Rabo de Peixe, em análise
“Rabo de Peixe” é nova série de Augusto Fraga que tem conquistado a Netflix e o coração dos portugueses com uma história baseada em factos reais.
Até ao início do século XXI, Rabo de Peixe era apenas uma vila pertencente à Ilha de São Miguel, nos Açores, que aparentava estar esquecida pelo resto do mundo. Naquele lugar, a população lutava para sobreviver através da pesca, mas a vida não era fácil para os habitantes daquela região localizada tão longe do continente. Porém a sorte daquelas pessoas viria a mudar no verão de 2001, num período que ficou conhecido como ‘o verão do pó’. Em traços gerais, um barco comandado por um italiano dirigia-se para Espanha com mais de meia tonelada de droga e acabou por ser apanhado por uma tempestade quando navegava ao largo da Ilha de São Miguel. Na manhã seguinte, a vila de Rabo de Peixe acordou com a costa inundada de cocaína, um produto que acabou por destruir muitas vidas, gerando dezenas de casos de overdose e mortes, sendo que ainda hoje a região tem uma das mais elevadas taxas de toxicodependência do país.
Pegando nos acontecimentos que deram origem ao ‘verão do pó’, Augusto Fraga decidiu produzir, em parceria com a Netflix, a série “Rabo de Peixe”, que assenta no momento em que a população açoriana encontrou a cocaína que deu à costa na Ilha. A ficção foi mais longe e mostrou-nos o que teria acontecido se alguém tivesse apanhado a maioria da droga e montasse um negócio através da venda do produto. Desde o seu lançamento, a série tem sido um sucesso a nível mundial, entrando rapidamente para o top dos mais assistidos da Netflix.
Muito ao estilo de Morgan Freeman, é Pêpê Rapazote quem nos guia pelos acontecimentos de “Rabo de Peixe”, através de uma narração fantástica que assume um tom bastante descontraído e bastante divertido, saltitando entre um português e um inglês deveras típico dos imigrantes. Mas, seguindo a lógica do ‘first things first’ deste nosso narrador, é preciso falar das personagens que compõem esta nova série portuguesa. Aqui não há falas pomposas e as informalidades não têm lugar! Em “Rabo de Peixe” falam-se dez asneiras num minuto só, e assim, em 60 segundos, fica apresentado o bom português! O único pecado surge no facto de estarmos nos Açores sem que uma única pessoa possua sotaque açoriano. Tirando isso, a série é composta por personagens interessantíssimas, desde o mafioso Albano Jerónimo, que nos faz amar um homem detestável, passando pelo sempre fantástico e durão Pêpê Rapazote, e ainda sem esquecer toda a esquadra da polícia que surge como uma verdadeira piada no que toca à investigação de um crime (talvez por isso mesmo tenham enfiado o comediante Salvador Martinha) no meio dos agentes.
Mas focando nas personagens que compõem o grupo central, todas elas são diferentes e com um percurso de vida contrastante, o que enriquece bastante a série. Para começar, Eduardo (brilhantemente interpretado por José Condessa) destaca-se por ser uma pessoa bastante humilde, sendo proveniente de uma família pobre de pescadores. Mas esta personagem é a metáfora para a ambição do ‘sonho americano’, uma vez que luta ao máximo para abandonar a Ilha e chegar à grande metrópole americana, uma cidade que ele vê como uma oportunidade para alcançar a felicidade. Porém, a sua persistência contrasta com a falha do sucesso de vários familiares seus, como o pai e o tio que associam os Estados Unidos à desgraça. Se para Eduardo os Açores são a porta de saída da Europa, também na vida real a Ilha está a funcionar como a porta para a expansão de Portugal pelo mundo, uma vez que a série portuguesa está a alcançar um sucesso estrondoso numa plataforma norte-americana presente em praticamente todo o mundo.
Continuando, Sílvia (interpretado por Helena Caldeira) funciona como a personificação dos prazeres da vida – ela fuma, bebe, entrega-se aos prazeres carnais… e tudo isto funciona como escape à sua vida difícil e ao facto de ser filha do homem mais temível da Ilha. Segue-se Rafael (Rodrigo Tomás), que representa o verdadeiro Portugal – ele foi jogador de futebol, o desporto rei do nosso país, e teve uma carreira de sucesso que terminou precocemente por causa de um problema de saúde. Mas, ele continua a vestir todos os dias a camisola do clube mostrando o seu orgulho, evidenciando, acima de tudo, a falta de oportunidades para um jovem. Por isso mesmo, também a sua personagem tem um percurso semelhante ao da sua história, tendo um fim precoce quando o sucesso parecia estar à vista. E, para fechar o grupo central de amigos, falta-nos falar de Carlitos, a personagem que encerra em si a tradição e a liberdade. Interpretado por André Leitão, Carlitos é um rapaz que se mantém fiel às suas origens católicas, sendo um frequentador assíduo da igreja e membro ativo do coro, mas acima de tudo é um jovem homossexual que não permite que a sua orientação sexual o castre e assume assim o seu modo de vestir e de ser perante a sociedade. Porém, neste caso, a igreja funciona como escape à solidão de um amor verdadeiro.
A juntar à escolha brilhante do elenco, é preciso referenciar, acima de tudo, a fotografia perfeita que nos é apresentada em “Rabo de Peixe”, sendo que os separadores de cena são inundados de imagens da Ilha dos Açores com uma qualidade bastante superior e sublime que evidencia os espaços mais verdes e azuis do Arquipélago. É impossível o espectador não se sentir atraído pelas paisagens dos cenários, mas também pela própria história que nos cativa e nos obriga a avançar rapidamente para o episódio seguinte e aplaudir um crime que, à partida, sabemos estar errado São estas as condições que fazem de “Rabo de Peixe” um dos maiores sucessos da Netflix.
TRAILER | RABO DE PEIXE É UM SUCESSO DA NETFLIX
Já assististe a “Rabo de Peixe”? Qual a tua personagem preferida? Estás ansioso(a) pela segunda temporada?
Rabo de Peixe, em análise
Name: Rabo de Peixe
Description: Quando um barco naufraga perto da Ilha de São Miguel, no Arquipélago dos Açores, meia tonelada de cocaína dá à costa, mudando por completo a vida da população de Rabo de Peixe. Eduardo e os amigos aproveitam a oportunidade para darem um novo rumo à vida...
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Jéssica Rodrigues - 85
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Rui Ribeiro - 75
CONCLUSÃO
“Rabo de Peixe” é uma série 100% portuguesa que mostra a realidade do país através da personalidade de cada personagem. Com paisagens deslumbrantes e um elenco brilhante, a série reúne todos os ingredientes para uma receita de sucesso, pecando muito pela falta de sotaque açoriano.
Pros
- Elenco jovem e talentoso a contracenar com nomes de peso da representação nacional.
- Paisagens bastante atrativas, com uma fotografia espetacular e limpa.
- Narração bem cativante pela forma informal com que comunica.
- História das personagens, cada uma com a sua personalidade.
Cons
- Linguagem excessivamente obscena.
- Falta de sotaque açoriano.
User Review
( votes)( reviews)
Adorei a série,muito bem feita e interpretada, lindos cenários q conheço bem, ótima luz. Sot lamento estar dobrada em Brasileiro, para nost naot havia necessidade, por que não falam em Português de Portugal e dobravam em Inglês para os outros países.
Olá Vanda, assumindo que não é um troll, a série é falada em Português de Portugal. O leve sotaque que se ouve é açoriano.