Top guarda-roupas da TV | 08. Penny Dreadful

Penny Dreadful é uma delícia para qualquer fã de narrativas de terror, especialmente a um nível visual, em parte, devido aos magníficos figurinos de Gabriella Pescucci.

 

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No género de entretenimento de terror, muitas vezes os figurinos são menosprezados como um elemento dramatúrgico, em prol da cenografia e caracterização, ou então são estilizados de tal modo que qualquer base histórica se torna em apenas uma mera sugestão. Curiosamente, Penny Dreadful segue uma abordagem imensamente diferente, com os figurinos de Gabriella Pescucci a recriarem a moda da década de 1890 com uma impressionante atenção ao detalhe, ao mesmo tempo criando exímios discursos visuais para cada personagem.

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Penny-Dreadful-Dorian-Angelique

Penny-Dreadful-Dorian-Lily
Penny-Dreadful-Hecate

Penny-Dreadful-Josh-Hartnett

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Os figurinos de Eva Green no papel de Vanessa, por exemplo, são um sonho de reprodução das modas do século XIX com um maravilhoso toque de negrura gótica. Apesar de escuras e maioritariamente monocromáticas, as suas roupas são sempre ricas em luxuriantes detalhes, e criadas em luxuosos materiais, a não ser em momentos específicos da narrativa, onde uma maior fragilidade ou conforto se manifesta no seu vestuário tipicamente vitoriano.

No entanto, a grande estrela da segunda temporada é a diabólica e vaidosa Mrs. Poole, uma visão de sobriedade e elegância vitoriana que esconde a selvajaria da sua magia e devoção demoníaca. As suas servas e filhas, quando vestidas nas suas vestimentas de bruxas, lembram uma versão de pesadelo das figuras femininas de inúmeras pinturas pré-rafaelitas.

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Penny-Dreadful-Timothy-Dalton

Penny-Dreadful-Patti-LuPone

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Em alguns dos melhores episódios, como aquele dedicado à relação de mestra e aprendiz entre Vanessa e a personagem de Patti Lupone, a iconografia inspirada no visual clássico do cinema de terror de outros tempos é impressionantemente injetado no discurso estético de Penny Dreadful. A imagem de Poole e duas das suas filhas, encapuzadas em silhueta contra o céu noturno, com a carcaça de uma árvore moribunda a rasgar o fundo é um perfeito e inesquecível exemplo da gloriosa construção da atmosfera desta série, onde figurinos, cenografia e fotografia constroem um dos mais tenebrosamente belos programas da televisão contemporânea.

Outro momento de puro prazer visual é o sensacional baile de Dorian Gray, onde quase todas as personagens da temporada se reúnem. Esta festa é uma verdadeira orgia de esplendor vitoriano, onde Vanessa enverga um vistoso vestido escarlate ao invés do preto que tanto a caracteriza, como que em antecipação da chuva sangrenta que se abate sobre os convidados das festividades numa das mais ensandecidas visões alucinatórias de todo o ano televisivo.

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Penny-Dreadful-Vanessa-Victor

Penny-Dreadful-Temporada-2

Penny-Dreadful-Nightcomers

Um dos maiores prazeres de Penny Dreadful devém do seu uso da era vitoriana como pano de fundo, que traz uma sublime dimensão à série que, para além de ser uma história de terror gótica, se torna numa subversão e exploração dos valores característicos da moralidade vitoriana. Por exemplo, para Lily, o monstro feminino de Frankenstein, os espartilhos da era são um símbolo de subjugação feminina, enquanto para Angélique, a amante transgénera de Dorian Gray, esses mesmos elementos da roupa feminina vitoriana são um veículo para a sua liberdade e expressão da sua verdadeira identidade.

Mas não são só as normas da moral vitoriana a serem subvertidas nesta série, mas também as convenções do próprio legado de cinema, televisão e literatura de terror. Isto nunca é mais claro que no uso do branco nos figurinos da segunda temporada. Em Penny Dreadful, as cores escuras são imensamente predominantes, refletindo as sombras e mistérios do seu enredo, mas curiosamente parecem também transmitir um certo conforto depois de algum tempo passado neste mundo. O branco, por outro lado, torna-se símbolo de memórias de vidas passadas que levam à loucura, de visões de felicidade inalcançável produzidas por Lúcifer e de uma ímpia perfeição física que é tão pérfida quão sedutora.


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Tanto a um nível narrativo como dramatúrgico, os figurinos de Gabriella Pescucci são essenciais para o sucesso de Penny Dreadful, sendo uma parte fulcral da sua tenebrosa e hipnotizante atmosfera.


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