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Shining | Dos Razzies ao mérito no Panteão

Aquando da estreia de “Doutor Sono”, recordamos o seu predecessor – “Shining” – que quando estreou foi nomeado aos Razzies.

1981. O mundo ficava a conhecer os Razzies ou, no seu nome completo, Golden Raspberry Awards – uma espécie de congratulação irónica no mundo do cinema.

Os Razzies são, no fundo, uma paródia que visa honrar o que de mais terrível se fez, no ano anterior, no universo cinematográfico. No seu ano de estreia premiaram Neil Diamond em O Cantor de Jazz (1980) e Brooke Shields pela sua Emmeline em A Lagoa Azul (1980). No entanto, nesse mesmo ano de 1981, os Razzies haveriam de trazer algum choque ao mundo, uma vez que, entre os nomeados para Pior Realizador estava Stanley Kubrick com “Shining” (1980). E, pelo seu desempenho, também nesse filme, víamos Shelley Duvall entre as nomeadas na categoria de Pior Actriz Principal.

“Shining” é baseado no livro homónimo de Stephen King, abordando a história de Jack Torrance (Jack Nicholson), um escritor alcoólico (ainda que, em recuperação) que aceita um emprego como zelador do isolado Hotel Overlook (na realidade Timberline Lodge) na época baixa. Neve, frio e um aspecto sombrio, criando uma atmosfera aterradora à medida que Jack e a família – a esposa (Wendy) e o filho (Danny) – se mudam.

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Shelley Duvall e Jack Nicholson ©Warner Bros.

No entanto, nem tudo é assim tão pacífico e linear pois Danny (Danny Lloyd) possui habilidades psíquicas, sendo capaz de ver tanto o passado como o futuro e, portanto, também os fantasmas que habitam o hotel. Pouco depois de se instalarem, a família fica presa naquele espaço aterrador graças a uma tempestade de neve e Jack é, gradualmente, influenciado por uma presença sobrenatural que o leva a desejar assassinar a esposa e o filho.

Aquando da sua estreia os filmes de terror não eram bem vistos nem aclamados pela audiência, nem que fosse terror psicológico, como é o caso. Deste modo, o filme teve um arranque fraco e foi até (muito) mal criticado por algumas revistas, como a Variety, por exemplo, que referiu que, tanto Kubrick como Jack Nicholson tinham conseguido estragar o bestseller de Stephen King.

Apesar de, hoje em dia, ser um filme bastante aclamado e icónico, a sua recepção inicial foi, no mínimo, decepcionante. E, tal como muitos outros filmes de Kubrick, o devido valor só lhe foi atribuído anos mais tarde, uma vez que, os espectadores começaram, também, gradualmente, a dar mais valor ao cinema de terror.

Arrasado de inicio, trinta e nove anos mais tarde é visto como um filme de culto e que influenciou décadas e décadas da cultura pop. Actualmente é, mesmo, identificado como um dos maiores filmes de terror alguma vez feitos, tendo influenciado inúmeros realizadores e, consequentemente, as suas obras.  Martin Scorcese, por exemplo, cota-o como um dos onze filmes de terror mais assustadores de todos os tempos.

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©Warner Bros.

“Shining” foi a única obra de Kubrick que não recebeu nomeações para os Óscares e para os Globos de Ouro, mas que recebeu para os Razzies. Irónico no mínimo, não? Afinal “Shining” é uma masterpiece ou um mero engodo cinematográfico?

Hoje entendemo-lo como um clássico, uma película capaz de deixar o espectador a tremer e, constitui também a prova viva de que muitas obras ditas geniais não são reconhecidas na sua época, tendo apenas o devido mérito anos mais tarde ou mesmo, só após a morte do artista. E, neste caso em específico, colocar “Shining” ao lado de Xanadu (1980) ou comparar a performance de Shelley Duvall à de Brooke Shields parece no mínimo injusto, tal como comparar o desempenho de um Fiat 500 com um Ferrari 458. A inclusão de “Shining” nos nomeados à temida framboesa reflecte a mentalidade da época e o receio do público face aos filmes de terror, no entanto, a sua evolução até ao pináculo da pop culture revela também que, quem prospera na adversidade é digno de um outro valor meritório.

Para vocês? Shining merece o seu lugar no panteão? Ou devia-se ter ficado pelos Razzies?

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