Toro Y Moi conquista o país com alguma paz e muita energia

Fomos ouvir Toro Y Moi no Lisboa ao Vivo e vê-lo ao Hard Club. Em palavras e fotografias, eis a nossas memórias do inesquecível regresso de Chaz Bear a terras lusas.

Chegámos ao Lisboa ao Vivo trinta minutos antes da hora marcada para o começo do concerto do Toro Y Moi, promovido pelo Gig Club, o que deu tempo para percorrer aquele espaço tão estranhamente pequeno e insuspeito, assim vazio. Sobre o palco, ainda envolto na sombra, repousava já um complexo sistema de bateria. Um prato de efeito Spiral Trash atraiu-nos logo o olhar e ali mesmo, encostados à grade de metal, aguardámos numa certa impaciência o início do concerto.

Metade da sala estava ainda por ocupar quando, discreta, quase impercetível, subiu ao palco uma rapariga, que parecia saída da plateia. Surgiu acompanhada do “Jonathan” que se dirigiu imediatamente à bateria. Um som flutuante ressoou na sala. A bateria entrou de seguida, conferindo àquele imaginário aéreo uma batida fortemente marcada. Erika de Casier, mantendo o microfone no suporte, encarava o público com um sorriso envergonhado, enquanto numa voz ténue e hipnotizante, nos transportava lentamente para a paisagem oceânica, projetada atrás de si.  O aspeto jovem e tímido gerou, desde o início, uma empatia com o público, que a saudou efusivamente no final da primeira música.

Erika de Casier
Erika de Casier no Hard Club, Porto 23.05.19 (@ Ana Ribeiro)

A voz ia ganhando, sucessivamente, destaque, uma voz lenta e aguda, que cada vez mais aliada à batida rítmica, nos trouxe temas como “Photo of You” ou “Good Time”. Em certo ponto, o cenário sonhador e romântico foi substituído por uma descida à realidade. O “you” permaneceu, mas agora numa voz reivindicadora, Erika enfrenta-o num ritmo mais acelerado: “What you wanna do?” Já liberta da imobilização do microfone fixo, dança desprendida com uma energia contagiante. Depois de nos ter apresentado o seu novo álbum praticamente todo, Erika agradeceu o entusiasmo do público, confessando-se muito agradecida por abrir o concerto do Toro Y Moi.

Com esta despedida, o palco voltou a cair na escuridão e as luzes da sala acenderam-se novamente. Ainda absortos nesta atuação inesperada, olhámos à volta e reparámos, de repente, que a sala se enchera. Toro Y Moi, exortado já antes de entrar em palco, demorou-se ainda. No palco ocorriam vários preparativos: a montagem do teclado, do sintetizador, e até mesmo a remoção do fantástico prato Spiral Trash, mantendo-se, claro, a restante bateria.

O público, jovem e distraído, ia-se entretendo nas suas conversas, mas bastou a silhueta de Toro Y Moi assomar no fundo do palco, para que os olhares, os gritos e mesmo os braços, todos convergissem na sua direção. Um grupo de quatro rapazes assumiu as suas posições: teclas, baixo, bateria e à frente, com o seu teclado sintetizador, Chaz sorriu alegremente. Sem mais demoras “Mirage” começou. Aquele primeiro minuto e meio, sem voz, soou intenso. Chaz, concentrado, não fitava o público que, atento, seguia cada movimento seu. Quando, no final da canção, Toro Y Moi nos saudou – “How you doin’?” -, um grito entusiasmado serviu de resposta.

Toro y Moi
Toro Y Moi no Hard Club, Porto 23.05.19 | @ Ana Ribeiro

Seguiu-se novo tema de Boo Boo, álbum de 2017, mas foi às primeiras notas de “Ordinary Pleasure” que a audiência se soltou completamente, tanto nas palmas motivadas por Chaz, como no domínio total da letra da canção, chegando mesmo a substituir o cantor naquele momento mais trauteante, tão conhecido. Público novo e divertido, sentia a pulsação daquelas músicas e dançava ao seu ritmo. Tinham esperado para ver o Toro Y Moi e agora aproveitavam, sem guardar nada para depois.

Ele, de calças e camisa largas, enchia as medidas. Por vezes, com o sintetizador, abstraía-se daquela massa irrequieta que o contemplava e, a marcar a batida com o pé e a cabeça, soltava frases dispersas para o microfone. No momento seguinte, de microfone e fio na mão percorria o palco de uma ponta à outra, a dançar com tal energia e rapidez que chegava mesmo a correr e a saltar. Apesar de limitados pela falta de espaço, tentávamos acompanhá-lo, cantando com ele quando se inclinava à beira do palco, ou quando desceu para saudar os felizardos da frente com um high-five. A excitação da plateia foi sempre crescendo, atingindo níveis um tanto elevados por parte de alguns elementos femininos, não obstante a sua dificuldade em pousar o telemóvel e deixar-se levar pela massa humana que ondulava em sintonia.

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Em cima do palco, estavam também os outros três músicos, cada qual absorvido no seu instrumento. Menos frenéticos, não passaram contudo despercebidos. Sobressaiu o seu virtuosismo e Toro Y Moi não deixou de os elogiar.

Não houve momentos de pausa, nem para o Toro Y Moi, nem para o público bem instruído na sua música. Houve apenas momentos de clímax. Conseguia-se perceber que algo de grande se aproximava quando Chaz Bear abandonava o sintetizador, substituindo-o o baixista, pegava no microfone e colocava-se na ponta do palco. “Freelance” foi assim. O público aderiu à canção assim que adivinhou a sua vinda e conseguiu mesmo prolongá-la. A luz acendia e apagava acompanhando o ritmo marcado pela bateria, o cenário não podia ser mais envolvente.

Homem de poucas palavras, Toro y Moi relembrou que já não tocava em Lisboa há cinco anos. Soltou alguns “obrigados” entre canções e no final agradeceu a adesão total do público, lançando algumas “ofertas”, entre elas o alinhamento do concerto, que por pouco era nosso. A nossa fotógrafa portuense, Ana Ribeiro, também não teve sorte no Hard Club, pelo que a MHD permanece sem outras relíquias que não as memórias de duas noites inesquecíveis. Talvez daqui a cinco anos, com mais dois álbuns em cima e a mesma incansável energia. Se bem que o público fez de tudo para apressar as coisas. Com sorte, para o ano há mais.

TORO Y MOI + ERIKA CASIER | HARD CLUB, PORTO 2019

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