Shazam! Fúria dos Deuses, em análise
Shazam regressa aos cinemas e mostra-se uma vez mais como o comic relief dos filmes da DC Comics. Mas será o caminho certo ou uma via para o esquecimento? Afinal de contas, o futuro dos filmes de super-heróis na Warner Bros está incerto e já muitos outros atores tiverem de dizer adeus às suas personagens. Zachary Levi, por outro lado, ainda é dos poucos cuja continuidade é uma incógnita e talvez se possa vir tudo a resumir à recepção que “Shazam! Fúria dos Deuses” tiver junto das audiências globais.
[Análise sem spoilers]
A história do jovem Billy Batson, um miúdo órfão que inesperadamente ganha poderes dos deuses através de um feiticeiro, nunca foi vista como um dos pilares para a apresentação do universo cinematográfico da DC Comics aos fãs mas foi, desde o primeiro instante, algo leve. Desde que a DC entrou a sério na indústria do cinema, com a Warner Bros como sua parceira, muito se apontou ao tom ‘impresso’ nas suas adaptações.
A maioria dos filmes são de fotografia escura, os super-heróis são melancólicos, carrancudos, imersos em tantos problemas que a dada altura quase que nos esquecemos da parte de estar a ver uma história de super-heróis. Sim, aqueles seres que admitimos como sobre-humanos e simplesmente intocáveis. Atenção, não significa que a parte humana traga menos qualidade à história mas, neste caso, criou um grande fosso e uma grande oportunidade de comparação entre o que faz a Marvel Studios ter tanto sucesso nos filmes face à DC Comics. Uma das nossas apostas para este fosso? O equilíbrio entre o drama, ação e o humor.
Mas Shazam, seja no primeiro filme ou mesmo neste segundo, “Shazam! Fúria dos Deuses”, procura ser a excepção da regra da DC. E resulta. Pelo menos neste universo.
A sinopse do segundo filme de Shazam é bastante clara. Depois de dar poderes aos seus irmãos, Billy Batson faz de tudo para manter a família unida, procurando colmatar o passado de nunca ter tido uma família coesa, e com medo do que o futuro da vida adulta lhe pode trazer. Com cada um nos seus próprios mundos – afinal de contas, são todos ainda crianças – vão-se ver a braços com uma ameaça trazida ao planeta Terra pelas filhas de Apolo, três deusas que querem recuperar a magia perdida. A Billy caberá a derradeira missão de qualquer filme de super-heróis: salvar o mundo.
Se é uma premissa super original? Não, longe disso. Se serve o propósito de avançar um pouco mais com o universo de Shazam e a sua história e desenvolvimento enquanto super-herói? Claro, sem dúvida. Além de que tem algo que nenhum filme da DC Comics e Warner Bros conseguiu ainda fazer: introduzir humor de forma relativamente consistente ao longo de toda a história. Até nos atrevemos a dizer que é um dos pontos mais a favor do filme.
“Shazam! Fúria dos Deuses” volta a destacar-se pelos easter eggs espalhados (inúmeras referências a filmes da Warner Bros ou a outros super-heróis da DC), pelos diálogos sarcásticos, mas também pelo casting. No primeiro filme já sabíamos que Jack Dylan Grazer e Adam Brody tinham sido a escolha perfeita para as duas versões de Freddy mas esta sequela volta a garantir que o casting de todos os irmãos foi excecionalmente bem feito. Bem, Asher Angel, ainda que protagonista, tem muito pouco de ecrã em comparação a Dylan Grazer mas Zachary Levi colmata a falha porque o que os fãs vão querer ver é mesmo Shazam no seu alter-ego e não como um jovem miúdo de 18 anos.
Mas, e aqui apenas como side note, não compreendemos a decisão artística de colocar Angel e Levi em pontas tão opostas na representação de Billy Batson em comparação a Dylan Grazer/Brody. Enquanto que neste último duo eles são quase uma extensão um do outro nos maneirismos e forma de estar, há uma clara distinção entre um Billy Batson de 18 anos e um Billy Batson no corpo adulto de Shazam, que tem um tom incrivelmente mais leve e engraçado que a versão de Asher Angel.
Já no outro lado dos protagonistas, o filme da DC Comics aposta em três mulheres para serem as antagonistas, mas todas elas com diferentes camadas de profundidade. E até malvadez e requinte. Helen Mirren, aclamada atriz britânica que já tem como legados papéis icónicos e de grande presença no ecrã, como o de Rainha Isabel II, é um prazer de se ver. Se é a sua melhor performance? Longe disso. Se por outro lado é refrescante vê-la a aproveitar o estatuto que já tem para experimentar novos géneros e chegar a novas gerações? Sem dúvida. Sempre cativante no ecrã, oferece um contraste engraçado quando partilha o ecrã com Zachary Levi ou o jovem Jack Dylan Grazer e é a líder natural das vilãs.
Quanto a Lucy Liu e Rachel Zegler, são um bom complemento num universo de super-heróis. Liu tem andado relativamente desaparecida dos blockbusters e ainda que esteja sempre no imaginário como uma personagem de peso de “Kill Bill”, não a conseguíamos imaginar nunca como uma super-heroína; o seu papel de vilã máxima foi escolhido a dedo e assentou-lhe que nem uma luva. O único senão? A forma como deu alguns discursos e momentos de fala soaram-nos demasiado teatrais. Mas pronto, estamos a falar de uma deusa que se julga acima dos humanos. Deixamos passar por isso.
A jovem Rachel Zegler é também uma surpresa. Ninguém diria que este trabalho foi garantido antes de “West Side Story” mas talvez por isso se olhe para a sua prestação de um modo diferente. A atriz admitiu que entrou para a DCU muito antes da oportunidade do remake musical de Spielberg portanto sem dúvida que esta era uma aposta irreverente por parte dos estúdios, ao arranjar alguém totalmente novo para um papel de grande destaque no enredo. Com um ar tímido, conseguiu dar na sua representação um certo toque humano a uma personagem destinada a ser uma deusa distante e calculista.
O elenco efetivamente conquistou-nos, e sai de “Shazam! Fúria dos Deuses” como a grande estrela no seu todo, contrastando amplamente com as escolhas criativas. O filme revelou-se bastante escuro e os efeitos visuais ficaram além do que seria expectável. Ainda que certos momentos tenham sido muito bem apresentados, ou que o dragão nos faça regressar ao fascínio de quando se viram seres semelhante em “Game of Thrones”, o filme num todo não maravilha.
Do lado da história, sem revelarmos ao certo o que acontece, peca por ser algo previsível, incluindo os seus plot twists (que de surpresa pouco têm). No entanto, “Shazam! Fúria dos Deuses” tem mais problemas de ritmo da história do que pela construção da história em si. O ritmo de momentos de muita ação, misturados com histórias que parecem ficar a meio, especialmente das dinâmicas familiares de Billy, fazem com que o filme se perca em si mesmo. Vários temas poderiam ter sido mais explorados, como a relação de Billy com os pais adoptivos, que é quase resolvida ‘às três pancadas’ para se ouvir a palavra mãe num dos momentos que antecipa o grande evento do filme.
“Shazam! Fúria dos Deuses” não se destaca dentro do universo geral de super-heróis, e nem mesmo dentro do universo DC Comics consegue ser o mais memorável. É engraçado, divertido e uma boa peça de entretenimento. Mas não vai além disso, nem oferece o melhor que o mundo dos super-heróis tem para dar quando trabalhado com cuidado e com um futuro em mente. Se vale a pena pelos efeitos visuais? Não. Se vale a pena pela história? Talvez também não. Se consegue compensar pelas performances individuais do elenco? Por Zachary Levi e Jack Dylan Grazer, sem dúvida.
TRAILER | SHAZAM! FÚRIA DOS DEUSES
Já viste “Shazam! Fúria dos Deuses”? Para ti, o que é que te conquistou e o que é que falhou?
Shazam! Fúria dos Deuses, em análise
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Marta Kong Nunes - 68
CONCLUSÃO
“Shazam! Fúria dos Deuses” não é um mega filme de super-heróis, não é uma história super original, mas é um filme divertido, leve e que consegue dar incrível destaque ao talento de Zachary Levi e Jack Dylan Grazer. Ao contrário de outros filmes de super-heróis, o seu coração está na família e não na ascensão do protagonista a um estatuto de deus ou algo do género. Sem pretensões de ser o melhor filme de sempre, é exatamente aquilo que se espera de um filme de acção para se ver em família, e é isso que tem de ser tido em conta. A ambição não é ser uma obra prima, é ser para todos.
Pros
- O elenco, num todo, em particular o casting da dupla Jack Dylan Grazer/Adam Brody
- O toque de humor ao longo da história
- Não se levar demasiado a sério, em comparação a outros filmes da DC Comics
Cons
- História previsível e sem grandes plot twists
- Falta de profundidade em storylines que podiam ser melhor aproveitadas, como a família de Billy Batson
- Efeitos especiais que não conseguem estar todos ao mesmo nível
- Sensação que o filme está sozinho no universo DC Comics, não sendo claro o rumo que querem dar à personagem