"Patriarcado, Uma História Por Acabar" (2022) ©Filmin Portugal

Patriarcado, Uma História Por Acabar, em análise

“O que é ser mulher? O que é ser homem? O que são estes padrões de género que nos foram impostos? Quem beneficia?”. Pedro Serra e Vanessa Rodrigues tentam responder a estas perguntas no documentário “Patriarcado, Uma História Por Acabar”.

A educação permanente faz-se nas ruas, na sensibilização, na televisão e no cinema. Os documentários continuam a ser uma incrível ferramenta de conhecimento, abrindo portas ao público que muitas vezes nem sabíamos que existiam.

Em Portugal ainda existe uma grande desvalorização do formato documentário e as produções nacionais não são muito abundantes. Porém, tudo isso só torna ainda mais incrível a estreia do documentário português “Patriarcado, Uma História Por Acabar”, que traz para a mesa de discussões o “questionamento dos padrões de género numa sociedade extremamente binária e heteronormativa”.

O realizador Pedro Serra é conhecido pelas suas produções documentais interessantes e fora da caixa. Nas longas-metragens conta com “Que Estranha Forma de Vida”, onde aborda formas de vida paralelas à sociedade, e com o revolucionário e muito aconselhado “Wasted Waste”, que fala sobre freeganismo. O trabalho de Serra foi também exibido no canal SIC com a série documental “É P’ra Amanhã: Viagem a um Futuro Sustentável”.

Pedro Serra e Vanessa Rodrigues são os produtores de “Patriarcado, Uma História Por Acabar”, cujo objetivo passou por criar um espaço para debater sobre a “forma como vivemos e na sociedade que queremos criar” e assim se “abrir discussão, trocar perspetivas, criar diálogo, questionar”. O filme conta com música de Surma, Rita Vian e Mariana Root e a distribuição ficou ao encargo da Zero em Comportamento.

Patriarcado, Uma História Por Acabar
“Patriarcado, Uma História Por Acabar” (2022) ©Filmin Portugal

Para o documentário os produtores entrevistaram 20 ativistas feministas que se debruçaram sobre o tema do feminismo interseccional e do patriarcado em Portugal. Nas palavras de Serra, o critério de seleção passou por se tentar ter “pessoas com diferentes lugares de fala e privilégio que, pela sua experiência, tendem a conscientizar e discutir positivamente sobre o tema”. Já Rodrigues refere que é importante a conversa envolver tanto mulheres como homens, pois “se por um lado essa sociedade patriarcal retira a voz das mulheres e as oprime, por outro reprime também os homens”.

Médicas, humoristas, juízas, terapeutas, investigadoras e mais, a diversidade do elenco é sem dúvida um dos pontos mais fortes do documentário, ainda para mais quando conjugada com as experiências pessoais e ativas. Luísa Cativo (Movimento Slut Walk), Carolina S. Pereira (fundadora He for She Portugal), Mariana Injai (mentora He For She Portugal; ONU Mulheres), Tânia Graça (psicóloga e sexóloga), Lúcia Vicente (escritora), Ana Paula mais conhecida por Lokas Cruz (médica), Manuel Moreira (ator), Diogo Faro (humorista) e Nuno Salema (Men Made Self) são algumas das personalidades e dos movimentos mais conhecidos que marcam presença no filme.

“Patriarcado, Uma História Por Acabar” (2022) ©Filmin Portugal

Vanessa Rodrigues explicou que o filme ao nascer das observações do dia-a-dia se transforma numa análise das injustiças com as quais podemos todos ser confrontados em qualquer lado como “num assédio na rua, numa desigualdade salarial no trabalho, no trabalho doméstico da cuidadora, que por norma é uma mulher, no medo de se andar sozinha na rua, de ser violada.” Algumas das respostas ou reflexões que o “Patriarcado, Uma História Por Acabar” pretende levantar são: “O que é ser mulher? O que é ser homem? O que são estes padrões de género que nos foram impostos? Quem beneficia?”.

Baseadas em experiências pessoais, as entrevistas dão origem a um documentário não só educacional, mas também confessional e de denúncia numa forte e alta voz de empoderamento feminino e de desconstrução da masculinidade hegemónica. Só após percebermos como funciona este sistema social, como está enraizado na cultura e na educação desde a infância, começamos a refletir na divisão tão binária que existe na sociedade e como isso prejudica todos.

Acaba por ser um documentário muito completo, derivado das diferentes perspetivas, questionando tanto ou mais do que aquilo do que responde, mas acima de tudo faz-nos pensar. Facilmente nos relacionamos com alguma das abordagens e conseguimos identificar a maioria das problemáticas com situações que já vivemos ou presenciámos. A relevância e o impacto de o “Patriarcado, Uma História Por Acabar” está ao nível dos grandes debates (“É ou Não É”), estudos (Fundação Francisco Manuel dos Santos) e reportagens (“Linha da Frente”, “Grande Reportagem” da SIC), tornando-se este documentário num dos mais importantes em Portugal dos últimos tempos.

A maioria dos debates, independentemente do tema, terminam nas considerações finais com uma mensagem do género: “devemos apostar mais na educação”. “Patriarcado, Uma História Por Acabar” é exatamente essa aposta que deve ser aproveitada por todos. O documentário está disponível na plataforma Filmin Portugal, apesar de ser uma pena não ter havido uma estreia em sala de cinema.

TRAILER | O QUE É O PATRIARCADO?

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Patriarcado, Uma História Por Acabar, em análise
Patriarcado, Uma História Por Acabar

Movie title: Patriarcado, Uma História Por Acabar

Movie description: 20 ativistas falam sobre feminismo interseccional e patriarcado em Portugal.

Date published: 2 de June de 2022

Country: Portugal

Duration: 94 minutos

Director(s): Pedro Serra

Genre: Documentário

  • Emanuel Candeias - 100
100

CONCLUSÃO

“Patriarcado, Uma História Por Acabar” é um imperdível documentário que expõe a realidade portuguesa sobre a desigualdade de género, despertando consciências e levando-nos a todos a perceber como agir para crescermos como sociedade.

Pros

  • Tema extremamente relevante;
  • Promoção de uma saudável, educativa e significativa discussão sobre os padrões de género na sociedade;
  • Pluralidade e ativismo dos entrevistados.

Cons

  • Não ter havido uma estreia em sala de cinema.
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