Esta pérola de Stephen King está disponível na HBO Max mesmo a tempo do Halloween
Há algo de deliciosamente cruel em ver Stephen King regressar à ribalta justamente quando o outono começa a cair. Outubro traz o frio, as abóboras e as noites longas e, como se o universo tivesse sentido de humor, a HBO Max decidiu acender as velas para uma nova visita do mestre do medo.
A história deste filme nasceu em 1973, dentro da antologia Night Shift (Turno da Noite), e é um dos contos mais curtos, mas mais eficazes, do autor. Stephen King sempre soube que o terror não precisa de uma criatura grotesca para nos devorar, basta o medo do que se esconde no escuro. E agora, décadas depois, essa sombra ganhou corpo (e uns quantos sustos modernos) num filme que passou despercebido quando estreou em junho de 2023, mas que merece uma segunda vida.
O que torna The Boogeyman perfeito para o Halloween?
O filme é simples, compacto e cruel na medida certa. Duas irmãs, interpretadas por Sophie Thatcher (Yellowjackets) e Vivien Lyra Blair (Obi-Wan Kenobi), tentam lidar com o luto após a morte da mãe, enquanto uma presença invisível começa a rastejar pelas sombras da casa. Não há jump scares gratuitos, apenas uma tensão que cresce como mofo nas paredes: lenta, inevitável, e impossível de ignorar.
O realizador Rob Savage, que já tinha mostrado faro para o terror psicológico em Host (2020), constrói o medo com paciência. A câmara esconde mais do que mostra, e o resultado é uma claustrofobia quase doméstica, como se o filme soubesse que os piores monstros são os que vivem connosco.
Há também um toque emocional que eleva The Boogeyman acima de muitos filmes do género. O monstro de Stephen King é tanto físico como simbólico. uma projeção do luto, do trauma e do medo de não conseguir seguir em frente. Em certos momentos, lembra The Babadook ou Hereditary: o terror é o espelho da dor.
É apenas mais uma adaptação de Stephen King?
É aqui que The Boogeyman surpreende. Apesar da origem humilde, a adaptação dá nova vida ao conto original de King sem trair o seu espírito. O guião, assinado por Scott Beck, Bryan Woods (A Quiet Place) e Mark Heyman (Black Swan), reinterpreta o terror clássico à luz do século XXI, sem cair na tentação de modernizar tudo até à banalidade.
A protagonista, Sophie Thatcher, é o coração do filme. A sua interpretação é contida, vulnerável e intensamente humana. Ela não é uma heroína corajosa; é uma adolescente que tenta sobreviver à dor, ao medo e a uma entidade que parece alimentada pelos dois.
E se o próprio Stephen King é conhecido por explorar o terror como metáfora, o medo como reflexo das falhas humanas, então The Boogeyman é fiel à linhagem. É um filme que faz o que deve: não inventa a roda, mas lembra-te porque é que a roda sempre girou tão bem.
O que faz de The Boogeyman um clássico de de King?
Antes de mais, a subtileza. Stephen King nunca precisou de sustos baratos, ele prefere sugerir. The Boogeyman herda essa filosofia: o terror é mais eficaz quando o espectador participa nele, quando completa o quadro na própria mente. E Rob Savage percebe isso perfeitamente.
Além disso, há pequenas delícias para fãs atentos. O conto original está ligado ao universo de Salem’s Lot, e o filme espalha referências discretas que só os leitores mais obsessivos vão caçar. Não são necessárias para apreciar o filme, mas adicionam camadas à experiência, como se o próprio Stephen King estivesse a piscar-te o olho do outro lado do ecrã.
Finalmente, há o poder do tema: o medo da perda. Assim, quase todas as grandes histórias de Stephen King, de It a Pet Sematary, orbitam o mesmo sol sombrio. The Boogeyman é, no fundo, sobre aprender a viver com o vazio, e perceber que às vezes o verdadeiro monstro não está no armário… está no que deixámos lá dentro. Tens coragem de abrir o armário esta noite?