The Flight Attendant levantou voo em 2020 e já captou a atenção do streaming. Mas será que a nomeação de Kaley Cuoco ao Globo de Ouro é suficiente para manter a série?
Entrou a voar no panorama do streaming em 2020, conquistou e pelos vistos assim se vai manter! Afinal de contas, até já foi renovada para uma segunda temporada. “The Flight Attendant” é um thriller com um maravilhoso twist de humor negro, inspirada na obra bestseller de Chris Bohjalian e tem Kaley Cuoco como protagonista. Com presença assídua de Michiel Huisman, Rosie Perez ou Zosia Mamet, a série ganha muito com a protagonista mas também com as personagens secundárias.
A premissa parece relativamente simples: uma comissária de bordo conhece um homem bonito no avião, diverte-se por uma noite mas quando acorda na manhã seguinte numa cama de hotel, tudo muda! O homem morreu, ela não se lembra de nada do que aconteceu, e todo um caso que parece saído de um filme começa a perseguir Cassie, a comissária de bordo. E se a resposta que têm já pronta é que nela reside uma assassina, podemos dizer que é mentira mas… também não será fácil adivinharem quem é o responsável!
“The Flight Attendant” tornou-se uma das séries do ano de 2020 precisamente por não ser vulgar e imediata. As suas teias de mentiras e dúvidas fazem-nos querer acreditar tanto em Cassie como a querer que ela continue com os seus devaneios só para vermos uma relação amorosa florescer de uma mente retorcida onde afinal o morto está vivo e se dá conhecer. Faz sentido? Sim, se virem a série vão ver que faz. Todas as personagens são bem introduzidas ao longo dos oito episódios, o que é definitivamente um bónus já que a série é pequena, mas a história densa e de um ritmo deveras alucinante e rápido por vezes.
A protagonista é sem dúvida Kaley Cuoco, que apesar de ter aqui a oportunidade de brilhar, sentimos que é em muito auxiliada por Michiel Huisman. Atenção, não estamos com isto a dizer que ela não conseguiria sem ele, porque há muitas cenas sem ele, mas acreditamos que foi esta relação e sinergia entre os dois que ajudou Kaley a potenciar o seu trabalho. Se num momento é uma bubbly hospedeira de bordo, no outro acreditamos firmemente nela quando nos aparece como uma tresloucada quase, bêbada, e uma adulta cheia de daddy issues. E talvez por isso tenha chamado a atenção dos críticos e tenha conseguido a sua nomeação aos Globos de Ouro 2021. Não lhe tiramos o mérito, mas dado os seus últimos anos como Penny, em “A Teoria do Big Bang”, só conseguíamos realmente apontar que a rapariga tinha o seu quê de engraçada mas pouco mais que isso.
Mas a série da HBO veio precisamente ajudar a impulsionar Kaley Cuoco para outros caminhos na nossa opinião. Ok, não a vemos ainda como actriz de Óscar, mas sem dúvida que esta série lhe poderá abrir portas para novos papéis na televisão. E a ajuda não vem só da química criada com Huisman. A sua interacção com Zosia Mamet, enquanto melhores amigas, é bastante relacionável e credível dentro da narrativa, e até os seus momentos com T. R. Knight, que interpreta o seu irmão, são o que permitem conhecê-la um bocadinho melhor.
Claro que a série não se fica apenas pela história do misterioso assassinato de Alex Sokolov. Como um bom thriller, a série puxa-nos para um mundo de espiões, conspirações, máfias chinesas, ou de outras nacionalidades, advogados com esquemas e claro, o FBI e as suas missões secretas. Podemos dizer que a narrativa em si, centrada apenas em Cassie e Alex seria suficiente mas o facto de adicionarem estes pontos, e até a história paralela de Megan (Rosie Perez) a vender informações a inimigos dos EUA faz com que a teia nos deixe presos ao ecrã – porque a dada altura é inevitável pensarmos que está tudo ligado, que é uma conspiração ainda maior, e que há duplos espiões e assassinos.. enfim.. o suficiente para sermos neuróticos e neuróticas como a Cassie não concordam?
No entanto, falar do sucesso de “The Flight Attendant” sem referir o elenco secundário, e focando apenas em Kaley seria um erro. Se Kaley Cuoco e Michael Huisman nos convenceram como par romântico (sim, não sei se repararam mas ficamos rendidos a uma relação que é criada unicamente na mente de uma mulher transtornada), e Zosia Mamet e Rosie Perez nos deram provas que fizeram a diferença na narrativa, então não nos podemos esquecer dos que mais se destacaram no final. Griffin Matthews lá nos vai dando a sua piada (nunca deixando antecipar o que se revela no final da temporada), e até a dupla Merle Dandridge e Nolan Gerard Funk como polícias do FBI tem o seu interesse, mas nada bate Michelle Gomez e Colin Woodell. Ao lado de Cuoco, estes dois últimos são essenciais para o final da temporada e revelam-se um casting exímio para os papéis de assassinos e psicopatas. Não é porque tenham um look particular para este papel, mas é por toda a densidade psicológica que trazem e por se conseguirem equilibrar tão bem com o mundo de Cassie.
Contudo, é aí que está o segredo de “The Flight Attendant”, nos pequenos detalhes, no casting, nas pequenas intrigas e nos pequenos twists. Desde os polícias que andam atrás de Cassie, os assassinos que nos aparecem e que afinal são ainda mais neuróticas que a vítima disto tudo, até aos infiltrados nos aviões. Sim, a série não se destaca no mundo da televisão pela originalidade per si, contudo sem dúvida que a sua montagem e a narrativa são dois fatores de relevo para a incluirmos nas melhores séries estreadas em 2020. Afinal de contas, em apenas oito episódios, “The Flight Attendant” leva-nos por um hediondo crime, uma rede de lavagem de dinheiro e uma viagem ao passado de uma jovem adulta com uma infância problemática.
Agora, o final da temporada dá-nos a indicação de que irá existir novas aventuras para Cassie Bowden mas… será que com uma nova vida, e à partida já sem Alex Sokolov, conseguirá a série ganhar uma nova força? Ou ficará presa a uma primeira temporada que por si só poderia ficar como uma boa série no mundo da televisão?
Não se destaca no mundo das séries pela originalidade per si, contudo, sem dúvida que a sua montagem e a narrativa são dois fatores de relevo para a incluirmos nas melhores séries estreadas em 2020. O range de emoções que foi nos apresentado por todas as personagens, e a rapidez com que nos envolvemos na relação de Cassie e Alex, são decisivos para nos manter interessados ao longo de toda a temporada.
Pros
A montagem da narrativa
A montanha-russa de emoções que Kaley Cuoco oferece ao longo dos oito episódios
Quase levar-nos a ficar neuróticos com a história, ficando submersos na série
Cons
A aparente desconexão entre as histórias de Cassie e Megan, que tantas voltas deu para levar a um cruzamento no final
O facto da série nos fazer ‘apaixonar’ por uma personagem que está morta!
Fanática de cinema e séries por pura paixão, sou da geração Disney mas também das Tartarugas Ninjas, Motoratos e afins. Já passei pela obsessão de vários géneros de cinema e apesar de me considerar eclética, nada me tira o gozo de um bom filme de acção (por muito irrealista que seja). Séries também se devoram por cá, mas a magia de um filme, será sempre a magia de um filme!