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Outsiders 2023 | The Lovers, em análise

A segunda edição de Outsiders trouxe a Portugal “The Lovers” uma diferente comédia romântica que nos faz questionar se o ‘sim’ é mesmo para sempre.

Muitos são os filmes que nos vendem a imagem de que o casamento é uma utopia em que o casal viverá feliz e unido até ao fim dos seus dias. Porém, esta é uma realidade que, muitas vezes, se limita a ser experenciada nos contos de fadas. Como tal, “The Lovers”, o filme que inaugurou a segunda edição, de 2023, do Outsiders – Ciclo de Cinema Independente Americano, é um bonito exemplo que ilustra a crua verdade de muitos matrimónios. Lançado em 2017, muito se fica a perder com o facto de “The Lovers” nunca ter chegado às salas de cinema portuguesas, perdendo-se assim uma verdadeira obra de arte.

Em suma, a longa-metragem realizada por Azazel Jacobs acompanha a rotina de um casal, formado por Mary (interpretado por Debra Winger) e Michael (interpretado por Tracy Letts), em fase de rotura. No drama, apesar de os dois continuarem a viverem juntos, ambos partilham uma vida paralela com uma segunda pessoa, sendo que o plano do casal é divorciarem-se e assumirem a relação com os respetivos amantes. Tudo fica delineado para que um ponto final seja colocado no matrimónio após a vinda do filho a casa. Porém, a ligação que Mary e Michael possuem jamais os permitirá viverem afastados um do outro.

Acima de tudo, este é um filme real que mostra problemas verdadeiros do foro familiar e conjugal, tendo uma abordagem crua de um tópico difícil de suportar. Ainda assim, o realizador consegue desenvolver uma narrativa que se torna mais leve através da forma como o tema é conduzido, sendo que, em cada cena, o espectador é convidado a embrenhar-se mais um pouco na história, envolvendo-se emocionalmente com as suas personagens. Da simplicidade da narrativa nasce, então, a complexidade de uma temática que apela aos nossos sentimentos mais profundos.

The Lovers
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Não obstante, é necessário mencionar a atuação dos atores principais que muito ajudam a que uma conexão se crie entre o público e as personagens. Este é o regresso grandioso de Debra Winger aos papéis principais, ela que foi uma das atrizes mais aclamadas dos anos oitenta e noventa, chegando a ser nomeada para quatro Óscares. Por outro lado, torna-se também muito relevante a atuação de Tracy Letts, ator laureado com diversos prémios na área do teatro e cinema. Não existem dúvidas de que os dois atores apresentam uma química na representação, o que muito ajuda a que nos envolvemos ainda mais na narrativa.

Focando-nos na narrativa, estamos perante um argumento que apresenta a falha da maior promessa da vida, o ‘amo-te para sempre’. Contudo, o que muitas longas-metragens se recusam a fazer é a mostrar que os matrimónios também chegam ao fim quando os seus participantes se encontram numa fase mais avançada da vida. Porém, “The Lovers” relembra-nos que não há idade para voltar a amar e encontrar a felicidade nos braços de outras pessoas.

Assim, em “The Lovers” estamos perante uma sexagenária que tem arrependimentos, sendo uma mulher que, apesar dos sonhos desfeitos que daí resultaram, não deixou de ter vontade de (re)encontrar o amor, mesmo que para isso seja preciso recomeçar com outra pessoa, pondo fim à estabilidade de um casamento duradouro. Acima de tudo, o filme de Azazel Jacobs mostra-nos que o desejo sexual não tem que diminuir com o avançar da idade e que nunca é tarde para redescobrir a felicidade com outra pessoa.

Neste caso, estamos perante um casal que contraiu matrimónio há muitos anos, mas que vive como se de dois estranhos se tratassem. Partilham a mesma casa e a mesma cama, mas sentem-se desconfortáveis na presença um do outro. Como tal, o argumento mostra bem a fadiga que estes dois seres sentem pelo seu parceiro, desanimados pela situação em que se encontra a sua relação, existente ainda apenas pelo facto de terem um filho em comum. Ambos possuem relações extraconjugais com pessoas que mostram ser o oposto do seu parceiro, procurando assim encontrar uma outra vitalidade.

The Lovers
Photo by Robb Rosenfeld – © 2017 – A24

Enquanto Mary começa a namorar com um escritor, Michael envolve-se com uma dançarina, ambos mais novos e com profissões criativas, marcando aquilo que o casal sente falta no seu companheiro. Talvez o relacionamento com estes novos parceiros faça o casal sentir-se mais jovem e vivo, relembrando-os, acima de tudo, de um passado desaparecido. Esta é uma mudança claramente necessária para a vida dos dois e isso é visível desde os primeiros minutos de filme.

Contudo, a parte mais mágica do filme é o quanto ele nos lembra que um grande amor jamais se pode apagar. E assim, num momento em que parecia não haver mais solução para um casamento obsoleto, eis que o casal se redescobre e volta a encontrar os pequenos detalhes que os levaram a apaixonarem-se pelo seu parceiro. E num momento delicioso de se ver, tudo volta a fazer sentido na vida de um par que acreditava não ter mais amor por aquele desconhecido que tão familiar lhes era.

E é no clímax da ação, quando o espectador mais torce para que o casal se concilie, que uma chapada de luva branca nos relembra que é necessária a nossa felicidade, e que por isso é preciso seguir em frente em busca daquilo que nos mantém vivos. Mas no fim, fica a prova de que um grande amor sobrevive sempre, basta encontrarmos uma solução para isso.

“The Lovers” chegou ao grande ecrã nacional na segunda edição de Outsiders. Tiveste a oportunidade de assistir a este filme?

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