© 2023 HBO MAX PORTUGAL

Yellowjackets, primeira temporada em análise

“Yellowjackets”, uma das séries sensação de 2021, regressa já amanhã à HBO Max. Por isso, revivemos a primeira temporada, a qual aconselhamos vivamente, caso ainda não a tenhas descoberto.

Curiosamente, a ideia para “Yellowjackets” surgiu durante o desenvolvimento de “Narcos”, uma das séries onde os criadores Ashley Lyle e Bart Nickerson trabalharam. Segundo a dupla, a dose de machismo era tão alta que sentiram a necessidade de contar uma história diferente – bastante. O resultado final foi uma história de sobrevivência no feminino, livremente (e não oficialmente) inspirada em “O Deus das Moscas”, de William Golding, mas já lá vamos.

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Elenco principal de “Yellowjackets” © 2023 HBO MAX PORTUGAL

Em traços gerais, “Yellowjackets” narra a história de uma equipa de futebol feminina de liceu que é vítima de um acidente de avião, o qual mudou para sempre as vidas das sobreviventes. Aprofundando mais um pouco, a série vai alternando entre duas linhas temporais, a do acidente em 1996, e a do presente, 25 anos depois. Entre elas, vamos acompanhando a vida adulta dos elementos que saíram vivos da floresta, bem como o que aconteceu durante o período em que estiveram desaparecidas. Algo acompanhou o grupo… algo que iremos (esperançosamente) descobrir na segunda temporada.

À semelhança dos miúdos na obra de Golding, também as Yellowjackets tiveram de ser capazes de coisas horríveis para sobreviver. Desde caçar, descobrir como se esfola e desventra um animal (e não só), até eleger um líder capaz de guiar o grupo pelas trevas da floresta. A primeira temporada deixou-nos com muitas perguntas sobre o que aconteceu no ano em que estiveram desaparecidas. Tal como Hansel e Gretel, vamos tentando seguir as migalhas que Lyle e Nickerson vão deixando, sem qualquer ideia do que nos espera no final da estrada. A cada peça pensamos que estamos finalmente a começar a visualizar uma parte do sombrio e macabro puzzle que é “Yellowjackets”, mas rapidamente voltamos ao ponto de partida.

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© 2023 HBO MAX PORTUGAL

Na realidade, existe um pouco de Baran bo Odar e Jantje Friese, as mentes por detrás de “Dark” e, mais recentemente, “1899″, em Ashley Lyle e Bart Nickerson. Ambas séries partilham um ritmo capaz de deixar qualquer espetador em estado de ansiedade, literalmente a quebrar cabeças. A interligação das linhas temporais é feita meticulosamente e sem pressas. E, curiosamente, as duas recorrem a expressões em latim. Se na série alemã, ficamos intrigados com a frase sic mundus creatus est, aqui ficamos a pensar no título do décimo e último episódio sic transit gloria mundi, que significa literalmente “assim passa a glória mundana”. Coincidência?

A banda-sonora também acaba quase por ser uma personagem, acrescentando ou confirmando detalhes. Para quem cresceu durante os anos 90, será uma viagem aos clássicos mais memoráveis da década. Ainda não sabemos quantas temporadas “Yellowjackets” terá, mas a avaliar pelo que vimos até agora desconfiamos que será uma série de digestão lenta, que irá testar a nossa paciência – semelhante ao sucesso alemão da Netflix. Acreditamos que a série reúne todos os ingredientes para fazer com que a viagem valha a pena.

O elenco de “Yellowjackets” também contribuiu bastante para o sucesso da série. Quer o que interpreta o grupo adolescente, quer o que lhes dá vida já em adultos. É sempre um desafio fazer corresponder as personagens de forma coerente, principalmente os traços de personalidade e evolução, por vezes mais do que semelhanças físicas. Este é um exemplo de equilíbrio entre ambas. Cada personagem é desenvolvida com cuidado e mestria, sendo que aqui destacam-se as ‘adultas’ que conhecemos ao longo da primeira temporada: Melanie Lynskey, nomeada ao Emmy pela sua prestação enquanto a versão adulta de Shauna; Juliette Lewis, que dá vida à adulta Natalie; Tawny Cypress, que interpreta Tai 25 anos depois do acidente; e Christina Ricci, que desempenha a versão adulta da peculiar Misty.

Pessoalmente, creio que Lewis e Ricci tem uma presença muito superior à de Lynskey. A primeira já provou ser um dos melhores camaleões de Hollywood, embora não seja valorizada tanto quanto devia. Tinha apenas 18 anos quando recebeu a sua (única) nomeação ao Óscar por “Cabo do Medo”, de Scorsese. Já escusado de dizer que, devido ao teor da série, Ricci está como peixe na água. De todas as Yellowjacktets, Misty é a única que não era jogadora, mas sim parte da equipa técnica, o que a leva a estar numa constante necessidade de aprovação dos outros membros e a fazer (literalmente) tudo para se integrar. Enquanto a maioria vê a floresta como um evento altamente traumático, Misty recorda ‘os bons tempos’.

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Juliette Lewis (Natalie) e Christina Ricci (Misty) dão-nos duas prestações exímias © 2022 HBO MAX PORTUGAL

Já do elenco mais novo, Sophie Nélisse sobressai como a jovem Shauna. Voltando às semelhanças com “O Deus das Moscas”, podemos dizer que esta personagem partilha traços com Roger na medida em que são ambos sádicos e tendem a ‘implicar’ com os que os rodeiam. No caso de Shauna, não existe qualquer hesitação em castigar quem a trai e… para não falar de que é a ‘esfoladora’ de serviço do grupo. Igualmente, também uma das raparigas que viu a sua moralidade mais comprometida. Uma escuridão que Nélisse vai fazendo crescer e que Lynskey aprofunda e atesta, dando-nos uma Shauna capaz de muito mais do que demonstrou na primeira temporada. De igual modo, Samantha Hanratty também brilha como a jovem Misty, que como referimos, tem um ‘quê’ de loucura na sua busca incessante pela aprovação do grupo. Principalmente, a partir do momento em que se dá conta de que os seus conhecimentos são essenciais para a sobrevivência de todos. Tal como, Jack em “O Deus das Moscas”, também Misty se irá tornando cada vez mais bárbara, fazendo os possíveis para que as Yellowjackets permaneçam na floresta.

“Yellowjackets” esteve presente em praticamente todas as listas de melhores séries de 2021, ano em que teve a sua estreia nos EUA. Por cá, o drama de sobrevivência chegou um ano mais tarde via HBO Max, onde podes (re)ver a primeira temporada completa. E, claro, onde amanhã estreará a segunda. A série foi igualmente reconhecida com sete nomeações aos Emmy, e conta com uns impressionantes 100% no Rotten Tomatoes, bem como com uma pontuação de 7.9 no IMDb. É, de facto, um título imperdível e original que aconselhamos vivamente.

TRAILER | DESCOBRE YELLOWJACKETS NA HBO MAX PORTUGAL

Já descobriste esta inquietante série? Concordas com a nossa opinião? Não te esqueças, a segunda temporada estará disponível amanhã na HBO Max.

Yellowjackets, primeira temporada em análise
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Name: Yellowjackets

Description: "Yellowjackets" narra a saga de uma equipa de talentosas jogadoras de futebol que se tornam nas des(afortunadas) sobreviventes de um acidente de avião nas profundezas de uma zona remota e selvagem do Norte.

Author: IS

  • Inês Serra - 90
90

CONCLUSÃO

Uma das melhores séries dos últimos tempos, “Yellowjackets” tem tanto de humano, como de macabro. Com um ritmo inquietante, capaz de acelerar qualquer pulsação, a série é um quebra-cabeças moderno com toques de “O Deus das Moscas.” Imperdível.

Pros

  • Juliette Lewis e Christina Ricci
  • A mestria com que Ashley Lyle e Bart Nickerson vão interligando as linhas temporais
  • O ritmo e banda-sonora
  • As personagens são bem-desenvolvidas e apresentadas (cada uma a seu tempo)

Cons

  • Poderá não ser uma série para o “estomâgo” de todos.
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