimónia: 1937
- Papel: Faith, uma empregada doméstica ambiciosa que manipula aqueles em seu redor, acabando por estar envolvida num homicídio, para garantir a sua subida na hierarquia social da Europa do século XVIII.
- Quem devia ter ganho: Bonita Granville em TRÊS CORAÇÕES IGUAIS
A primeira vencedora do Óscar para Melhor Atriz Secundário tem a triste honra de ser também uma das piores galardoadas com esse galardão. Não que Gale Sondergaard não fosse uma atriz interessante ou merecedora de prémios, é claro. Com seus sorrisos venenosos e elegância altiva, a atriz era uma especialista em papéis secundários que deixavam grande impressão na mente do espectador, papéis memoráveis, mas pequenos. De facto, tanto ela era uma figura de renome e grande presença no grande ecrã, que a Disney a usou como inspiração principal quando chegou a altura de desenhar a Rainha Má de “Branca de Neve e os Sete Anões”.
Essa qualidade cartoonesca de Sondergaard está bem visível em “Adversidade”. O problema é que este entediante épico histórico está longe de ser uma animação estilizada da Disney, pelo que a expressividade plástica da atriz acaba por dar-lhe uma dimensão grotesca, quase desumana. É certo que Faith, a personagem, é uma vilã, mas Sondergaard não precisava de telegrafar a sua malvadez de forma tão gritante. Ao invés de termos uma mestra manipuladora, temos uma bilhardeira de sorriso venenoso a quem nem a mais ingénua das crianças confiaria.
Quando vemos paródias de atores do passado, com vilões a revirar bigodes e surpresa a ser expressa com olhos arregalados e sobrancelhas levantadas, o tipo de performance a ser referenciada engloba os esforços de Gale Sondergaard neste filme. Entendemos as razões que levaram o Óscar a cair nas mãos da atriz, afinal ela é bem memorável e é a antítese de aborrecida quando está em cena, mas não conseguimos categorizar isto como um bom desempenho. Muito menos podemos chamar-lhe uma performance merecedora do Óscar.
7. Estelle Parsons em BONNIE E CLYDE
- Ano da cerimónia: 1968
- Papel: Blanche Barrow, a cunhada do famoso Clyde Barrow que, contra a sua vontade, acaba por se ver envolvida nas atividades criminosas dele e seu gangue de cúmplices.
- Quem devia ter ganho: Katharine Ross em A PRIMEIRA NOITE
“Bonnie e Clyde” foi um fenómeno cinematográfico que virou Hollywood do avesso em 1967 e abriu caminho para um novo tipo de cinema. É graças a este filme que tivemos a Nova Hollywood dos anos 70 em que cineastas inovadores mudaram por completo a indústria cinematográfica, adaptando os desenvolvimentos artísticos das vanguardas europeias ao modelo americano, trazendo consigo realismo estético e novas possibilidades temáticas. Nada disso quer dizer que, no seu ano de estreia, todos se tenham apercebido da importância e influência que “Bonnie e Clyde” viria a ter.
De certo modo, era impossível negar que este era um filme de grande valor e peso no panorama cultural. Tanto assim foi que, apesar de o filme ser quase antitético aos valores vigentes na velha guarda da Hollywood da época, a Academia acabou por nomeá-lo em várias categorias, incluindo Melhor Filme. Nomeações, no entanto, não significam vitórias e, chegada a noite dos Óscares, “Bonnie e Clyde” ganhou somente dois prémios. Hollywood estava disposta a reconhecer o impacto do filme, mas ainda não estava preparada para o celebrar na sua totalidade.
Seguindo esta lógica, não é surpreendente que a Academia tenha escolhido premiar um dos elementos mais convencionais do filme. Referimo-nos, pois claro, à prestação de Estelle Parsons, uma irritante explosão de melodrama e histeria que está sempre a servir de contraponto às ações criminosas dos protagonistas e sua geral rebeldia. De certo modo, Blanche Barrow era um avatar para uma indústria a olhar temerosamente para o seu futuro, gerações envelhecidas em pânico face à aparente monstruosidade dos mais novos. Tudo isso contribui para que esta seja uma vitória de grande interesse histórico, mas em nada justificam que tenhamos de viver num mundo em que o tipo de gritaria descontrolada, sem modulação ou disciplina a que Estelle Parsons se rende neste filme seja validada pelo Óscar.
6. Allison Janney em EU, TONYA
- Ano da cerimónia: 2018
- Papel: LaVona, a mãe abusiva da patinadora artística mais infame da História, Tonya Harding.
- Quem devia ter ganho: Laurie Metcalf em LADY BIRD
Como prova máxima da qualidade das vencedoras desta categoria e da heterogeneidade de opiniões da equipa MHD, veja-se a presença de Allison Janney nesta lista. Nos nossos Óscares MHD de 2018, a atriz acabou por ser a escolhida na categoria de Melhor Atriz Secundária, apesar de ter recebido forte competição de Laurie Metcalf em “Lady Bird” e Lesley Manville em “Linha Fantasma”. No entanto, não obstante essa vitória, não podemos deixar de mencionar Janney neste contexto, como também uma das piores vencedoras.
Como já mencionámos, esta não é uma lista de más atrizes, mas de performances que não mereciam ganhar o Óscar. Dizemos isso pois é entendível que a Academia queira dar um prémio a Janney, uma das atrizes mais populares de Hollywood, uma especialista em papéis secundários com uma filmografia rica e cheia de papéis coloridos. Infelizmente, o papel que acabou por levá-la ao palco dos Óscares é um dos seus piores, um dos seus desempenhos mais exagerados e menos subtis. De certa forma, a culpa é do guião, mas Janney só piora a situação com a sua abordagem afetada, mais preocupada em ser memorável que em ser coerente enquanto uma caracterização.
Aliás, diríamos mesmo que LaVona é a pior parte de “Eu, Tonya”, apesar de ter sido o seu único elemento a conquistar um Óscar. Ela é um mecanismo cómico e artificialmente abrasivo cuja natureza abusiva o filme nunca examina de forma competente. Nunca parece um ser humano e isso é também culpa de Allison Janney que interpreta esta mãe cruel como uma máquina de catchphrases e piadas fáceis. Pior ainda é o modo como, no meio de um elenco preocupado em reproduzir os trejeitos e sotaques carregados das personagens reais, esta atriz parece ter deixado que o figurino e maquilhagem fizessem o trabalho transformativo por ela e parece simplesmente uma versão mais abrasiva da típica personagem de Allison Janney.
5. Jennifer Connelly em UMA MENTE BRILHANTE
- Ano da cerimónia: 2002
- Papel: Alicia Nash, uma estudante universitária que se casa com o seu professor de matemática, um génio que sofre de esquizofrenia e acabaria por ganhar um prémio Nobel em 1994.
- Quem devia ter ganho: Helen Mirren em GOSFORD PARK
Para escrever este artigo, tentámos investigar a reação na imprensa contemporânea às vitórias destas atrizes, na esperança de melhor contextualizar e entender como é que tudo aconteceu. Por isso mesmo, gostaríamos de começar por esclarecer que em nada concordamos com os comentários sexistas, mesmo misóginos, que várias pessoas, incluindo “especialistas” dos Óscares, fizeram sobre Jennifer Connelly aquando da sua nomeação e consequente vitória em 2002. Não, Connelly não ganhou o Óscar por ter uma cena em “Uma Mente Brilhante” onde aparece vestida com um top molhado.
A principal razão para vitória de Connelly é o tipo de papel que ela interpreta no filme, o da esposa de um grande homem que o apoia incondicionalmente ao longo de uma história de vida atribulada. Os Óscares, apesar da sua fama atual, têm um gosto extremamente conservador e isso estende-se ao tipo de papéis que estão normalmente dispostos a premiar. A esposa devota num drama de prestígio é o toque de Midas para qualquer atriz que queira ter um homenzinho doirado nas mãos. O facto que Connelly tinha dado uma prestação devastadora e muito aclamada pela crítica no ano anterior, em “A Vida Não é Um Sonho”, também a terá ajudado.
Em 2002, Connelly era uma atriz com pedigree crítico e o papel ideal para os gostos da Academia no filme que haveria de ganhar o prémio para Melhor Filme. Foi assim que ela ganhou. A performance em si contribui muito pouco, sejamos sinceros. De facto, Connelly é uma das maiores vítimas do argumento superficial de “Uma Mente Brilhante”, sendo constantemente reduzida a um arquétipo sem interioridade além da sua convicção matrimonial. Pelo que lhe compete, a atriz em nada complica o que o guião lhe dá ou transcende os limites do texto. Ela é simplesmente competente e enfadonha e torna-se uma cúmplice do filme no crime de reduzir Alicia Nash a uma série de clichés e mecanismos cinematográficos sem pinga de humanidade.
4. Jennifer Hudson em DREAMGIRLS
- Ano da cerimónia: 2007
- Papel: Effie White, uma cantora de R&B que, nos anos 60, começa a ganhar fama como parte de um girl group, mas engravida do seu manager e é expulsa do grupo antes de as suas colegas alcançarem os antípodas da fama e sucesso comercial.
- Quem devia ter ganho: Adriana Barraza em BABEL
Considerando que “Dreamgirls” é o primeiro filme de Jennifer Hudson, temos que ser um pouco caridosos para com a atriz. Entrar no mundo do cinema com um dos papéis mais vistosos e complicados que o teatro musical americano tem para oferecer é um desafio e pêras. Como seria de esperar, esta célebre concorrente de “American Idol” tem uma voz espetacular e consegue com ela “vender” as canções. O problema ocorre quando Hudson se encontra fora de um número musical e não se pode apoiar nas suas pirotecnias vocais.
O papel de Effie pode ser lembrado pelas suas grandes canções, mas alguns dos seus maiores desafios encontram-se entre essas grandes canções. A narrativa raramente se foca nela, fazendo com que as suas crises pessoais se vão construindo às margens de cenas, pouco a pouco até que o drama rebenta em números que deitam a casa abaixo. Essas cenas sem cantoria são o que sustenta os desenvolvimentos dramáticos expressos pelas canções e sem elas, as músicas não são mais que espetáculos sónicos desprovidos de conteúdo narrativo. O problema de Hudson é que ela é capaz de arrasar em cenas de canto, mas quando a câmara não está focada nela, o seu amadorismo mostra a cara e todo o peso emocional que ela traz às canções esfuma-se.
Em parte, isto é facilmente explicado pela metodologia que o realizador Bill Condon usou com Hudson. Como ela era uma atriz com pouca experiência, as cenas mais portentosas foram todas deixadas para o fim da narrativa, para quando a atriz já estivesse mais segura no papel de Effie. Isso fez com que os momentos transitórios fossem todos filmados primeiro, quando Hudson estava mais verde e sem controlo total sobre a caracterização. Este tipo de filmagem fora de ordem é comum, mas raro é o intérprete que nos permite ver isso no produto final como Jennifer Hudson faz. Por isso, não obstante, quanto queiramos aplaudi-la quando ela canta “And I Am Telling You”, não podemos concordar com um Óscar dado a uma prestação tão pejada dos erros de uma principiante.
3. Ingrid Bergman em MORTE NO EXPRESSO DO ORIENTE
- Ano da cerimónia: 1975
- Papel: Greta, uma missionária escandinava com um passado misterioso que se vê envolvida no enredo de um assassinato que ocorre na mesma carruagem em que ela está a viajar no Expresso do Oriente.
- Quem devia ter ganho: Valentina Cortese em A NOITE AMERICANA
Como já dissemos nos artigos sobre os piores vencedores nas categorias de Melhor Ator e Melhor Atriz, quando um ator admite que não mereceu o Óscar, temos de prestar atenção. Quando um ator ganha um Óscar e passa o seu discurso basicamente a pedir desculpa por ter ganho, então temos um caso merecedor de especial destaque. Assim foi o que aconteceu com Ingrid Bergman que, em 1975, ganhou o seu terceiro Óscar com “Morte no Expresso do Oriente”.
Nesta adaptação da mais famosa aventura de Hercule Poirot, Bergman interpreta uma das muitas personagens coloridas que se veem envolvidas num misterioso assassinato. Tal como o resto do elenco, a atriz sueca tem direito a uma introdução aquando do embarque, pequenas reações aqui e ali entre cenas grandes, um interrogatório prolongado e participação no flashback final. Tirando o interrogatório, Bergman faz pouco mais que se desmanchar em expressões exageradas no fundo de cenas, mas não é a falta de oportunidade que faz desta uma das piores performances da atriz.
Como já dissemos, o resto do elenco tem papéis estruturados de modo quase idêntico ao de Bergman, mas todas as outras atrizes se safam muito melhor, em parte porque não puxam tanto pelo holofote como Bergman. Esta atriz, triplamente Oscarizada nunca para quieta, estando sempre a contorcer-se em apoplexias religiosas, com olhos esbugalhados e mãos tremidas, ela é uma montanha de tiques e afetações que em nada conferem a ideia de uma personagem coerente. O pior de tudo é que Bergman teve a oportunidade de dar vida a outro, muito mais apropriado, papel no mesmo filme, pois o realizador queria-a para o papel que acabou por ser dado a Wendy Hiller. Foi Bergman que insistiu em interpretar Greta e foi ela que acabou por roubar o Óscar que devia pertencer a Valentina Cortese, um crime que a própria diva sueca confessou quando recebeu o Óscar.
2. Shelley Winters em UMA RÉSTEA DE AZUL
- Ano da cerimónia: 1966
- Papel: Rose-Ann D’Arcey, a mãe abusiva e virulentamente racista de uma rapariga cega que trava amizade com um homem afro-americano na América dos anos 60.
- Quem devia ter ganho: Ruth Gordon em O ESTRANHO MUNDO DE DAISY CLOVER
Até hoje, nove pessoas ganharam mais de um Óscar para Melhor Ator. No caso de Melhor Atriz foram 14 e no caso de Melhor Ator Secundário foram oito. Estranhamente, olhando para a lista de vencedoras do galardão para Melhor Atriz Secundária, só se encontram dois nomes repetidos. Dianne Wiest e Shelley Winters são as únicas atrizes capazes da proeza que é ganhar dois Óscares para Melhor Atriz Secundária, mas, infelizmente, só uma delas é que se pode dizer merecedora de tal glória. Essa pessoa não é Shelley Winters.
Apesar de a sua vitória em 1960 por “O Diário de Anne Frank” ser amplamente justificável, o trabalho que valeu o segundo prémio a Winters é quiçá um dos seus piores desempenhos de sempre. Em “Uma Réstea de Azul”, a atriz dá vida a uma górgona de abuso maternal e racismo agressivo, uma prostituta que decide usar a filha que ela mesma cegou para ganhar mais dinheiro, um monstro sem redenção que oferece muitas oportunidades à atriz para esta se desmanchar em epítetos de raiva e gritaria descontrolada. Winters não deixa passar nem uma dessas oportunidades e acaba por reduzir um dos papéis mais importantes do filme a uma caricatura de vilania unidimensional.
Apesar de sempre se mostrar muito orgulhosa pelas suas duas vitórias, Shelley Winter foi sempre a primeira a admitir que odiava a sua personagem neste filme e, mesmo durante as filmagens, nunca a compreendeu. Essa falta de compreensão é entendível face a tal atrocidade desumana, mas também afeta negativamente a performance e o filme. Winters nunca convence como uma pessoa real que existe para além do que a câmara vê. Esta é uma prestação construída à superfície, só com trejeitos vácuos e gestos vistosos, sem nada a motivar o comportamento da personagem além das demandas do enredo. É um trabalho inesquecível pelas piores razões.
1. Renée Zellweger em COLD MOUNTAIN
- Ano da cerimónia: 2004
- Papel: Ruby Thewes, uma mulher do campo com estranhas manias que vai trabalhar para a casa de uma mulher abastada em plena Guerra Civil americana e ensina a patroa a defender-se.
- Quem devia ter ganho: Holly Hunter em TREZE – INOCÊNCIA PERDIDA
No início do século XXI, Renée Zellweger estava no auge da fama e sucesso profissional. Em 2000, a atriz tinha protagonizado “Nurse Betty”, uma comédia independente que lhe valeu aclamação crítica. No ano seguinte, ela tornou-se num ídolo das massas com o papel de Bridget Jones e conquistou a primeira de três nomeações consecutivas para os Óscares. 2002 foi o ano de “Chicago” que ganhou o prémio de Melhor Filme e lhe valeu o SAG para Melhor Atriz. 2003 trouxe consigo mais uma série de produções chamativas e um papel carnudo que lhe haveria de conquistar o Óscar no ano seguinte.
O problema é que, de todos estes filmes e desempenhos, “Cold Mountain” é, de longe, o seu pior esforço e, passados 15 anos, é difícil não olhar para esta vitória como uma celebração do sucesso comercial e crítico de Zellweger ao invés de um prémio de mérito enquanto atriz. Diríamos até que só mesmo uma celebração da carreira e fama da atriz poderia justificar uma vitória para esta performance que, num mundo justo, teria ganho um Razzie e não um Óscar. Desde o seu sotaque da Carolina do Sul muito pouco convincente às suas desesperadas tentativas de trazer comédia ao filme, Zellweger é uma catástrofe sem precedentes.
“Cold Mountain” não é um grande filme e a personagem de Ruby Thewes é um dos seus pontos mais fracos, mesmo ao nível do guião. Com isso dito, é fácil imaginar uma atriz a abordar o papel com uma atitude mais virada para subtilezas e um minimalismo expressivo como forma de mitigar a qualidade caricaturesca que esta mulher tem na página. Zellweger, num aparente acesso de loucura ou incompetência, escolheu fazer precisamente o contrário, pegando no que já era exagerado no argumento e tornando-o insuportavelmente excessivo no grande ecrã. Entre todas as vencedoras do Óscar para Melhor Atriz, só mesmo Zellweger é que tem a desonra de ter ganho por uma prestação legitimamente má sem elementos redentores. Por tudo isso, ela fica em primeiro lugar nesta lista.
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Sobre Renée zellweger eu acho que você até que acertou, pq todos sabíamos que ela era pra ter ganhado no ano anterior por chicago.. foi meio que um prêmio de consolação.. entretando a atuação dela não foi ruim.. ela fez o que o roteiro lhe mandou fazer e ponto..