Marlon Williams no SBSR 2019 (foto de Margarida Ribeiro)

SBSR 2019 | Marlon Williams vindo dos ’50

No regresso do SBSR ao Meco, Lana del Rey destacou-se, fazendo do palco o seu quarto. À volta, o mau funcionamento dos transportes também sobressaiu.

No primeiro dia do SBSR, sentia-se uma maior concentração de nomes, fazendo com que este dia já tivesse esgotado há algum tempo. Não obstante, nem todos os nomes eram imediatamente identificáveis ou apelativos, pelo que o festival cumpriu uma das suas funções já mais esquecida, que é a de dar a conhecer ao público novos artistas. Ainda assim, à medida que a hora do cabeça de cartaz se aproximava, era premente plantar o corpo o mais perto possível do palco Super Bock, sendo que não éramos os únicos a adotar esta filosofia. Para dizer a verdade, dentro do recinto, o nome “Lana del Rey” estava na boca de todos e a expressão “Agora é marcar lugar para ver a Lana” a mais frequente no Meco.

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Depois de um dia marcado por alguns concertos muito bons, outros não muito maus e um ou outro enjoativo até, a dificuldade estava no regressar a Lisboa. No meu caso, arredar pé do recinto assim que Lana del Rey saiu do palco valeu-me mais de três horas à espera de um autocarro, tendo havido situações piores, pois para trás a fila não tinha fim. Às duas da manhã, hora do início dos transportes, ainda não havia autocarros. Ainda assim, devo à péssima organização dos autocarros a possibilidade que me proporcionou de assistir ao nascer do sol a caminho de casa.

SBSR 2019: Marlon Williams © Margarida Ribeiro

AO CAIR DA TARDE, MARLON WILLIAMS TROUXE-NOS A DÉCADA DE 50 DIRETAMENTE DA NOVA ZELÂNDIA

A oferta de um cartaz intermitentemente interessante permitiu-nos explorar outros nomes, com os quais dificilmente nos cruzaríamos, não fora o festival. Marlon Williams foi um deles, e uma excelente descoberta deste redactor em particular, como já fora aliás de outros membros da nossa equipa. Em 2018, o artista neo-zelandês editou um disco de estúdio (Make Way For Love) e já este ano lançou também um álbum ao vivo. Com a sua voz alusiva a Elvis Presley, em Williams eram perceptíveis influências claras das décadas de 50 e 60, ajudando a isso as guitarras e baixo que ele e a sua banda envergavam, a transmitir vibes retro por todo o lado. A um dado momento na atuação, o cantor soltou o microfone do suporte, dando início a uma performance altamente teatral do tema “Vampire Again”. Foi tocada também uma nova canção na língua nativa, cujo nome não devo ter sido o único a esquecer. Por causa das inevitáveis sobreposições, embora soubesse que teria inevitavelmente de abandonar o concerto a meio, fui-me deixando levar pelos bons sons do nosso antípoda e, quando dei por mim, faltavam dois minutos para a atuação da Cat Power. No Palco Super Bock. Na outra ponta do recinto.

COM O INÍCIO DO PÔR DO SOL NO HORIZONTE, AS CONVERSAS E A FALTA DE INTERESSE ERAM MODA NO PALCO PRINCIPAL

Depois de um andar mais acelerado (correr não é bem o meu estilo…), cheguei ao principal do SBSR mesmo a tempo de, poucos segundos depois, ver Chan Marshall a entrar em palco. Consegui avançar mais alguns metros, furando por entre os muitos espetadores desinteressados, mas perto do palco não fiquei. Ainda não passara pelo palco principal, mas, agora lá, apercebia-me de que se falava profusamente da atuação de Lana del Rey, ainda a cinco horas de distância. Já havia uma grande frente de fãs, só que, de momento, tocava Cat Power, e, infelizmente, poucos eram os que, de facto, tinham os olhos nela. Foi-nos apresentada uma caminhante aparentemente em baixo, interagindo pouco com o público. Talvez isto tenha exponenciado o ambiente de café que se houvera instalado frente ao palco principal do festival, tornando, por vezes, difícil reconhecer a agradável voz de Cat Power por entre aquela amálgama ruidosa.

Apesar da falta de diálogo com o recinto, o repertório da artista foi mais do que suficiente para dar um concerto para lá de agradável, eivado de beleza e de alta qualidade. Não obstante a gritante falta de atenção por parte do público, algo que certamente a artista notou, Cat Power continuou na sua, fazendo o que de melhor faz. E saiu-se bem.

SBSR 2019: The 1975 © Margarida Ribeiro

JÁ CHEGÁMOS? NÃO, AGUENTA SÓ MAIS DUAS HORAS

Podia ser um título para a infindável odisseia dos autocarros, mas não. Aqui, a espera foi mais animada e a recompensa final seria bem mais interessante do que uma alvorada assombrada pela perspectiva de poucas horas de sono aqui deste lado. Estou a falar novamente do palco principal do SBSR. Na demanda de um bom lugar para a atuação da cabeça de cartaz, expus-me a Jungle e The 1975, desistindo por completo de Metronomy. Engrenei no concerto dos Jungle a meio. Mas facilmente fiz uma reconstituição baseada no resto da atuação a que assisti. Ritmos a atirar para o funk, falsettos, pandeiretas e pouco mais. Depois de talvez três quartos de hora em loop, o concerto chegou ao fim sem ter conseguido converter os relutantes ao género. No intervalo entre o colectivo fundado pelo duo britânico e The 1975, dediquei-me a um ativo “furanço” por entre a densa multidão, tendo avançado ainda alguns metros.

As colunas vibravam, os ecrãs iam passando imagens alusivas à banda. Era agora The 1975. Se ainda não estava, ficou bem clara a larga fan base feminina da banda, com choros compulsivos e laivos de histeria aquando a entrada em palco. Bem, rebobinando, durante a totalidade da performance. Para ser franco, a atuação foi recreativa no momento. Ainda assim, não pude deixar de concordar veemente com uma frase que constou dos ecrãs laterais: “Totally lacking the wow factor”. Para dar algum contexto, durante o último tema, iam passando nos ecrãs excertos de críticas que tinham sido feitas à banda, obrigando-nos mentalmente a tomar posição. Sem tirar nada à inclinação pop da banda, é preciso reconhecer que não foi mau. Mas se teve o seu lado divertido, ficou-me na cabeça a ideia de alguém a “brincar ao rock”. E todo o interesse que a banda pudesse ter suscitado neste público, não sobreviveu à saída de banda porque assim que esta desapareceu, sentiu-se, vindo de trás, um empurrão geral e massivo de centenas de pessoas desejosas de se aproximar do palco. Mais uma vez, continuei a minha investida, tendo conquistado uns setenta centímetros, se tanto.

SBSR 2019: Lana del Rey © SBSR

LANA DEL REY FECHA A NOITE NUM CONCERTO CONJUNTO COM O MECO

Depois disto tudo, Lana del Rey. A atuação que encerrava o palco principal, era claramente a mais ansiada da noite e muito provavelmente do festival. À medida que iam montando o palco, foram aparecendo espreguiçadeiras vintage e palmeiras, suscitando ao meu lado comentários condescendentes dos entendidos: “Isto é mesmo Lana! Só ela é que traz palmeiras para o palco!”. Todo o cenário, tanto no palco, como no recinto cheio, indiciava a singularidade do concerto e da artista que estava para vir.

Logo no início, a cantora explicou que iriam cantar canções mais antigas e outras mais recentes. Mal sabia ela que, durante aquela hora e meia, nunca cantaria sozinha. De facto, se não fosse o tom etéreo presente tanto nos fortes graves como na graciosa voz de cabeça da artista, esta certamente perder-se-ia no meio do Meco. O público acompanhou cada tema, começando com o êxito “Born to Die”, passando por singles mais recentes como “Venice Bitch” ou pelo marco da artista “Summertime Sadness”.

Lana usou o palco na sua totalidade, deitando-se no chão, sentando-se em espreguiçadeiras, oscilando no seu baloiço e até descendo do palco para dar autógrafos, abraços, selfies e beijinhos. Dos fãs, recebeu também alguns presentes, que juntou depois em cima do piano. Quando Lana Del Rey saiu, levando os seus recuerdos ao peito, o Meco estava mais do que satisfeito, ainda naquele outro mundo para o qual a rainha da pop nos transportara. Podia era ter-me transportado logo para casa. Mal sabia eu o que me esperava.

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