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Wild Nights with Emily, em análise | Outsiders 2023

O festival Outsiders – Ciclo de Cinema Independente Americano esteve em Lisboa, de 7 a 12 de março, para a sua segunda edição. Foram exibidos filmes de género do cinema independente americano nunca vistos em Portugal. Entre eles, “Wild Nights with Emily”.

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Em 2023, o Festival focou-se na variedade de géneros trazendo produções independentes americanas que vão do melodrama, ficção científica, terror, western, film noir à bio-pic. “Wild Nights with Emily”, de Madeleine Olnek (“The Foxy Merkins”), foi uma das obras exibidas e encaixa-se nesta última categoria. Contextualiza as obras da poetisa Emily Dickinson (interpretada aqui por Molly Shannon) mostrando um lado mais misterioso da vida da artista, o seu romance com uma mulher, nomeadamente a sua cunhada Susan. Além da vida amorosa de Emily vemos a sua dificuldade em publicar os seus poemas.

Esta é uma biografia muito pouco convencional, tal como era a vida de Emily. Sempre foi retratada na sua época como uma “solteirona isolada” de tudo e de todos, obcecada no trabalho de escrever poemas “confusos” que nem sequer rimavam. Podemos dizer que era uma pessoa à frente do seu tempo e que, felizmente, obras como estas vieram trazer à tona a verdade sobre a sua vida, recorrendo a um toque sarcástico para denunciar problemas da sociedade no século XIX como: o preconceito para com as mulheres e as pessoas LGBTQI+ – problemas ainda hoje existentes.

A narradora da história não é muito confiável, mas até isso cria comédia nesta biopic. Trata-se de Mabel Loomis Todd, a primeira editora a divulgar um conjunto de poemas da escritora em 1890. Foi ela a responsável pela arte da capa do primeiro livro e também por colocar títulos nos poemas da poetisa. Dickinson levou vários nãos de outras editoras por ser mulher, mas também por a sua arte não ser compreendida. Arte essa que está espelhada neste filme de Olnek, através de vários excertos.

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O filme recorre a flashbacks para mostrar a relação de Emily e Susan na infância e o decorrer do tempo até ela se tornar na mulher focada em escrever poemas e viver o seu romance proibido até morrer. Conhecemos realmente o seu lado mais íntimo, mas sem nos sentirmos realmente perto, até porque a história se perde um pouco nas próprias vivências e percepções de Mabel Todd, a narradora dos acontecimentos. Esse afastamento da protagonista não é muito positivo e denota alguns problemas de estrutura da narrativa, mas o que é certo é que chegamos ao final, depois de várias gargalhadas, com a sensação que esta é uma peça importante por fazer justiça à vida e obra de Emily Dickinson.

Em vida, a poetisa só teve 11 dos seus poemas publicados, um número baixo perante os quase 2 mil que escreveu. O seu amor com Susan também foi escondido durante anos para que o seu trabalho fosse mais apelativo, mais “vendível” – o nome da amante foi apagado de vários poemas. Em 1998, o New York Times conseguiu através de um software repor o nome de Susan no trabalho de Emily. A filha de Susan, sobrinha de Emily, foi também uma figura muito importante que reconheceu o amor de ambas e a vida que tiveram em conjunto, sempre em segredo para não criar difamações, apesar dessas terem sido inevitáveis.

“Wild Nights with Emily” ridiculariza os preconceitos da época em que a poetisa viveu construindo situações constrangedores e silenciosas, não esquecendo a dor da artista e o triste que é ter sido criada uma falsa imagem sobre a sua vida e trabalho com o passar do tempo. Olnek faz um trabalho poético ao confrontar a ignorância daqueles que ocultaram a verdade com a beleza de um amor eterno.

O filme foi transmitido na sessão de encerramento do evento. Esta é uma daquelas obras que podia ser facilmente aproveitada para outros festivais de cinema interessados em questões como direitos LGBTQI+ e direitos das mulheres.

WILD NIGHTS WITH EMILY | TRAILER 

Wild Nights with Emily, em análise

Movie title: Wild Nights with Emily

Movie description: O filme contextualiza as obras de Emily Dickinson, trazendo à luz um lado pouco conhecido da vida da escritora, a sua relação com outra mulher.

Date published: 14 de March de 2023

Country: EUA

Duration: 84'

Author: Madeleine Olnek

Director(s): Madeleine Olnek

Actor(s): Molly Shannon, Susan Ziegler, Amy Seimetz

Genre: Drama, Comédia

  • Rafaela Teixeira - 65
65

CONCLUSÃO

“Wild Nights with Emily” é biopic em formato de comédia dramática que usa o humor para fazer crítica social, sem esquecer de reforçar o drama da vida da poetisa.

Pros

  • A interpretação de Molly Shannon
  • O humor sarcástico e denunciador
  • Sentimento de justiça

Cons

  • A estrutura narrativa vai afastando-se da protagonista
  • Detalhes e cenas repetitivas
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