LEFFEST’15 | Room, em análise

 

Parece que os filmes escolhidos para LEFFEST’15 não param de surpreender, Room é um (humilde) retrato do amor entre uma mãe e um filho, que apenas se têm um ao outro.

Room Título Original: Room
Realizador: Lenny Abrahamson
Elenco: Brie Larson, Jack Tremblay, Sean Bridgers, Joan Allen e William H. Macy  Género: Drama
NOS Audiovisuais | 2015 | 118 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’]

 

Room é sobre a relação entre uma mãe o seu filho, que à primeira vista poderia ser um quanto aborrecido, porém acresce o facto de ambos estarem aprisionados num quarto, ou melhor, numa cabana nas traseiras da casa do raptor Old Nick (Sean Bridgers). Ma, cujo nome verdadeiro é Joy (ironicamente, porque não é nada alegre) era apenas uma adolescente de 17 anos quando foi levada para aquele lugar horrendo, sendo vítima de repercutidas violações sexuais, das quais nasceu o seu pequeno filho Jack (Jacob Tremblay), agora com 5 anos. Para puderem sobreviver Old Nick compra no exterior os bens de primeira necessidade, mas Ma não deixa de tentar arranjar uma hipótese de fuga, decidindo colocar a vida do seu filho em risco, quando este tem de fingir estar morto.

Retrato fiel sobre como estar enclausurado a um tempo do passado, à infância, somos aprisionados ao ensinar, situação próxima à maioria das mães que assumem delicadamente essa tarefa. O miúdo (que se confunde com uma rapariga pelos longos cabelos) encontra naquele quarto muito por fazer. Quando acorda todas as manhãs, diz olá aos objetos em seu redor, que mais parecem seus amigos, brinca com a mãe, lê um dos livros – Alice no País das Maravilhas, na comparação às maravilhas oníricas do conto infantil -, e ajuda a preparar o bolo do seu quinto aniversário. Após essa tarefa, Jack começa uma típica birra de crianças, uma vez que insiste nas velas, como viu na televisão.

Room

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A partir daí, o médium televisivo tem sempre algo a dizer e vai preparando Jack para o mundo exterior, que através do pequeno ecrã, ora distingue o que é verdade ora o que é mentira. De casa para outra, parece que estamos sempre numa espécie de reality-show com a expressão de George Orwell “Big Brother is watching you” a manchar todo o filme. Sim, existe um grande irmão e digamos que é o espetador – sentados na sala de cinema somos transportados diretamente para a prisão dos protagonistas. Aliás, o realizador Lenny Abrahamson, no trabalho que é feito em conjunto com diretor de fotografia Danny Cohen, filma Room propositadamente como um home-made film.

Room

Aqui, o cinema é utilizado como denúncia à metodologia ríspida do meio televisivo, que persegue as personagens mesmo quando já saíram daquele quarto. Do ponto de vista sensacionalista, infiltra-se na nossa vida, tentando contar uma história que coloque à prova os seus intervenientes – vejamos o exemplo de Ma, que pelo nervosismo sentido na entrevista dada a um talk-show tenta suicidar-se.

Como já mencionado anteriormente, estamos no ambiente (claustrofóbico) da infância, uma vez que em Jack (re)vivemos descobertas que também nós inocentemente tivemos que fazer. No exterior, somos obrigados a crescer e lidar com outros problemas, mas paradoxalmente sem essa realidade não poderia existir sétima arte, que a torna em algo de mágico. Tal como Jacob, olhamos para o céu, colocamos os pés descalços no chão e evitamos cruzar o olhar com o dos outros.

No ano passado estes dois pontos foram também mostrados por Em Parte Incerta, de David Fincher e por Boyhood: Momentos de uma Vida, de Richard Linklater, respetivamente – sendo perceptível como serviram de influência para Room.

Room

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Room é arrebatador das nossas emoções, colocadas à flor da pele e serão necessários muitos adjetivos para caracterizar as maravilhas do seu mundo. Este asfixiante projeto não apenas oferece um retrato fiel do que é ser mãe e em simultâneo ser adulto, num dos melhores desempenhos do ano – Brie Larson a ganhar foco no cinema americano, após o papel que a lançou em Temporário 12 -, como também nos coloca de caras com a extraordinária metamorfose de Jacob Tremblay que, embora sejam raras as situações, pode muito bem ser nomeado ao Óscar de melhor ator secundário – afinal o filme é dele, sobre ele, mas para todos nós.

No momento derradeiro, no final da projeção, além de saírmos com o incontrolável desejo de abraçar a nossa mãe, o empurrão para a realidade causa uma estranha dor de cabeça, um conflito interno profundo e intenso…talvez porque saímos tão rapidamente daquele espaço confinado sem que pelo menos lhe pudéssemos dizer adeus.

Para saberes mais sobre as várias secções desta edição do Lisbon & Estoril Film Festival, consulta o LEFFEST’15 | Programa completo.

VJ

 


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