TOP Filmes 2016 | 2. Quarto
Vencedor do Óscar de Melhor Atriz e com uma das melhores interpretações infantis da história do cinema, Quarto (Room), de Lenny Abrahamson é uma experiência sensível e arrebatadora das nossas emoções.
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Drama sobre o amor e a relação umbilical entre uma mãe e o seu filho de cinco anos, Quarto foi, de facto, um dos melhores projetos estreados no ano de 2016, além de ter sido nomeado a vários prémios em Hollywood e na Europa, mais recentemente no European Film Awards. Baseado na obra literária O Quarto de Jack, da autora irlandesa Emma Donoghue, também ela argumentista da longa-metragem, este filme segue os passos de Joy, nome da personagem de Brie Larson, vencedora do Óscar de melhor atriz por este tão denso desempenho. Embora totalmente criativo, não deixa de ser curioso que a trama sobre uma mulher vítima de violência e abusos sexuais, é, em alguns momentos, livremente inspirada no caso real de uma jovem austríaca mantida em cativeiro pelo seu próprio pai durante 24 anos, até a sua libertação em 2008.
No entanto, mais do que se focar numa sensação aterrorizadora de enclausuramento (mesmo que muitas vezes seja difícil de aceita-la, ela está sempre omnipresente), Quarto transforma-se numa experiência ‘delicada’ sobre o que é estar cativo a uma relação com outro. Sem ser demasiado sensacionalista, mesmo que haja uma crítica aos holofotes televisivos norte-americanos, que pretendem traçar o historial das árduas condições de vida vividas pelos protagonistas, o filme foca-se essencialmente sobre um processo de crescimento, no mínimo, peculiar e que vai ao encontro do cinema do género coming-of-age que cada vez tomado como ‘sério’ entre académicos, basta relembrar os aplausos da crítica a Boyhood: Momentos de uma Vida e mais recentemente a Moonlight (ainda por estrear em Portugal).
Consulta também: LEFFEST’15: Quarto, em análise
A narrativa de Quarto parte do ponto de vista fantasioso de Jack que pensa que o que está entre quatro paredes, num espaço com apenas 10 metros quadrados, é tudo aquilo que existe no mundo. Com muito cuidado e atenção sobre o desempenho de tão carismático Jacob Tremblay, um dos mais cativantes de toda a história do cinema, o realizador Lenny Abrahamson salienta as pequenas coisas que o jovem herói vai descobrindo. Como funcionam os seus sentidos, como funciona a sua relação com os outros seres (tanto humanos como animais) e do que é estar entre os outros. Trata-se de um eloquente exame crítico sobre a conquista das identidades em tempos contemporâneos e situações adversas. Vale a pena, por isso, prestar atenção à sequência em que Jack é confrontado pela primeira vez com o céu, no qual depreende a expansão do corpo além do terrestre, sem quaisquer fronteiras a que estava inicialmente limitado.
Certas fronteiras vão impondo-se a Joy e a Jack, numa das experiências mais transcendentes dos últimos tempos. A história delicada não deixa nenhum espectador indiferente, ao qual perceberemos como um filme pode atingir o coração e as nossas emoções. Sem ser demasiado chocante, Quarto transforma-se um espaço tanto poético, como familiar, que fará estas duas personagens se reposicionar quer social, com o transformado “mundo lá de fora”, quer intimamente consigo próprias.
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