The Patient, em análise
Quando o instinto é de matar, a solução poderá passar pela terapia? É neste dilema que se centra a série “The Patient”, disponível na Star+/Disney+.
Sempre fui adepta de produções que exploram a mente humana, sobretudo de serial killers, e comecei a ver esta série da FX Productions, com 10 episódios, sem grandes expectativas. Surpreendeu-me pela positiva. “The Patient”, de Joel Fields e Joseph Weisberg, é protagonizado por Steve Carell (“The Office”, “Space Force”), muito conhecido pelos seus papéis em comédias, que aqui interpreta, Alan, um psicoterapeuta solitário que está a lidar com a morte da esposa e o afastamento dos filhos, quando no seu consultório surge um jovem adulto misterioso, de óculos escuros na cara, a pedir ajuda por ter tendências homicidas.
A premissa da produção já fala por si. É difícil não ficar com a curiosidade em altas depois de ler a sinopse da série, pelo menos foi devido a essa única pista que não hesitei em clicar no play e acredito que, tal como eu, tenha sido esse o caso de muitos dos seus fãs atuais. À partida parece uma obra muito direta, sem grandes rodeios, afinal além da sinopse, o próprio título indica de forma evidente do que se vai tratar – de um paciente. É justamente sobre ele, interpretado por Domhnall Gleeson (“Ex Machina”, “Frank”), que toda a narrativa circula, mas há muito mais camadas a descobrir, além da sua personalidade e comportamento errático.
A crítica da série é escrita sem spoilers, por isso, podes ler à vontade!
Imagine-se a acordar numa cama, numa cave desconhecida, e aperceber-se que está algemado ao objeto…é assim que somos introduzidos à narrativa com Carell (Alan) a rever tudo o que se passou até chegar ali – para isso a série recorre a flashbacks, elementos que, a meu ver, são usados demasiadas vezes na história, mas sempre com o objetivo de nos aproximar do estado mental do sequestrado pelo seu paciente, ou melhor por um serial killer em busca de tratamento forçado. É neste ponto que há vislumbres da vida do psiquiatra, que perdeu a esposa, e tem uma relação distanciada dos filhos, sobretudo de um filhos devido a diferenças religiosas – ele é um judeu mais liberal, enquanto que o seu filho se tornou radical – a série aqui explora um tema relevante e faz um estudo de personagem mais intensivo, mas perde-se com repetições desnecessárias, perante o que de facto interessa descobrir, que funcionam apenas como uma manobra de aborrecimento para intensificar o suspense e a descoberta dos mistérios.
Intencionalmente a série é consciente do seu ritmo, abranda e acelera quando lhe interessa. É um malabarismo que nos deixa tontos, mas ainda assim cativados por continuar a conhecer as várias camadas destas personagens, sobretudo do serial killer que, como é óbvio, se mantém mais imprevisível e, por isso, enigmático.
Não é um exagero dizer que Steve Carell encontra neste papel dramático uma das suas melhores prestações, o mesmo ocorre com Domhnall Gleeson, com quem, de forma equilibrada, divide o protagonismo. Os atores estão simplesmente geniais e são eles que carregam o argumento às costas de cena para cena. Sem a química entre os dois, que balança de sequestrador para vítima, de uma espécie de filho para pai, dificilmente conseguiríamos ligar-nos aos temas que são abordados: saúde mental, traumas de infância, luto, violência e relações tóxicas. Há ainda a ironia de termos um especialista em terapia mental a confrontar-se ele próprio com as suas memórias e falhanços.
Carell encarna um homem experiente confrontado com a dureza da vida que, ainda assim, valoriza a simplicidade e consegue ser otimista, esperançoso de conseguir ajudar os outros, por mais que não se tenha conseguido ajudar a si mesmo – é o lugar comum de alguém que é bom a dar conselhos a outrem, mas depois não os consegue seguir – uma das grandes ironias da série.
É fácil sentirmos empatia e proximidade pela sua personagem, sobretudo por ser judeu, e muitas vezes, lembrar-se daqueles que injustamente, tal como ele, sofreram nas mãos de tiranos. Alan é humanizado ao extremo, sendo mostrado com um senso de sobrevivência sempre ativo, mas ainda assim com a necessidade de ter de manter a calma justamente para se manter são – uma contrariedade que é levada pelo ator com inteligência e expressões contidas fascinantes de observar.
Já o seu parceiro de contracena é obstinado – crê na mudança, mas não tem controlo sobre os seus instintos de matar impulsivos. A sua raiva interior e senso de controlo descontrolado não lhe permite ser diferente – a começar pela forma como escolheu ser tratado.
O ambiente claustrofóbico criado desde o primeiro episódio torna clara a intenção da série. Ficamos viciados desde os segundos iniciais e depois é só clicar em “próximo episódio” até chegar ao fim. A probabilidade de maratonar os vários capítulos é realmente elevada, não só por ser cativante, mas também porque a própria duração, sendo curta, torna-se num incentivo.
Se ainda não deram uma chance a esta série aconselho fortemente a sua visualização o quanto antes. Foi, sem dúvida, das produções que mais me surpreendeu pela positiva este ano. Está disponível na Disney Plus, na área Star +. Agradeçam-me depois.
TRAILER | THE PATIENT CONFRONTA UM SERIAL KILLER COM A SAÚDE MENTAL
Atreves-te a ver? Se já viste superou as tuas expectativas?
-
Rafaela Teixeira - 80
CONCLUSÃO
“The Patient” é uma série cativante, viciante desde o seu começo. No centro temos dois protagonistas fortes – um psicoterapeuta em perigo de vida a lidar com o luto da sua esposa e o afastamento dos filhos e o seu sequestrador, um serial killer em busca de tratamento forçado. Tem tudo para correr bem? certo? certo.
Overall
80User Review
( votes)Pros
- Premissa simples e interessante
- Interpretações geniais
- Suspense e claustrofobia
- Imprevisibilidade das ações do serial killer
- Temas relevantes que ficam após a visualização
Cons
- Flashbacks em demasia
- Estudo intensivo da personagem do Alan – subplot do filho
- Repetições complicadas de evitar
- Esperemos que não seja limitada!