Parthenope: Os Amores de Nápoles”, a Crítica | A cidade e a mulher mais bela do mundo.
Depois de ter ganho um Óscar com “A Mão de Deus”, o realizador italiano Paolo Sorrentino regressa a Nápoles com “Parthenope: Os Amores de Nápoles”, criando um épico feminino com toques de melancolia, romantismo e ironia, sobre uma lindíssima napolitana. A protagonista Celeste Dalla Porta é uma sereia de beleza, como nas odisseias greco-latinas. Estreou no Festival de Cannes passado e chega agora às salas a 27 de fevereiro.
Depois de “A Mão de Deus” (2021), realizador italiano Paolo Sorrentino, regressou a Nápoles, a terra da sua infância e pela segunda vez para rodar um belo e expressivo filme intitulado “Parthenope: Os Amores de Nápoles”, a história de uma ‘mulher-fatal napolitana’ ou melhor de uma bela ‘sereia do mar’, que seduz todos os homens, incluindo o seu próprio irmão, mas que recusa o amor. Só que desta vez, também, os belos arredores de Nápoles: Capri e a Costa Amalfitana, renascem igualmente como ‘protagonistas’ deste filme luminoso e melancólico, que é sobretudo, um verdadeiro hino à beleza, ao amor pela vida e claro um bilhete-postal dessa bela região de Itália.
Parthenope é inspirado num lenda greco-latina
Inspirado na lenda de uma sereia chamada Parthenope, que se tornou uma divindade napolitana, vinda diretamente da mitologia grega, Sorrentino remete-nos diretamente para um filme “Parthenope: Os Amores de Nápoles”, sobre o ideal de amores “verdadeiros e indizíveis”. E para isso, vamos acompanhar o destino de uma bela mulher (Celeste Dalla Porta, que quase parece uma deusa) chamada Parthenope, batizada em homenagem a essa sereia lendária, cuja a morte romântica está associada à fundação da cidade grega, que antecedeu à Nápoles moderna.
A grande beleza de Nápoles e Parthenope
Parthenope (Celeste Dalla Porta), é uma jovem antropóloga nascida numa bela villa napolitana banhada pelas águas de uma praia da Costa Malfitana. Vamos fazer uma viagem pela sua vida — que tem certos traços de fantástico e ao mesmo tempo de trágico — que vai desde a década de 50 até à actualidade. De facto, “é impossível ser feliz, na cidade mais bonita do mundo”, como diz uma das personagens numa premissa que, de certo modo, relaciona diretamente “Parthenope: Os Amores de Nápoles”, com “A Mão de Deus’ (2021).
Os filmes, curiosamente formam com que um díptico napolitano, que tenta desvendar a alma daquela cidade excessiva e melancólica. Porém “Parthenope: Os Amores de Nápoles” tem uma outra ideia subjacente ou uma permissa, que em parte não é dita, mas que se vai sentindo aos poucos no avançar da narrativa: é impossível ser feliz, sendo também a mulher mais bonita do mundo.
São estes dois pilares, aos quais Sorrentino acrescenta quase uma espécie de hiperculturemia (também conhecida por síndrome de Stendhal) — uma doença psicossomática que causa aceleração do ritmo cardíaco, vertigens, desmaio, confusão e mesmo alucinações, quando um indivíduo é exposto a obras de arte de elevado valor e beleza — que estão na essência de “Parthenope: Os Amores de Nápoles”.
Um filme melancólico e grandiloquente
Em “Parthenope: Os Amores de Nápoles”, Sorrentino não esconde as suas intenções grandiloquentes ao batizar o protagonista — bela, egocêntrica, vertiginosa — com esse nome mitológico. ‘O meu nome é Parthenope, não tenho vergonha’, admite ela numa das sequências do filme. Porém, quando Sorrentino liberta o seu espírito felliniano, surrealista e irónico, o filme voa e torna-se deslumbrante, mesmo caindo deliberadamente no pecado de parecer, por vezes um anúncio da Dolce & Gabbana — empresa para a qual já entretanto trabalhou — ou mesmo rindo das suas próprias piadas apoderando-se do espírito dos seus filmes anteriores como “A Grande Beleza”, “A Juventude” ou até da série “O Jovem Papa”, com Jude Law.
Uma história amarga da juventude
O filme no fundo conta a história da amarga juventude de Parthenope e a sua busca pelo seu lugar no mundo, com hedonismo, tragédia, desejo e momentos de rara beleza proporcionados ora pela atriz Celeste Dalla Porta, ora pela deslumbrante paisagem, com uma câmara treinada para o fazer. Ao mesmo tempo, vimos a cidade de Nápoles, a cidade indefinível, aliás como a personagem de Parthenope, um figura que enfeitiça, encanta, grita, ri, mas também pode magoar e levar à perdição. Embora, na sua intensidade, possa correr o risco de se tornar exatamente igual ‘a cidade onde as pessoas vivem e morrem por razões triviais’.
É difícil não se gostar do filme, quanto mais não seja pela paisagem ou pela sua protagonista e não esquecer, por umas breves e marcantes aparições de Gary Oldman. Só não percebo é porque “Parthenope: Os Amores de Nápoles”, mesmo com a sua oportuna ironia felliniana, termina com aquela suposta visão milagrosa de um autocarro azul, com a claque do Napoli, comemorando o terceiro título da Série A — salvo erro, de há 2 temporadas — querendo parecer-se com o belo transatlântico de “Amarcord” de Fellini. Este final, permitam-me o spoiler, tem pouco ou nada a ver com o que vimos anteriormente. Ver “Parthenope: Os Amores de Nápoles” é como ir a Nápoles e morrer…de amores!
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"Parthenope: Os Amores de Nápoles", a crítica | A cidade e a mulher mais bela do mundo.
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José Vieira Mendes - 80
Conclusão:
Em “Parthenope: Os Amores de Nápoles”, o realizador italiano Paolo Sorrentino explora a vida de uma bela mulher (Celeste Dalla Porta) ao longo das décadas, transformada numa bela viagem a Nápoles e Capri. E com este filme regressa ao cinema num estilo que lhe é caro: um fresco íntimo e contemplativo, com uma narrativa nostálgica e uma realização meticulosa. Após o sucesso de “A Grande Beleza” e “Il Divo”, desta vez o Sorrentino leva-nos através destino de Parthenope, uma mulher que evolui desde o seu nascimento nos anos 50 até aos dias de hoje. O filme explora os amores apaixonados e as desilusões da sua heroína, enquanto capta a beleza e a complexidade de Nápoles e Capri, dois lugares cheios de história e contrastes. O elenco inclui além Celeste Dalla Porta, Stefania Sandrelli e Gary Oldman como figuras-chave nesta viagem no tempo e na beleza da Costa Amalfitana. O filme é ainda uma bela história de amor (ou de amores e desamores) e de deambulação, de retratos femininos com nuances e de obras que exploram a noção de memória e de nostalgia. A presença de Gary Oldman, habituado a papéis profundos e complexos, e de Celeste Dalla Porta, desconhecida do grande público, mas que é sem dúvida uma revelação, reforça o interesse por este filme ao mesmo tempo triste e luminoso. No entanto, pode ser uma desilusão, para os espectadores, que procuram uma história mais dinâmica ou um drama clássico com um fio narrativo linear. O filme tem efectivamente uma estrutura lírica, contemplativa e operática. Mas é de uma ‘grande beleza’!
JVM
Overall
80User Review
( votes)Pros
O melhor: A notável e hipnótica interpretação Celeste Dalla Porta, na sua estreia numa longa-metragem. A actriz é de uma beleza tal, que parece quase uma deusa. E depois temos Nápoles, Capri, a Costa Amalfitana e o fabuloso Gary Oldman no papel do alcoolizado escritor John Cheever.
Cons
O pior: O final horrível do autocarro dos tiffosi do Napoli, uma certa obsessão do realizador pelo corpo (e sobretudo o decote) de Celeste Dalla Porta. O filme tem efectivamente uma estrutura lírica e demasiado contemplativa que pode não agradar a certos espectadores.