Peter Pan e Wendy © Disney

Peter Pan e Wendy, em análise

Uma nova Terra do Nunca está agora na Disney Plus mas será que David Lowery consegue elevar “Peter Pan e Wendy” a outros live-action da Disney? A magia está por certo presente e o coração da história também. Com novos protagonistas, a história do menino que não queria crescer pode mesmo conseguir ganhar novos fãs e levar nostalgia a outras gerações. O filme estreia em exclusivo na Disney+ Portugal.

Os trailers que foram antecipando a estreia de “Peter Pan e Wendy” mostravam-se algo escuros, o que levou muitos fãs da Walt Disney Studios a questionarem desde logo a escolha e visão de David Lowery para a adaptação cinematográfica. Afinal de contas, as animações sempre foram vibrantes e cheias de cor, e mesmo as adaptações feitas ao longo dos anos da história de Peter Pan sempre se destacaram por bonitas imagens, fossem elas da Terra do Nunca ou dos mares por onde navios de piratas navegavam.

Peter Pan e Wendy
David Lowery leva aos ecrãs uma nova visão da Terra do Nunca, com bonitas imagens de paisagens ao longo de todo o filme © Disney

Sim, é facto que Lowery esteve por detrás de projetos como “A Lenda do Cavaleiro Verde“, um filme de tom escuro, mas o trailer de “Peter Pan e Wendy” não faz jus ao que cada espetador irá poder ver nos ecrãs de casa. Ainda que a estreia tenha sido direta para streaming, saltando assim os ecrãs gigantes, a nova adaptação da Disney, em live-action, é uma bonita peça em termos cinematográficos. Com paisagens deslumbrantes, e que mostram um tipo diferente de Terra do Nunca a que os fãs se têm vindo a habituar, o filme não se revela escuro ou sombrio como muitos temiam.

Em termos cromáticos tem uma palete de cores um tanto escura, mas a edição e montagem balançam de forma exímia as mudanças de cenário, evidenciando o que é necessário a cada ponto da história, e destacando nas cenas o que é efetivamente importante. Talvez a única cena em que se tenha sentido mais a perda desta ideia de destaque seja mesmo a da icónica perseguição de Peter Pan à sua sombra. Se até agora sempre foi visto ser feita aos ecrãs com mais ou menos mestria, nesta versão sentimos que ficou além do esperado e que até a dinâmica desta relação Peter Pan/sombra foi muito pouco explorada.

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A par da cinematografia, de Bojan Bazelli (“Submersos” e “A Lenda do Dragão”), esta apenas se revela tão bonita de se ver pelo que também vemos a acontecer em cada cena. David Lowery criou um mundo onde a mensagem do argumento, co-escrito por si e Toby Halbrooks, consegue passar a cada diálogo, e onde cada sequência de acção e coreografia de lutas de piratas tem o seu merecido momento de spotlight. Os nossos elogios passam por isso muito pela visão do realizador mas não nos esquecemos do resto. Porque “Peter Pan e Wendy” não reinventa a história, verdade seja dita, mas também não a transforma tanto ao ponto de já nem nos parecer o clássico que ouvimos durante a nossa infância.

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Há algo claro a destacar, e não fugimos do tema que andou pela internet nos dias que antecederam esta estreia: “Peter Pan e Wendy” tem um jovem ator com trissomia 21 num papel de destaque. Sim, tem, e sinceramente nada nos faz destacar esse ponto porque se enquadra tão bem que não se trata de diversidade “empurrada à força”. E essa é a maravilha do elenco desta nova versão live-action da Disney. Desde a escolha do jovem Alexander Molony para Peter Pan, passando por Ever Anderson para Wendy, e para todos as crianças que deram vida aos Lost Boys, “Peter Pan e Wendy” não é um filme que procurou realçar temas como a diversidade ou raça “às três pancadas” (perdoem-nos a expressão). O que fizeram foi algo muito simples: um elenco novo, talentoso e que se revelou perfeitamente capaz de encarnar as personagens que a história precisava. E por isso os nossos parabéns à Disney e a David Lowery.

Ao mesmo tempo, incluíram pequenas modificações que fizeram renascer outras personagens por vezes esquecidas. Tiger Lily, que por exemplo na animação da Disney é uma princesa raptada pelo Capitão Gancho, e que mais tarde entra em confronto com Wendy por causa de Peter Pan, aqui tem um outro foco. A sua introdução é leve, diríamos que até pouco acrescenta, mas também não cria um universo totalmente novo que faça os fãs estranharem esta nova adaptação.

Peter Pan e Wendy
Descrita nos livros de Barrie como uma princesa, nesta nova versão de Peter Pan encontramos uma Tiger Lily que fala mais e que é uma importante aliada de Peter Pan e o grupo Lost Boys © Disney

Mas, ainda que a personagem central desta história seja Peter Pan, ou pelo menos assim muitos o consideram, esta nova versão live-action dá igual destaque a Wendy. Não fosse o próprio título do filme indicativo, aqui Wendy é destacada na luta interior de uma jovem rapariga de uma sociedade inglesa onde as mulheres tinham um caminho quase definido à nascença. Debatendo-se sobre crescer e deixar de ser uma criança, Wendy é aqui apresentada como uma jovem perspicaz, muito inteligente e capaz de lidar com os seus próprios problemas. Alguém que não tem medo de ir atrás do que quer, e capaz de se impôr para mostrar as suas crenças e fazer aquilo que acredita ser o bem.

Por essa mesma razão, Peter Pan é muitas vezes esquecido pelo espetador durante o filme. Ainda que Ever Anderson roube o protagonismo em cada cena que aparece, Alexander Molony traz um novo carisma ao rapaz que nunca quis crescer mas com uma presença relativamente leve. Os seus momentos altos no filme acabam por ser no entanto os duelos com o Capitão Gancho, magnificamente interpretado por Jude Law. O ator britânico encarna o vilão de forma exímia mas é nos diálogos com o jovem Peter Pan que vemos profundidade na personagem e na relação de ambos, uma vertente explorada de forma muito bonita durante a segunda metade do filme. Não vemos nunca que Molony é ainda ‘verde’ nas andanças de Hollywood, e Law não se impõe nunca como ator com mais experiência. Em última instância, estão sempre em pé de igualdade na forma como cativam as audiências.

Jude Law
Jude Law vai convencer todos enquanto Capitão Gancho © Disney

Por outro lado, se o jovem elenco cativa, e Jude Law fascina, Yara Shahidi e Jim Gaffigan desaparecem completamente neste live-action. Pouco importa que sejam duas personagens icónicas da Disney, enquanto Sininho e Sr. Smee, porque o filme de Lowery não lhes dá muito espaço. Sininho é bastante esquecida na história, não sendo sequer visível aquela relação de proximidade com Peter Pan, algo que o clássico de animação deixou bem marcado. Mesmo a sua relação com Wendy é deixada muito em aberta e apenas com um pontual momento de comunicação. Quanto ao Sr. Smee, se esperávamos ver um pouco mais de ação, talvez a falta dela se deva também ao passar ao lado da história do Crocodilo. Afinal de contas, além de um pequeno vislumbre a meio do filme, e de um tic toc que o Capitão Gancho afirma ouvir no final, a ausência do icónico Crocodilo é notória.

Num último ponto, porque um filme da Disney não é nada sem a sua música, damos os parabéns a Daniel Hart (“A Lenda do Cavaleiro Verde”). Não temos o icónico “You Can Fly! You Can Fly! You Can Fly”, mas todas as melodias compostas por Hart são cuidadosamente feitas a pensar na cena e nas emoções que se quer tirar das audiências. Por isso, é uma banda sonora que não reflete o ‘normal’ da Disney, mas que tem muito para dar e que se encaixa na perfeição nesta nova versão live-action da história de Peter Pan.

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“Peter Pan e Wendy” é um filme da Disney e feito para famílias. Depois de “A Lenda do Dragão”, David Lowery volta a mostrar porque é um cineasta a ter em conta em histórias de fantasia, e que a magia pode estar sempre ao virar da esquina. O filme, tão bem construído, poderá fazer mudar a opinião dos mais cépticos porque no final é um filme de fantasia, de família, e tão bem editado que nem damos pelo tempo a passar, continuando embrenhados na história. Uma boa surpresa, tendo em conta os últimos filmes da Disney lançados (os de animação), e brilhantemente enquadrado no 100º aniversário da Disney.

Qual a memória que tens da história de Peter Pan na tua infância?




TRAILER | PETER PAN E WENDY ESTÁ NA DISNEY+

  • Marta Kong Nunes - 72
72

CONCLUSÃO

“Peter Pan e Wendy” não é uma reinvenção da história de J. M. Barrie, nem pretende ser um novo clássico, mas é uma simpática adaptação da história a um projeto live-action. Contrasta em muitos com todas as adaptações anteriores já feitas, começando desde logo pela diversidade no elenco escolhido e pelas jovens idades dos protagonistas. Jude Law é um veterano mas encaixa-se perfeitamente com as crianças que dão uma nova vida ao mundo da Terra do Nunca e que nos cativam, mesmo com poucos minutos. É uma bonita adaptação, ideal para ver em família, e que tem uma bonita mensagem sobre a amizade e as relações.

Pros

  • Um elenco de jovens estrelas ainda pouco conhecido
  • A cinematografia cativante
  • Uma banda sonora magnífica

Cons

  • As novidades introduzidas ao que se conhecem das outras adaptações em nada acrescentam à história
  • É dado pouco foco a todas as personagens de uma forma geral; o grupo Lost Boys por exemplo pouco oferece ou tem momentos de destaque ao longo do filme
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