O Predador: Primeira Presa, em análise
Assume-se como uma prequela numa saga cuja qualidade dos filmes está longe de ser consensual mas, será que esse título, por si, faz com que”O Predador: A Primeira Presa” seja um filme para ver e rever? Ou estará tão distante do mundo de Predador que fará torcer o nariz dos fãs do primeiro filme de 1987? Uma coisa é certa, Dan Trachtenberg agarrou o projecto com tudo o que podia e deixou a sua marca no franchise.
Nota: Esta análise não tem spoilers, sendo o filme analisado do ponto de vista de construção da narrativa e cinematografia
Quando chegou aos cinemas pela primeira vez em 1987, “O Predador” aparentava ser não mais que um filme de acção para manter a carreira de Arnold Schwarzenegger no pico. Violento, sangrento e com a sua dose de tiros e armas, era tudo o que os fãs do actor estavam à espera. O que ninguém desconfiava na altura é que se tornaria um filme de culto por várias gerações, e que tantos projectos iria originar ao longo de mais de 30 anos.
Na saga até agora contam-se cinco filmes (e claro que com isto excluímos os “Aliens vs Predador” que, convenhamos, deveriam alguma vez ter existido?), mas nenhum equiparável com o novo, “O Predador: Primeira Presa” (“Prey”). Apresentado como uma prequela da icónica saga, o filme da 20th Century Studios nunca foi um projecto fácil. Dan Trachtenberg, o realizador, chegou mesmo a confirmar que o filme demorou mais de 5 anos a ser feito e apresentado ao público. Claro que quando se ouve algo deste género, paira a dúvida… terá sido tempo bem aplicado? Bem, independentemente dos atrasos derivados da Covid-19 (porque os houve), aqui damos a garantia que foi um trabalho fenomenal.
Por entre rumo da história, escolha de casting e locais de filmagens, Trachtenerg e os seus produtores souberam captar a essência do Predador original num filme que se avizinha um dos melhores do ano. Ainda que a sua estreia esteja a acontecer apenas via plataforma da Disney+ (sem dúvida o maior pecado deste projecto), “O Predador: Primeira Presa” é um filme que vale como um todo, e não apenas como a prequela do filme de 1987.
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Com acção há 300 anos, em 1719, “O Predador: Primeira Presa” leva-nos até ao mundo da Nação Comanche. Com foco em Naru, uma jovem mulher, guerreira hábil e feroz, a história do filme é uma de coming of age, misturando-se com a história do Predador. Criada na sombra de alguns dos mas lendários caçadores, a ambição de Naru em se tornar reconhecida como caçadora dentro da sua tribo leva-nos a conhecer as grandes planícies norte-americanas e o modo de agir da sua tribo. Ao mesmo tempo que entramos neste seu mundo, o filme desvenda o Predador e começa a entrelaçar ambas as histórias, colocando os dois adversários em grande destaque.
É esta a premissa do filme e se de leitura não convence, de filme garantimos que sim. Com uma certa vibe de western, pelo foco na tribo Comanche, o filme é desde logo um marco na indústria do cinema. Em parte pelo grande apoio da produtora Jhane Myers, “O Predador: Primeira Presa” tem como sua grande bandeira uma representação cuidada da nação indígena. Com uma acção que se inicia lenta nos primeiros minutos, o filme desenrola-se para nos apresentar os Comanche, introduzindo a língua nativa e apresentando um leque de actores indígenas. A própria Amber Midthunder, que interpreta Naru, tem ascendência que a coloca como um casting perfeito.
A par da representação dos Comanche, o filme destaca-se pela sua magnífica cinematografia, onde nada é deixado ao acaso. As paisagens foram escolhidas a dedo e proporcionaram planos abertos magníficos, onde vemos o desenrolar de caçadas, lutas cuidadosamente coreografadas e imagens de céu aberto sem um vislumbre de uma era moderna. Por aí, voltamos a reforçar: “O Predador: Primeira Presa” merecia ter tido a oportunidade de se estrear nas salas de cinema. Fazer o seu destino o streaming, seja em televisões de casa ou computadores, é de longe a decisão mais infeliz deste projecto
Mas claro que um filme da saga de Predador não o poderia ser sem colocar esta mítica personagem no centro da história. Sem revelar quaisquer spoilers do que acontece durante o filme, podemos dizer que a equipa foi extremamente inteligente no modo como apresentou o Predador. Na sua demanda por presas, a personagem vai ‘evoluindo’ ao longo do filme, à medida que a vemos a subir na cadeia alimentar na busca pelas suas presas – culminando eventualmente com a espécie humana como seria de esperar.
A apresentação é feita quase em paralelo com o crescimento de Naru, até ao momento em que ambos se encontram, pouco depois do filme já ter mudado o seu tom. Quase como que por via de um jogo de escondidas, e com sneaks peeks espalhados ao longo da primeira parte do filme, vamos conhecendo pequenos detalhes do Predador por apresentação da sua camuflagem e pequenos detalhes morfológicos. Sim, incluindo umas garras que quase nos remetem para o imaginário de Freddy Krueger.
A sua verdadeira forma apenas é mostrada já mais perto do confronto final com Naru mas sempre dentro do compasso certo da narrativa. Da história de ritmo levemente lento, “O Predador: Primeira Presa” vira-se para uma história mais violenta e sangrenta quando a existência do Predador é efetivamente assumida. Uma mudança de narrativa que torna o filme ainda mais apelativo, por conseguir equilibrar tão bem a mudança de tom. A introdução desses factores, aliados a sequências de batalha filmadas de forma exímia e num take, faz com que o filme se torne uma obra deliciosa de se acompanhar.
O filme em si não tem muitas surpresas em termos de narrativa, mas realça-se o facto de não ser desprovido de história de base, neste caso para Naru. Além disso, a forma como subverte um pouco a premissa e nos leva a pensar a dada altura quem é na verdade o Predador e quem é a Presa, é um dos grandes pontos altos do projecto.
Quanto à estrela do filme, essa será Amber Midthunder. A jovem actriz tem nos seus pesos o ombro de carregar quase todo um filme em si e o desejo de que seja capaz de cativar novas gerações para o franchise do Predador. Como primeira heroína, de qualquer filme da saga, Amber é sem dúvida de se congratular. Amber Midthunder oferece uma performance brilhante, colocando-a no caminho para projectos entusiasmantes.
Por entre armas rudimentares, trocando o suposto herói por uma heroína, Dan Trachtenberg e Patrick Aison fizeram aquilo que muitos quiseram e não conseguiram. A partir da criação de Jim e John Thomas, apostaram na história da personagem mas decidiram inverter tudo o que já havia sido feito até agora e voltar atrás no tempo. E compensou, compensou pensar o que seria o Predador antes do encontro com Schwarzenegger em 1987.
Um thriller intenso e cativante, “O Predador: Primeira Presa” tem ainda a seu favor o facto de funcionar como um stand alone movie. Ele não precisa da saga para se afirmar, mas a ligar-se, é bom que seja para ser reconhecido como o melhor filme da saga desde o primeiro.
Como já referimos, o filme tem em si a essência da história do filme original. Num misto de velho e novo, misturados de forma exímia, Dan Trachtenberg e Patrick Aison estão de facto de parabéns. A nova visão e a exposição narrativa e das personagens foram a fórmula certa para o sucesso. Uma verdadeira lufada de ar fresco para o franchise que estava em espiral de declínio.
Daqui para a frente? Esperar que a existir algum tipo de continuação, que seja feita de forma tão minuciosa e cuidada como “O Predador: Primeira Presa” (“Prey”) foi feita.
Prey, em análise
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Marta Kong Nunes - 85
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Emanuel Candeias - 82
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Manuel São Bento - 80
CONCLUSÃO
“O Predador: Primeira Presa” não se quer posicionar como o melhor filme da saga, mas quer por certo distanciar-se das últimas tentativas cinematográficas que caíram quase em desgraça. E consegue. O filme de Dan Trachtenberg traz uma nova vida a uma saga que continua a conquistar fãs por todo o mundo e a possibilidade de trazer toda uma nova geração a este mundo. É cativante, intenso e um dos filmes mais interessantes do ano.
Pros
- Amber Midthunder consegue, por si só, carregar o filme às costas de uma forma excepcional;
- Dan Trachtenberg e Patrick Aison conseguiram acertar na história ao voltarem atrás no tempo;
- Ainda que enquadrado numa saga, o filme destaca-se por ser capaz de se aguentar como um filme único, pela sua narrativa.
Cons
- Narrativa simples e sem surpresas (ainda que seja cativante);
- Uma certa sensação que o Predador perde protagonismo ao longo do filme
- Nunca ter a sua estreia num ecrã gigante de sala de cinema