The First | Natascha McElhone em entrevista exclusiva
Natascha McElhone, protagonista de “The First”, deu-nos uma entrevista exclusiva onde falou da sua experiência com a nova série da AMC!
Fale-nos um pouco sobre “The First”.
Natascha McElhone: Um dos objetivos de Beau (Beau Willimon – criador da série) era explorar a ideia de ambição humana. Nós usamos frases como – “não é ciência espacial, não é como ir à lua…” Não foi por acaso que ele as usou…não de forma alegórica, porque é literalmente o que todos nós estamos a procurar fazer. É sobre como as relações humanas são fortes, os contratos que fazemos, os entendimentos entre as famílias e o que ouvimos e não ouvimos. No momento crítico em que essas pessoas estão a deixar a Terra, essas coisas estão sob análise microscópica de uma maneira que pode não fazer parte da vida normal quando não se está encostado à parede. É tanto um mapa do coração humano quanto o espaço entre a Terra e Marte.
A sua personagem é Laz Ingram. Qual é a história dela?
NM: Ela ainda está em processo de formação! As pessoas normalmente não têm espaço, tempo ou dinheiro para isso, mas Beau dedica-se muito à análise de personalidades e fala sobre todas as variantes possíveis, mesmo escrevendo cenas que talvez não venhamos a usar, mas que de alguma forma aprofundam a nossa compreensão de quem são essas pessoas. É um luxo poder usufruir disso.
Laz é uma pessoa extremamente bem-sucedida e inteligente, mas é justo dizer que ela luta com o lado interpessoal das coisas?
NM: Sim, Laz é alguém que é muito autêntica e “sem remorsos”. Ela é o oposto de “agradar às pessoas”. Eu penso que ela provavelmente recebeu conselhos sobre como refrear a sua abordagem direta, mas ela não está suficientemente interessada em mudar, ela é conveniente. Essa atitude é-lhe útil para o que ela quer fazer. Ela não é impaciente; ela é apenas alguém que não entende por que as pessoas não veem o que ela vê e por que não compartilham o seu sentimento de urgência. Ela é muito, muito decisiva. Eu acredito que ela é muito segura e pragmática nas suas decisões e soluções, é algo natural para ela. A vida ensinou-a a ser ela a “estar no lugar do condutor”.
Porque acredita que os criadores decidiram torná-la britânica? Isso é relevante para a personalidade dela?
NM: Eu pergunto-me se, para os americanos, os britânicos conseguem ser mais diretos porque são considerados corteses e civilizados – não importa que não o sejamos particularmente. Eu também penso que o Beau tem personagens muito diferentes porque ele queria mostrar tantas perspetivas diferentes quanto possível. Em parte, ele apenas tentou ganhar outra perspetiva e mostrar ambição, de uma forma física muito óbvia. Se vier aos Estados Unidos para estudar ou para conseguir especificamente um contrato com a NASA, isso por si só exige muita ambição. Fiquei muito contente por não ter que fazer um sotaque americano. O meu pai é de Lancashire, então eu usei esse sotaque. Ela (Laz) está nos EUA há vinte anos. O seu sotaque do norte quase desapareceu. Eu gostei de fazer um sotaque híbrido, pois é o que mais ouço na vida real.
O que foi que a atraiu para o série?
NM: O guião. Foi um prazer, com certeza. Se eu sinto que é algo que não foi ainda totalmente explorado ou… às vezes podemos ler um guião que parece um pouco banal, os ingredientes estão todos nos lugares certos e pensamos: “Oh, aqui vamos nós, estou a ser puxada e condicionada e está ok”, mas o resultado é repetitivo. Os temas que Beau queria explorar na natureza humana atraem-me realmente, independentemente do ser no espaço, o que era um bónus; não é um mundo que eu já tenha tido a oportunidade de analisar antes. Eu fiz um filme uma vez que se passava no espaço, mas a personagem de George Clooney é que era o astronauta. Eu era uma invenção de sua imaginação na maior parte do tempo. Eu não fiz pesquisa científica para esse projeto, essa foi a primeira vez, e também nunca tinha interpretado um empreendedor. Além disso, foi divertido interpretar alguém que não está num relacionamento romântico! Eu gostava de interpretar um zelote. Uma vez eu fiz de freira que teve uma visão que estava incrivelmente articulada com o seu sistema de crenças. Foi interessante interpretar alguém que tem essas crenças internalizadas e que não são muito expressas.
Eu soube que teve uma reunião de 7 horas e meia com Beau. De que falaram?
NM: Tivemos que interromper porque ele tinha de apanhar um avião, mas poderíamos ter continuado por mais alguns dias. Ele é muito inspirador. Ele é genuíno.
Referiu que fez pesquisas para o papel; Que tipo de pesquisas fez?
NM: Eu li alguns livros e vi “Particle Fever” e outros documentários. Eu encontrei-me com uma engenheira, empresária e futurista, Sophie Hackford. Foi extremamente útil. Também conheci algumas pessoas envolvidas em start-ups que estão agora em funcionamento e são bem-sucedidas, mas queria também conhecer algumas pessoas cujas ideias eram emergentes, Sophie foi muito aberta sobre o que está a engendrar agora, o que se pode vir a tornar real daqui 13 anos, etc. A nossa série passa-se em um futuro próximo, então eu queria falar com alguém com vinte e poucos anos agora, que talvez tivesse um protótipo, que estivesse a trabalhar nele e esperasse concretizá-lo em breve… era nisso que eu estava interessada, o núcleo da ambição de Laz. Uma das coisas que eu ouvia em muitas conversas dessas pessoas era que elas não se importavam que algo fosse impopular, principalmente porque elas não teriam chegado onde estavam se se tivessem preocupado com isso antes. Isso geralmente revela um certo tipo de personagem e também um certo tipo de comportamento social. Laz está sempre, e apenas, à procura de melhorias e isso pode torná-la impopular. Ela não se importa com um pouco de impopularidade. É uma corrida contra o tempo. Ela está habituada a que a maioria esteja contra ela, isso é normal.
Há algumas discussões científicas técnicas no guião. Quando tem diálogos como esse, sente que precisa entender a ciência?
NM: Eu gosto sim. O astronauta Chris Hadfield, que foi consultor na série, foi muito, muito útil. Eu li o livro dele e pesquisei-o e assisti ao seu programa na TV. Ele foi um ótimo recurso. Também falei com Nicholas Patrick, um astronauta britânico que trabalhou para a NASA. Ele foi ótimo, e prontificou-se a responder às minhas perguntas idiotas. Eu falava com ele pelo WhatsApp quando ele estava a arranjar um qualquer motor, num qualquer lugar no deserto! Ele ajudou-me muito. Há que desconstruir para poder depois integrar a personagem. Isso foi muito importante para todos nós.
Explorando um pouco mais, tem um interesse particular no cosmos? Isso aumentou o seu interesse?
NM: Se eu não fosse uma atriz, eu teria a patologia de não ser um finalizador, seria alguém que ama o começo de uma ideia, mas raramente vê o seu fim. Como sou um atriz eu abandono os projetos depois de ter feito a minha parte, e isso funciona muito bem. Foi bem verdade neste projeto. Eu fiquei obcecada, não vi nada que não fossem de filmes espaciais, documentários, ou podcasts sobre a sociedade em Marte. Quando o projeto acabou eu fui devolvida ao meu mundo – contar histórias infantis, atender às necessidades das crianças, fazer os trabalhos de casa, multiplicações e divisões, Abadia de Northanger e o PH da urina! Consultas médicas, festas de aniversário, brincadeiras escolares e aulas de trompete. Parece muito inconsistente, mas é necessário. Quando regresso do trabalho vou continuar onde parei. O trabalho parece um luxo porque é em part time e nunca é repetitivo.
Como foi trabalhar com Sean Penn?
NM: Eu simplesmente adorei. Desde o início fiquei encantada com sua generosidade e desejo de colaboração. Não é surpreendente porque ele é muito elogiado, ele descobre o que é necessário fazer. Ele também sabe quando recuar e deixar o realizador, o criador ou o produtor executivo assumir o controlo. Ele é ótimo a imergir no trabalho que precisa fazer. É ótimo trabalhar com ele, é tão natural, e faz as coisas aparentemente sem esforço. É tudo fácil para ele. Todos sentiram o mesmo, foi uma questão unânime.
A série passa-se num futuro próximo e a tecnologia é um pouco mais avançada do que a que temos no momento. Acredita que foi uma decisão consciente seguir esse caminho, em vez da super ficção cientifica?
NM: Para o meu gosto sim, porque o mundo da ficção científica tem sido amplamente explorado. Eu gosto desse futuro viável. Da mesma forma que, se olharmos para 15 anos atrás, não estávamos a par de alguns dos avanços, porém conseguíamos imaginá-los. Sente-se que a tecnologia não esmaga as pessoas e os personagens.
Tendo em conta que não é no futuro distante, tem ideia de em que ponto do caminho estamos para que esta seja uma realidade científica? Vamos colonizar Marte?
NM: Para o público em geral, se ouvir um discurso convincente de alguém da Mars Society, pensa “Fixe! Se eles dizem que é possível, provavelmente é. Se eles investiram todos esses milhões e os privados estão dispostos a investir dinheiro nisto quando o poderiam fazer em qualquer outra coisa, deve ser possível. ”Então, quando você começa a pormenorizar e analisar, percebe a quantidade de trabalho que está pela frente. O facto de que não há oxigénio para respirar, não há água… é colossal. Por outro lado, ao longo da história fizemos coisas aparentemente impossíveis. Não há razão para não chegarmos a isso, mas não penso que seja o próximo passo. Como funciona o direito internacional? Quem decide? Nós temos uma Estação Espacial Internacional por uma razão, mas isso é relativamente recente. As nossas relações internacionais têm refletido as nossas explorações espaciais até agora.
Acredita que a Laz teria gostado de fazer a viagem sozinha?
NM: Não, penso que não. Não se vai simplesmente e pronto – a primeira missão tripulada a Marte será claramente com astronautas altamente treinados e terá levado anos para reunir todos os conhecimentos. Não é isso que ela faz; ela faz algo muito diferente. Ela provavelmente é muito boa em compartimentar, sabe quais são as suas competências, ela não é uma personagem maior que a vida, uma fantasia de um CEO todo-poderoso. Eu gosto do facto de que ela não ser particularmente articulada ou excessivamente magnética ou qualquer uma das coisas com as quais normalmente associamos a essas personagens.
Para muitas crianças, tornar-se um astronauta é um sonho. Também teve esse sonho?
NM: Não. Eu mergulharia no fundo do oceano antes de ir para o espaço. Eu estou realmente fascinada com o mundo subaquático.
A primeira temporada de “The First” já chegou à AMC, não percas a participação de McElhone, às terça-feiras pelas 22h10!