Outlander | Figura de Estilo, T2E09
No campo de batalha de duas épocas diferentes, o guarda-roupa de Outlander, desenhado por Terry Dresbach, ganha uma impressionante autenticidade.
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Na sua nona hora, a segunda temporada de Outlander entra num registo mais próximo do drama de guerra que do romance histórico. Com a batalha de Culoden a aproximar-se com impiedosa velocidade, Jamie, Dougal, Murtagh e seus aliados passam o episódio a treinar, a preparar-se para a guerra aberta do seu futuro.
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Grande parte do episódio é dedicada ao modo como Jamie se vê com a responsabilidade de treinar soldados sem experiência de batalha, pelo que as roupas dos figurantes ganham particular ênfase. Como já havíamos mencionado noutros textos desta rubrica, o trabalho nos figurinos escoceses masculinos é uma das verdadeiras joias do trabalho de Terry Dresbach nesta série. Aqui, isso não se altera, com estes homens a transmitirem uma imagem imensamente sensorial do cansaço e desgaste sofrido pelas suas personagens.
Mesmo quando o programa tem problemas com a autenticidade dos seus figurinos, em certos episódios tudo em Outlander parece funcionar perfeitamente e este foi um desses episódios. Aqui, o trabalho de sujar, estragar, reparar e fazer com que as roupas pareçam vividas é soberbo, conferindo uma fisicalidade visceral a todas as imagens e à narrativa. Une-se isso às cuidadas escolhas cromáticas que pontuam a lamacenta natureza dos tons terrenos com verdes e azuis, e temos uma perfeita e harmoniosa ilustração de um exército intrinsecamente escocês que luta pela sua terra, pela sua liberdade, pela sua ideia de justiça patriótica.
No entanto, mesmo entre os desejos de nobre heroísmo e todo o fervor da batalha, há tempo para as disputas egotistas de Jamie e Dougal. Este último é particularmente mostrado como uma imagem sintetizada de um glorioso guerreiro escocês quando aparece vestido com o seu kilt, em tronco nu e coberto de terra, como uma visão primitiva de fúria patriótica, ou como se Braveheart se tivesse passado no século XVIII e não na Idade Média.
Jamie, ao contrário de Dougal e sua apresentação super-patriótica e híper-masculina, enverga um figurino que é uma variação do seu conjunto habitual. Como sempre temos o seu kilt tradicional, mas a encimar e pontuar este figurino não temos os seus usuais casacos de lã, mas sim uma casaca de cabedal em corte militar. O casaco de cabedal tem sido desde os anos 50, um símbolo de rebeldia e heroísmo masculino, sendo que hoje em dia é um código visual completamente enraizada na linguagem do cinema e televisão ocidental. Aqui Terry Dresbach vai assim buscar inspiração a um clássico, mas isso não torna este figurino um cliché barato, pois é inequivocamente elegante e dramaticamente eficaz para esta personagem que aqui se torna num heroico e inspirador líder bélico.
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No entanto, por muito que os homens em preparação para a batalha estejam na frente da cena durante a maioria do episódio, é a história de Claire que se apresenta como o coração de toda esta hora. Pela primeira vez, Outlander realmente aborda a personagem desta viajante do tempo como alguém que viveu e lutou durante a Segunda Guerra Mundial, alguém que ainda carrega o peso e as cicatrizes mentais de tal inferno.
Durante a maior parte do episódio observamos Claire naquilo que se tem tornado o seu uniforme escocês, um casaco de lã fechado à frente com cordões e um simples piéce d’estomac, uma saia em tartan tradicional, e uma mistura de luvas, xaile e outras peças tricotadas para proteger a sua figura da impiedosa natureza. De certo modo, essa é uma imagem de confortável familiaridade para os fãs da série, pelo que o choque visual é imenso quando entramos na psique de Claire e testemunhamos alguns dos momentos mais traumáticos da sua vida durante a 2ª Guerra Mundial.
Aí, os verdes vivos, tons terrenos calorosos e azuis refrescantes da paisagem e guarda-roupa da Escócia setecentista, são substituídos por um ambiente dominado pelo verde castanho dos uniformes americanos e ingleses dos anos 40. Claire veste calças, uma marca do seu pragmatismo e independência, mesmo em ambientes fortemente masculinos. Mas o horror da guerra rapidamente rasga quaisquer ilusões de camaradaria ou felizes memórias, e essas cores nostálgicas ganham uma natureza sufocante em comparação com a realidade presente de Claire. Mesmo assim, sabemos que esta nova realidade também está destinada a tragédia.
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Para a semana, vemos o regresso do exuberante Príncipe Carlos e a guerra continua a assolar Outlander e as suas personagens. Não percas!