Ozempic, o verdadeiro vencedor dos Óscares e de Hollywood
Esta edição dos Óscares gerou diversos comentários sobre o Ozempic, um medicamento que está a invadir Hollywood com consequências bem reais para a população comum, em especial a diabética – tudo em nome da “beleza”.
Durante a estreia de “Wicked” muito eram os comentários causados pela aparência de Cynthia Erivo e Ariana Grande. Com corpos saudáveis, as fotografias dos red carpets mostravam silhuetas semelhantes ao popular skinny dos anos 2000s. Durante esta época, faziam capa de revistas as celebridades e modelos extremamente magras, ao ponto dos ossos serem visíveis. Esta tendência tóxica e problemática desapareceu junto dos 2010s mas parece estar a regressar. E muitos culpam um medicamento chamada Ozempic.
Ariana Grande and Cynthia Erivo x 97th #Oscars
Photo Credit: John Shearer pic.twitter.com/DICQNGRSFE
— The Academy (@TheAcademy) March 3, 2025
É verdade que a magreza sempre foi “obrigatória” junto das estrelas de Hollywood. Contudo, há uma tendência recente e cada vez mais acentuada de atrizes, em particular, extremamente magras quando não o eram. Não haveria nada de grave a apontar se esta fosse apenas uma escolha das mesmas. Mudanças de alimentação, muitas vezes feitas sem aconselhamento médico, podem de facto resultar neste tipo de deficiência nutricional. De igual modo, problemas graves de saúde como a anorexia, são também possibilidades. Mas não nesta escala de ocorrência.
Ozempic: O que é afinal este medicamento?
Contrariamente a outros tipos de substâncias ilegais usadas por várias celebridades de Hollywood, o Ozempic é um medicamento legal e distribuído pela população. O seu uso é indicado para tratar a Diabetes Tipo 2 ou doentes que sofrem com obesidade mórbida. De um modo resumido, o Ozempic imita uma hormona natural do corpo, responsável por informar o cérebro de que o estômago está cheio. Além disso, tem a capacidade de aumentar o tempo de digestão.
Como refere a Dr. Caroline Apovian numa entrevista à revista People: “Esta tendência de Hollywood é preocupante”. Ela acrescenta que o uso para perda de peso é usada apenas em situações extremas: “Não estamos a falar de estrelas que precisam emagrecer 4kg. Estamos a falar de pessoas que estão a morrer devido à obesidade, que vão morrer de obesidade”.
As celebridades que falam abertamente ter recorrido a medicamentos para perda de peso, e as que se suspeitam
Celebridades de Hollywood como Josh Gad assumem ter recorrido a medicamentos como o Ozempic (quando não o próprio). No seu caso, ele explica: “É um medicamento milagroso… O meu principal objetivo, é estar aqui para os meus filhos. O resto não me interessa”. James Corden, Kathy Bates e Oprah Winfrey são outros exemplos de pessoas que utilizaram medicamentos aconselhados pelo seu médico, equilibrando o seu uso com exercício e uma alimentação saudável – apesar de não serem o alvo principal do medicamento.
No entanto, a internet é rápida a alertar para aquelas atrizes e modelos, em especial, cuja mudança radical chocou os fãs. Além de Ariana Grande e Cynthia Erivo, os nomes mais recorrentes são os de Demi Moore, Whoopi Goldberg e Julianne Hough.
A sua popularidade está a criar quebras no fornecimento para diabéticos
Em entrevista à NPR, Rena conti (Economista da Saúde na Universidade de Boston), explica: “Isto é uma situação sem precedentes, na qual um medicamento utilizado primariamente para tratar uma condição de saúde grave, é usado para perda de peso sem qualquer instrução ou aconselhamento médico”.
Ela continua assumindo que o “milagre” fornecido às pessoas com obesidade não deve ser ignorado, mas relembra que não é esse o seu uso por parte de grande parte de Hollywood (e não só): “Se uma pessoa sofre com obesidade mórbida, têm todo o direito de usar este medicamento para perda de peso. (…) Não tenho qualquer problema com isso. O problema são as pessoas que o fazem para perder 3, 4, 9 quilos”.
Contudo, as redes sociais e a tendência dos corpos extra magros está a culminar na falta de medicação para quem realmente precisa dela, para sobreviver. Por exemplo, a companhia Telehealth criou um site que mostra os locais onde deixou de haver o medicamentos e os alertas são constantes.
Segundo o NPR, existem doentes que têm de ligar constantemente para as farmácias, na esperança de que estas já tenham novo stock. Outros decidiram reduzir as doses diárias de forma a evitar ficar sem o medicamente, colocando assim a sua saúde em risco.
Será que a tendência do “extremo magro” vai regressar? Estará a futura saúde das atrizes e restantes celebridades de Hollywood em risco devido a uma indústria movida pela beleza?